Cinema com Rapadura

OPINIÃO   segunda-feira, 09 de julho de 2007

Harry Potter e a Câmara Secreta (2002): divertido, mas muito longo

Depois do sucesso e da febre mundial que surgiu com “Harry Potter e a Pedra Filosofal”, o segundo livro escrito por J.K. Rowling é levado às telonas mais uma vez pelas mãos do diretor Chris Columbus, que ainda mostra-se um pouco instável nas opções que faz de registro de algumas cenas. Mesmo assim, graças ao livro, consegue despertar a curiosidade do público, apesar dos 161 longos minutos de projeção.

Tendo voltado para a casa dos tios após o primeiro ano de estudos em Hogwarts, Harry Potter mostra-se um tanto preocupado por não ter recebido nenhuma correspondência de seus amigos durante as férias. Durante uma das recriminações que o Tio Valter e a Tia Petúnia fizeram com o pequeno bruxo, surge Dobby, um elfo doméstico que tenta convencer Harry a não voltar para Hogwarts, prevendo que algo terrível está para acontecer. Depois de fazerem muito barulho e atrapalharem o jantar dos tios, Harry é trancafiado em seu quarto, com direito a grades de ferro e tudo mais. Entretanto, os irmãos Weasley chegariam logo para resgatá-lo da vida “trouxa” que leva. Descobrindo a agitada vida da casa dos Weasley, os garotos recebem os convites para retornarem a Hogwarts, mas antes, visitam o Beco Diagonal para fazer a compra do material escolar. Lá, Harry encontra Hagrid e Hermione, além de Draco e seu pai Lucio Malfoy, e o escritor Gilderoy Lockhart.

Depois de perderem o trem para Hogwarts, os bruxinhos voltam à ativa, orientados por professores como a Professora Sprout, que ensina os usos das mandrágoras, e o novo professor de Defesa Contra a Arte das Trevas, o galante Gilderoy Lockhart, o mesmo encontrado no Beco Diagonal. Em um belo final de noite, Harry começa a ouvir uns estranhos sussurros e encontra uma mensagem escrita com sangue em um dos corredores do castelo, avisando que a Câmara Secreta havia sido aberta e traria sérios problemas para Hogwarts. Agora resta a Harry, Hermione e Rony desvendarem o que a Câmara esconde e tentar proteger os inocentes e os alunos da escola. Além disso, várias habilidades de Harry serão descobertas e um intenso mistério que envolve presente e passado transportam os heróis a uma aventura com direito a aranhas gigantes e cobras assustadoras.

As histórias de J.K. Rowling conseguem obter um resultado estrondoso, independente do modo em que é levado ao cinema. Por mais que haja reclamações quanto às adaptações do livro para as telonas, a essência da história tem conseguido amarrar um enredo responsável que lida com diversas cartas para atrair a atenção, além dos eventuais personagens carismáticos. Uma das diferenças mais notáveis em relação ao filme anterior está justamente no tratamento da maturidade da película. O primeiro assumiu a inocência do livro e mostrou uma história mais preocupada em amarrar o público pela simpatia, mostrando um mundo mágico que muitos queriam estar. Em “A Câmara Secreta”, as aventuras de Harry Potter e seus amigos já começam a se ambientar no lado obscuro da magia, trazendo vilões e monstros realmente assustadores. Com esse caráter sombrio, a trama ganha uma consistência que se mistura aos mistérios de Hogwarts e do vilão Voldemort.

Por mais que haja um cuidado maior em enquadrar as características dos personagens na função de bruxos e apresentar uma aventura de tirar o fôlego, o filme acaba pecando justamente pelos excessos. O diretor Chris Columbus continua retratando com maestria o (não tão) maravilhoso mundo de Hogwarts, mas se perde quando q questão são detalhes necessários para o bom andamento da trama. em alguns momentos, a história se fragmenta, mas sempre volta a se recuperar, já que é capaz de envolver o público a qualquer momento. Os atos estendidos provocam uma leve fadiga em determinados atos e Columbus se perde no registro do jogo de Quadribol, aparentando inexperiência e falta de vontade em demonstrar um dos aspectos mais queridos pelos fãs. Como se não bastasse, Columbus erra a mão também no tratamento de alguns personagens, não extraindo toda a vitalidade que alguns viriam a exercer na trama. Os erros de continuidade e cortes alarmantes também enfraquecem a estética da película.

Mesmo assim, o roteiro adaptado por Steven Kloves nos dá oportunidades de mexer com várias sensações possíveis, desde o enjôo de Rony ao vomitar lesmas, às aventuras dentro da Câmara Secreta, mostrando o Basilisco como um animal extremamente assustador e pondo Harry Potter em situações que não o deixam como coitadinho, mas como um bruxo corajoso capaz de quebrar quais regras forem para trazer paz para a escola e estar com seus amigos ao lado. Acompanhada de uma trilha sonora um pouco semelhante a do filme anterior, a produção traz novos temas musicais que se integram adequadamente à trama. As atuações começam a evoluir e parecer mais espontâneas. Harry, Hermione e Rony conseguiram em pouco tempo tornar-se ícones da indústria cinematográfica atual e tal status vitaliza a interpretação de cada um. É uma responsabilidade que precisa ser mantida até o último filme, inclusive mostrando as alterações de personalidade e amadurecimento como adolescente. Daniel Radcliffe pareceu mais determinado a ser um símbolo do cinema, Emma Watson não deixa de conquistar pela inteligência e sorriso cativante, e Rupert Grint com seus tiques continua divertido. Richard Harris interpreta Dumbledore pela última vez, já que morreu uma semana após o lançamento mundial do longa. Uma perda que deixará marcas na franquia.

A equipe de efeitos especiais melhorou consideravelmente, visto que alguns dos efeitos de “A Pedra Filosofal” deixaram a desejar. Em “A Câmara Secreta”, nem tudo está devidamente bem posicionado, mas as reproduções do Basilisco e a grandiosidade que o castelo de Hogwarts passa para o espectador estão de encher os olhos. A partir do momento que os detalhes começarem a ganhar um destaque maior quanto ao investimento de efeitos especiais, a produção ganhará um aspecto impecável. O mesmo vale para a fotografia, que poderia ter sido mais ousada, aproveitando os momentos dark, bem como os de descontração dos personagens. Mesmo assim, este é um dos aspectos bem relevantes a este longa.

A pottermania iniciada em 2001 ganha uma seqüência um pouco superior ao primeiro longa, porém ainda erra a mão em alguns segmentos. De qualquer forma, “A Câmara Secreta” acerta em envolver o espectador em um clima de mistério, que acaba revelando-se um ciclo para os personagens e para a história em si. O único problema neste sentido é que, se visto por segundas ou terceiras vezes, o longa fica destinado a enfadar mais rapidamente, o que não temos nas outras produções da franquia. Um filme básico que acrescenta pimenta na saga Harry Potter e deixa com um gostinho de querer mais e mais aventura.

Diego Benevides
@DiegoBenevides

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