Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 13 de setembro de 2008

Mamma Mia!

O famoso musical da Broadway composto por canções da banda ABBA finalmente chega aos cinemas trazendo, acima de tudo, diversão. Além disso, "Mamma Mia!" também comprova a versatilidade e o talento inquestionável de Meryl Streep.

Filmes musicais não são bem vindos a todos os espectadores comuns de cinema. É um gênero que ou você ama ou odeia. Para alguns, é algo anormal começar a cantar suas emoções entre uma fala e outra. Além de ser enjoativo para quem não quer ver performances musicais no cinema, muitos ainda associam o gênero a uma falência da indústria cinematográfica, quando na verdade cada vez mais os musicais tendem a invadir o mercado. Durante a exibição de "Mamma Mia!", presenciei um fato único entre os tantos musicais que já assisti no cinema: nenhum espectador saiu da sala antes do filme terminar. Entretanto, alguns indecentes que sentaram na minha frente se lamentavam ou riam quando cada canção era proferida. E mais: ainda julgam o filme de ruim, quando na verdade ruim é aquele que não vê que é filme musical e, sabendo que não gosta, vai assistir só para sair por aí reclamando do que não tem noção.

Um dos musicais mais famosos da Broadway, "Mamma Mia!" cedo ou tarde ganharia os holofotes cinematográficos. Após vários filmes sucessos de público e crítica que saíram dos palcos e invadiram as telonas, como "Hairspray", "Dreamgirls" e "Sweeney Todd", agora o público pode se descontrair com os hits do grupo sueco ABBA, que tanto agitaram as paradas de sucesso entre os anos 70 e 80. Na trama, Sophie (Amanda Seyfried) está prestes a casar aos 20 anos. Ela mora na Grécia com a mãe Donna (Meryl Streep), e cresceu sem conhecer o pai. Sonhando em ter um casamento tradicional onde entra na igreja ao lado do pai, Sophie descobre três homens que podem ser o dono do posto. Ela os convida para o casamento, achando que vai reconhecer o verdadeiro pai ao encontrá-lo. Porém, as coisas não saem como planejadas e a situação ainda deixa Donna de pernas para o ar.

De "Dancing Queen", passando por "Chiquitita" e "The Winner Takes It All", as músicas do ABBA ganham as belas interpretações do elenco de peso dirigido por Phyllida Lloyd, mesma diretora da versão da Broadway. Antes que aconteçam comparações equivocadas, o recente "Across The Universe" tentou se aproximar da idéia de "Mamma Mia!", mas usando as músicas dos Beatles como motivador de um filme que não passa de uma compilação de vídeos e que, como drama musical, não funciona completamente. Já "Mamma Mia!" sabe como criar uma história deliciosa. O longa esbanja a beleza da Grécia, tem carisma do início ao fim e, o mais importante, não faz questão de esconder que não procura imagens luxuosas, mas sim a perfeição que reside naquilo que, a priori, pode parecer equivocado.

Ao contrário dos belíssimos "Moulin Rouge" e "Chicago", "Mamma Mia!" dispensa as roupas refinadas e cenários grandiosos, optando pela simplicidade de locais e figurinos que chegam a ser sem graça, mas que, para o objetivo da trama, se encaixam perfeitamente. Está claro que o longa não segue uma estética absurdamente bem elaborada, mas é isso que faz o diferencial de "Mamma Mia!". Os momentos que podem parecer bregas acabam se tornando geniais, principalmente por percebermos que o elenco e a produção acreditam que tudo aquilo tem seu valor. Aliás, é possível perceber que os atores se divertiram a cada tomada filmada, tendo a liberdade cênica de se desprender e render momentos graciosos.

O brilhantismo de Phyllida Lloyd, em sua primeira investida no cinema, está em levar o musical original, que particularmente eu acho fantástico, a uma nova mídia que tem uma linguagem diferenciada. Nas telas, o musical ainda não abandona alguns recursos teatrais, como o exagero e as atuações explosivas, e isso cria um saudosismo interessante. Ninguém melhor do que Lloyd para conduzir no cinema a história que conhece por completo e, obviamente, não teria como tirar a qualidade daquilo que já é por si realmente agradável. No cinema, a competência de grandes estrelas esbanjam simpatia e carisma.

Meryl Streep dispensa comentários. Sem dúvidas, ela é a maior e melhor atriz do cinema atual. Streep tem uma competência monstruosa e a cada aparição cativa mais o público. Sua voz delicada ganha força quando precisa se impor em um momento mais dramático, e nada é mais delicioso do que ouvi-la cantando. E que fique bem claro o talento vocal dela, que não pôde ser mostrado em "Evita" depois que a Madonna tomou o papel que já era de Streep. De qualquer forma, foi melhor assim, porque agora é o momento certo para Streep demonstrar que, com uma carreira fantástica na bagagem, ainda consegue dar seu toque em cada novo papel que lhe é oferecido. E cantando, ah!, ela é simplesmente maravilhosa.

Ao lado de Streep, os veteranos Pierce Brosnan, Colin Firth e Stellan Skarsgard sustentam o bom nível do elenco, principalmente pela voz charmosa de Brosnan e a graça estereotipada de Firth. Amanda Seyfried vive uma Sophie doce, mas que passa por uma atuação um pouco irregular, principalmente na performance das músicas. Mesmo assim, a moça não faz feio e talvez comece a ganhar mais espaço em Hollywood. Ao seu lado, Dominic Cooper serve de galã para a história e suas pequenas aparições são sempre bem vindas.

Quem merece destaque no elenco é Christine Baranski e Julie Walters, interpretando Tanya e Rosie, talvez as duas personagens mais carismáticas do musical original. Particularmente, eu receava que no cinema elas perdessem espaço, mas Baranski e Walters interpretam com vitalidade e simpatia as personagens. Elas estão tão boas que chegam a sustentar sozinhas os momentos em que o elenco principal não está em cena, mais precisamente durante a performance de "Does Your Mother Know" e "Take a Chance On Me".

"Mamma Mia!" é um filme que pode ser injustamente massacrado por seu caráter oitentista e seus exageros em cena, mas não deixa de ser um belíssimo exemplar do que ainda pode ser construído de bom em Hollywood. Buscando uma diversão rápida com canções um tanto quanto fora de moda, o longa conquista pela harmonia dos atores e a capacidade em divertir do começo ao fim. Uma dica: se não gosta de musicais, para quê assistir? Melhor ler um livro, talvez. Porém, aqueles que se despirem de qualquer conceito errôneo sobre o gênero e deixar se levar pela música, certamente terão bons momentos na Grécia.

Diego Benevides
@DiegoBenevides

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