Cinema com Rapadura

Críticas   terça-feira, 14 de novembro de 2006

Elsa e Fred – Um Amor de Paixão

A vontade de viver, a loucura de quebrar o cotidiano, os sonhos que ainda podem ser realizados e o amor na terceira idade são alguns dos temas trazidos nessa co-produção, que traz uma parceria entre Argentina e Espanha.

Elsa (interpretada pela excelente China Zorrilla) é uma mulher cheia de vida, péssima motorista e sempre procura um meio de aproveitar melhor seu dia. Alfredo (vivido por Manuel Alexandre, também perfeito no papel) ficou viúvo há sete meses, é hipocondríaco e encontra dificuldades em continuar a viver, isolando-se junto de seu cachorro.

Mesmo com uma história repleta de clichê e comum (que traz anexada a si a lição de que nunca é tarde para amar), Marcos Carnevale consegue dar amplitude ao enredo, fazendo do filme uma leve e divertida opção, que emociona e faz rir quase na mesma medida. Existe uma desmistificação da sexualidade na terceira idade através de insinuações, e percebemos que se apaixonar nunca é fácil, independentemente da idade.

Ao ponto em que os dois se juntam, começa uma divertida e arriscada quebra de rotina, brincadeiras em torno da vida e a criação de momentos que parecem independentes da realidade. Ele (o diretor) parece querer mostrar para nós o tempo todo que a vida está aí para ser vivida e que o tempo não pára.

As pessoas planejam tanto o amanhã, que passam a viver por um futuro que talvez sequer aconteça. Esquecemos o tempo que está acontecendo agora mesmo. Em determinado momento, Elsa vira-se para Alfredo e afirma: "Eu não acho que você tenha medo de morrer. Acho que você tem medo é de viver". Tudo isso coroado pela linda trilha sonora do argentino Lino Vitale. Outro ponto que chamou a atenção foi a interação entre história e filme: a protagonista, decidiu ser atriz depois dos cinqüenta anos, recomeçando a vida.

Em termos técnicos, existem algumas falhas, como cortes bruscos, dando a impressão de que estamos assistindo a um filme feito para a televisão, permeado de intervalos. Mas o roteiro é tão envolvente, e os atores tão bem integrados a tudo aquilo que acontece que com certeza pode passar despercebido. Impossível não se emocionar com essa história. Acho que todos saem do filme com a vontade de fazer o dia melhor.

Nesse sábado tivemos, sim, debate, mas ele não durou mais que cinco minutos. Acreditem se puderem, mas o cinema nos colocou para fora da sala, pois alguém havia esquecido de cancelar a sessão que usaria a sala em que nos reuníamos, e portanto ingressos foram vendidos e teríamos que sair. O amor na terceira idade foi o ponto chave do debate (que não foi debate, pois deu tempo unicamente do mediador falar algo rápido): a calma dos dois personagens em relação à vida e como eles se tornam dois adolescentes quando se apaixonam. Os problemas enfrentados para que as pessoas (especialmente) os filhos aceitem que os dois têm um relacionamento, e que a vida não pára na velhice foram temas abordados.

E se o filme inteiro já é um clichê ambulante, porque não fazer uma crítica recheada da mesma matéria, não é mesmo?! Termino então afirmando que ser feliz é uma escolha interior e diária, e que nós acordamos todos os dias com esse poder de decisão.

Beatriz Diogo
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