Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sexta-feira, 04 de maio de 2007

Noviça Rebelde, A

Um legítimo representante da época áurea dos musicais hollywoodianos, que para alguns parece ter perdido o sentido, mas continua agradando e ganhando muitos fãs que o assistem com os olhos de hoje.

Existe muita controvérsia no que diz respeito ao gênero musical no cinema. Outrora bastante populares, esses filmes nem sempre são apreciados se inseridos diante do estilo de produções que costumamos ver hoje em dia. Os musicais representam, primeiramente, um símbolo do tempo em que a tal "magia do cinema" era facilmente encontrada em histórias pueris, sem tanta densidade, mas que conseguiam agradar quase unanimemente. Dentro desse quadro, nem sempre é tão fácil analisar um musical com os quesitos que costumamos levar em conta. Até mesmo os chamados "musicais modernos" como "Moulin Rouge", "Chicago" e "Rent – Os Boêmios" têm outro formato, se compararmos com clássicos como "Cantando na Chuva", "O Mágico de Oz e "Noviça Rebelde" – este último, objeto dessa crítica.

Apesar de tudo, ainda existe quem aprecie a essência original dos musicais e consiga, de fato, adentrar a atmosfera de fantasia e, por assim dizer, de inocência tão presente nestas produções. É com esses olhos que as considerações serão feitas, pois apenas através dessa forma de análise a proposta do filme pode ser captada e devidamente absorvida.

Amantes do cinema ou não, quem nunca ouviu falar de "A Noviça Rebelde"? Seja apenas por ouvir falar ou através das inúmeras paródias e reproduções já feitas, certamente muita gente já foi apresentada a essa produção sobre uma noviça que é contratada para cuidar dos sete filhos de um militar viúvo, mas acaba, na verdade, encantando a todos com sua música e despertando o amor no coração adormecido de seu chefe. Tudo isso ambientado em pleno início da Segunda Guerra, quando os alemães começavam a tomar domínio de toda a Europa e países vizinhos, gerando um clima de constante tensão. O contraste entre a áurea de esperança gerada para a família pela jovem noviça e o terror presente em todos pelo contexto histórico é sensivelmente explorado pelo grande diretor que foi Robert Wise.

A então praticamente desconhecida Julie Andrews, que até hoje tem seu nome associado a musicais, é a protagonista deste longa. Por já ter experiência nos palcos da Broadway, a atriz demonstra ter pleno domínio do gênero e da prática dança/música/atuação, que o tipo de filme requer. Fora isso, seu carisma e bela voz fizeram dela a figura imediatamente associada ao papel, não podendo ninguém a substituir à altura no personagem de Maria. O resto do elenco também parece ter uma boa química, estando todos competentes, inclusive as crianças. As canções da dupla de compositores Rodgers and Hammerstein também são um ponto destacável logo de cara no longa. As melodias se encaixam perfeitamente na trama e algumas das peças se tornaram clássicas até mesmo separadas do filme.

As paisagens da Áustria, onde foi filmada grande parte das cenas, constitui uma fotografia belíssima, com suas montanhas no inverno com destaque para a seqüência inicial do filme, que mostra uma visão panorâmica da cidade e da área campestre de Salsburgo. O visual do filme, por si só, já é de se impressionar qualquer pessoa com o mínimo de sensibilidade e o mesmo vale para a caracterização dos personagens, que contribui para compor a atmosfera da época.

A trama, em si, ao longo de seu desenvolvimento, ainda se mostra extremamente envolvente e nem mesmo as quase 3 horas de duração do filme são o suficiente para desviar a atenção do espectador. Embora considerada um tanto "açucarada" por alguns, a história é capaz de cativar a todos, ainda que não admitam. Enfim, "A Noviça Rebelde" é um dos poucos filmes que ainda podem ser considerados "para toda a família". Um musical bem ao velho e bom estilo, que deverá agradar a todos os amantes do gênero.

Amanda Pontes
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