Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 02 de dezembro de 2006

Jesus – A História do Nascimento

Mesmo não conseguindo desenvolver algo tão novo ou diferente na parte técnica, "Jesus – A História do Nascimento" consegue transformar seus personagens bíblicos em muito mais humanos, caindo um pouco o véu místico, o que faz desta produção mais interessante e bem construída.

O filme, como o nome diz, conta a história do nascimento de Jesus, sem se focar completamente a partir do chamado do anjo à Maria ou mesmo até depois desse momento. O interessante é que o filme mostra muito antes desses momentos citados acima, como, por exemplo, Maria e suas brincadeiras com seus amigos da sua idade (vale lembrar que Maria tinha apenas 15, 16 anos na época em que engravidou de Jesus), mostra também os seus pais, o casamento arranjado pelo pai com José, todos esses pequenos detalhes da história que nem todos conhecemos. Não se engane se você acha que o filme vai mostrar Jesus como foco principal, porque nesse filme ele não é a peça chave, mas sim a história de Maria.

Catherine Hardwicke, excelente diretora de "Aos 13" e "Os Reis de Dogtown", não chega a surpreender com inovações na parte técnica, mas consegue mostrar o seu cuidado e preocupação com a história desde o começo da escalação do elenco. Diferente de outras produções, ela, sim, segue a risca inclusive, quando faz referência à aparência dos personagens, que erroneamente são colocados atores e atrizes com aspecto europeus em outros filmes. Esse mero detalhe da aparência só é assim conhecido por nós porque a Igreja Católica tem sua base fundamental (o Vaticano) na Europa, então, obviamente o espelho refletido na imagem seria de pessoas com traços europeus. Quem conhece a teologia de perto sabe que pessoas com tais traços são impossíveis na terra onde a história bíblica realmente acontece. E é nisso em que Hardwicke ganha méritos e de sobra. Outro ponto à parte é a idade de Maria, que ela segue a risca e coloca para o papel a excelente Keisha Castle-Hughes ("Encantadora de Baleias"), que consegue passar o ar de ingenuidade no olhar e a fé cega de Maria. Também há a atenção entre a diferença de idade de Maria e José, este muito mais velho do que Maria.

O roteiro de Mike Rich, que começou a escrever a história exatamente no dia 1° de dezembro de 2005, consegue trabalhar com as nuances e recriar a história, permeando momentos desconhecidos e ficção (claro, não há como fazer um filme todo embasado no que está escrito sem que ele se torne uma adaptação fraca), com passagens da Bíblia mais do que conhecidas. E todas elas estão costuradas e aparecem no momento certo. O trabalho de Rich aqui era de conseguir colocar as informações em ordem e reescrever a história de forma mais real possível, onde junto com Hardwicke conseguiu tirar um pouco do véu mítico das personagens, sem afetar realmente a divindade de cada uma.

Na trilha sonora, Mychael Dana conseguiu se superar na composição, que acaba aparecendo nos momentos certos e que consegue, por fim, emocionar o público. Seus recentes trabalhos como em "Capote" não foram tão grandiosos como o trabalho feito neste projeto.

No elenco, Keisha Castle-Hughes está perfeita no papel de Maria. Ela consegue passar apenas pelo olhar e pela expressão do rosto uma idéia de uma garota que, mesmo que não entenda o que esteja acontecendo, se permite levar por sua fé na crença do que ela ouve muito falar de um salvador que irá livrar seu povo do sofrimento que está passando. O resto do elenco não consegue ter atuações tão extraordinárias, mas consegue se sair bem em seus papéis, conseguindo acertar na medida certa a dosagem das emoções.

No resultado final, "Jesus – A História do Nascimento" talvez não chame tanto a atenção como o seu predecessor "A Paixão de Cristo" (até porque se tratam de histórias diferentes), mas não deixa de ser uma bela história, e mesmo que não tenha muitos momentos que a transforme uma super-produção não deixa de ser uma belíssima história que deveria ser acompanhada pelo público.

Leonardo Heffer
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