Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 14 de março de 2009

Sex Drive – Rumo ao Sexo

“Sex Drive – Rumo ao Sexo” traz mais do mesmo e tem todos os ingredientes necessários para os fãs de comédias apelativas adolescentes caírem em boas gargalhadas. Nada mais, nada menos. Aos que abominam tal tipo de produção: corram!

“American Pie”, “Caindo na Estrada”, “Passaporte para Confusão”. O que esses filmes têm em comum? A resposta óbvia é: jovens sedentos que passam por milhares de confusões para, unicamente, fazer sexo. Muitos reclamam de história zero, de apelação gratuita, mas a verdade é que esse tipo de filme sempre tem seu público (mesmo que na faixa etária semelhante a dos personagens) cativo. Seguindo a mesmíssima linha, chega esse “Sex Drive – Rumo ao Sexo”. Mais um longa descartável do estilo? Sem dúvidas, mas que certamente irá arrancar uma boa diversão das pessoas que vão às salas de cinema preparadas para o que irão ver.

A “trama” apresenta o adolescente Ian (Josh Zuckerman), um jovem desengonçado e sem jeito com mulheres que mantém contato com uma garota que conheceu na internet. Após boas provocações virtuais da moça, ele decide viajar de Chicago para Knoxville para perder sua virgindade. Como nem tudo é tão simples, acabam participando da viagem seu melhor amigo Lance (Clark Duke) e Felicia (Amanda Crew), sua melhor amiga, por quem mantém uma paixão secreta.

Como é de se imaginar, a história toda não passa de desculpa para a série de gags grosseiras que estão por vir. É bom frisar que este longa não economiza nem um pouco no apelo escatológico, usando e abusando de palavrões, cenas de sexo, órgãos genitais, mulheres nuas como meros objetos de possessão masculina e até mesmo indução de excrementos. Recursos usados em exagero, que deverão agradar apenas aos cabeças-de-vento que curtem uma boa “loucura” (para não dizer uma palavra mais pesada) nas telas.

Mesmo assim, há de se convir que o longa possui seus bons momentos cômicos, que farão certamente os admiradores do estilo tratar o filme com admiração. Afinal, o estereótipo do nerd estranho que a maioria das garotas só querem distância está lá, e tudo o que se pode imaginar de errado que possa acontecer com ele, acontece em dobro. Do jeito que pimenta nos olhos alheios é colírio, o que não faltam são situações bizarras e, ao mesmo tempo, divertidas. Vê-lo junto a seus amigos tentando consertar um carro através de urina (?!), tendo uma ereção durante uma palestra sobre abstinência, além do já conhecido momento da advertência policial ao “Donut armado” (cena repetida em exaustão nos trailers), certamente garantirão boas gargalhadas.

“Sex Drive – Rumo ao Sexo” até que vai além e tenta criar piadas um tanto mais complexas, mais precisamente relacionada a comunidade amish. Lá, não só o humor visual está presente, como há uma explícita ironia a infinita hipocrisia humana. O mesmo se aplica ao destino do personagem Rex (James Marsden), o valentão irmão do protagonista. Piadas relacionadas ao monopólio da internet, principalmente com a influência da “geração Youtube”, são muito bem encaixadas, representando bem o quão mais fácil ficou nos dias de hoje para simplesmente tirar sarro de alguém. Esses pequenos detalhes acabam por dar uns créditos extras a produção, deixando-a longe se ser um produto de todo descartável.

Tendo a garantia de umas apelações aqui e uns risos acolá, o que acaba ficando em último plano é o roteiro dos fracos estreantes Sean Anderson (que por sinal, também estreia na direção) e John Morris. Os furos estão presentes aos montes, por exemplo: Ian vive se queixando do fato de ainda ser virgem e quando ele tem em várias ocasiões a oportunidade de perder tal fardo (diga-se de passagem, com mulheres estonteantes), ele quer se mostrar um homem sério, disposto a conquistar o grande amor de sua vida. Ao mesmo tempo em que dispensa as belas mulheres para buscar seu amor, ele resolve viajar quilômetros e quilômetros a fim unicamente de sexo casual, sem compromisso. Ahn? Há também a cena do sacrifício do gambá, claramente roubada da cena da vaca de “Eu, Eu Mesmo & Irene”, que não só é ridícula como em nada acrescenta à narrativa. E convenhamos, aquela trama da “paixão pela melhor amiga” é mais do que batida e todos sabem perfeitamente o desenrolar.

O que pode fazer o longa ganhar a simpatia do público é o carisma do elenco em geral. Josh Zuckerman não só tem cara de reprimido, como transmite bem o ar inocente e engraçado do personagem principal. Clark Duke, apesar de ser gordinho e usar óculos, passa bem a moral que exige o desenrolado Lance, usando suas características físicas como um interessante contraponto às atitudes. Amanda Crew é bela e tem o biótipo perfeito da "mulher bonita, mas que nem sempre chama a atenção dos homens”.

Mas os grandes destaques mesmo vão para os coadjuvantes: Seth Green rouba a cena como o amish Ezekiel, trazendo consigo um personagem não só cômico, mas principalmente complexo por suas ideologias desencanadas com a vida. Certamente, um ponto extra na nota final da crítica se deve a sua frase “não quero dinheiro, meu dever é mesmo reparar as mer*** que vocês fazem por aí”. Já James Marsden está bastante diferente do normal ao encarnar um personagem jovial e rebelde, longe da imagem de homem certinho a que estamos acostumados em outras produções (na certa com intuito de mostrar alguma versatilidade). O agravante é o excesso de expressões exageradas, claramente inspiradas no personagem Steve Stifler, vivido por Seann William Scott, na franquia “American Pie”.

Na falta de comédias que misturem com eficiência a inteligência ao apelativo (especialidade de Judd Apatow), “Sex Drive – Rumo ao Sexo” acaba se mostrando mais um exemplar que deve garantir bons risos ao seu público-alvo e depois cair no esquecimento. Pelo menos, ela se mostra bem melhor do que a série de continuações desnecessárias que surgem por aí, como “American Pie 4, 5, e 6” e “O Dono da Festa 2”. Se este tem seu valor, mesmo que pequeno, é bom que não dêem continuidade para não perdê-lo.

Thiago Sampaio
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