Cinema com Rapadura

OPINIÃO   domingo, 23 de novembro de 2008

Estranhos, Os

Com grande atraso desde a estréia nos Estados Unidos, “Os Estranhos” chega aos cinemas brasileiros com a premissa de um filme baseado em fatos reais. Esse e outros truques do estreante Bryan Bertino revelam-se eficazes para assustar a platéia.

No início da projeção, os espectadores são avisados que os fatos mostrados a seguir são inspirados em fatos reais: crimes que aconteceram na casa de veraneio da família Hoyt em fevereiro de 2005. Outro dado é acrescentado sobre o número de crimes violentos ocorridos anualmente em território americano. Truque número 1 do diretor, afinal a violência real é muito mais assustadora do que fantasmas que saem de dentro da TV. A cena do crime é encontrada por duas crianças que relatam o que vêem para a emergência. Truque do diretor número 2: o espectador imagina o que virá pelos próximos 85 minutos.

Na noite anterior, o casal Kristen McKay (Liv Tyler) e James Hoyt (Scott Speedman) está voltando do casamento de uns amigos. O clima tenso entre eles (mais tarde saberemos o porquê) é sentido também pela platéia que espera pelos acontecimentos daquela trágica noite a qualquer momento. No entanto, o filme se desenvolve como um drama de relacionamento até o fim do primeiro ato, quando uma batida na porta às quatro da manhã os assusta, mostrando uma desconhecida que procura por uma pessoa que não mora ali (Truque do diretor número 3).

Ignorando o estranho ocorrido, James sai para comprar cigarros para Kristen. É aí que novos fatos têm início e três sujeitos começam a assombrar o casal, ao que parece pelo simples prazer de fazê-lo, como em “Violência Gratuita” de Michael Haneke. A partir daqui, a direção do estreante Bryan Bertino (que também assina o roteiro) muda de tom. Antes, a câmera na mão focando sempre as partes e raramente o todo tornava o incômodo dos dois protagonistas em cena quase palpável. Quando do início dos ataques, Bertino não decepciona e vai criando uma tensão cada vez mais crescente até o clímax, mas o infelizmente o faz através dos maiores clichês do gênero.

Sobe-som, balanço de parquinho infantil enferrujado, momentos assustadores ao som de músicas alegres e bonitinhas, vilões mascarados, celeiro abandonado, machadadas na porta etc. Tudo está lá. Justiça seja feita, o diretor fez uma ótima marcação de cena com os atores e garante momentos interessantes de suspense onde o silêncio (Truque do diretor número 4) é o elemento principal. A montagem a cargo de Kevin Greutert foi outro ponto importantíssimo para o clima criado.

Liv Tyler já que estrelou comédias, comédias românticas, filmes tragédia, épicos e adaptações de quadrinhos, desta vez empresta sua voz sussurrante e cara de choro a um thriller. O rostinho bonito e os gritinhos lhe caíram bem para o papel da mocinha em perseguição. Seu companheiro de cena, Speedman, é mais conhecido pelo papel na série “Felicity” e faz um par eficiente com a atriz.

Voltando agora à mensagem exibida no início do filme. Os mais atentos logo perceberão que os eventos jamais poderiam ter acontecido da forma que narrados. “Os Estranhos” conta da maneira que bem entende os crimes que aconteceram naquela época e funciona como uma espécie de refilmagem do francês “Eles” (2006), de David Moreau e Xavier Palud.

Usando e abusando dos clichês, o filme de Bertino cria uma atmosfera tensa no público, mas tem um roteiro fraco. Em cartaz nas salas do país, a melhor opção para os amantes do gênero ainda parece o espanhol “[REC]”.

Igor Vieira
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