Cinema com Rapadura

OPINIÃO   segunda-feira, 28 de março de 2005

O Chamado 2 (2005): a mesma baboseira e repetição de sempre

Nunca um filme de terror foi tão aguardado como esse "O Chamado 2". O sucesso do primeiro fez com que criássemos uma expectativa enorme em torno dessa seqüência. O único problema foi que nesse tempo de espera, foram lançados vários genéricos, que tiraram um pouco o charme do gênero que demorou tanto para chegar, mas que já se esgotou.

Podemos dizer que o filme “O Chamado 2” foi um dos mais aguardados do gênero terror dos últimos anos. Nunca falaram tanto de uma seqüência deste estilo, como falaram dessa. Às vezes você sai insatisfeito do cinema por causa dessa grande expectativa. Filmes que você nunca espera e mal conhece, consegue te surpreender mais, como foi o caso do primeiro filme da série. Mas afinal, o filme cumpre bem a sua meta ou não passa de uma continuação boba com fins financeiros? Um pouco de cada, você vai entender mais abaixo.

Seis meses depois dos terríveis eventos que aterrorizaram Rachel Keller (Naomi Watts) e seu filho Aidan, os dois tentam deixar para trás as lembranças assustadoras de Samara e sua amaldiçoada fita de vídeo, mudando-se de Seattle para a pequena comunidade litorânea de Astoria, no estado do Oregon. Rachel espera, assim, recomeçar a sua vida. Apesar do remorso e culpa de toda destruição que causou em “O Chamado”. Porém, ela não está com sorte e logo percebe, por meio das evidências, que Samara está de volta. Graças a um crime local, que inclui uma fita de vídeo, coincidentemente, a mesma em que a vingativa Samara está presente. Ela está mais determinada que nunca a continuar o seu incansável ciclo de terror e morte. Ao invés daquela pessoa obcecada consigo mesma e com a sua carreira, Rachel se transformou numa mãe zelosa. A ironia está no fato de que essa nova mãe torna-se exatamente o tipo de mãe pela qual Samara anseia desesperadamente. Para conseguir este amor, Samara pretende possuir Aidan e tornar-se filha de Rachel.

Quando o primeiro filme da série foi lançado, um mega sucesso estourou nas bilheterias e em vendas de DVD. Entre o lançamento do primeiro, e desse segundo, foram lançados vários filmes com praticamente todos os ingredientes de sucesso do original. Dai você diz: “Mas todos copiaram o estilo dele?”. Basicamente. Depois de “O Chamado” (2002), a onda de “vilã com cabelo no rosto” explodiu. Não só em filmes de terror, mas em muitos filmes, até de comédia, essa vilã foi personagem. Fizeram tantas referências ao filme, que cansou.

Para entender melhor, a série é baseada nos livros “Ringu”, do escritor japonês Koji Suzuki. Hideo Nakata, diretor de “Ringu” (1998) e “Ringu 2” (1999) também dirigiu a versão japonesa de “Dark Water” (filme que Walter Salles acaba de refilmar). Ele é o diretor de “O Chamado 2”. Depois veio o diretor japonês Takashi Shimizu com “Ju-on”, “Ju-on 2” e “Ju-on: The Grudge”. Lançaram até uma versão americana, que ficou conhecida como “O Grito”. Resumindo, todos eles com vilãs semelhantes. Será que não cansa? Cansou sim, e muito.

Mas é como dizem: “Pode lançar genéricos, mas nada é melhor que o original”. “O Chamado 2” é um bom filme, aliás, acima da média, mas você sempre fica com a sensação de já ter visto tais cenas. O terror psicológico do filme assusta, mesmo que seja da forma de “déja vu”. Naomi Watts está competente no papel principal. Mas, David Dorfman, que faz Aidan, é que passa uma sensação ruim para espectador. O menino é visivelmente perturbado. Quando sua fisionomia muda, nota-se o esforço do pequeno ator. Samara, interpretada nessa seqüência por Kelly Stables, possui bem mais ênfase na história. Mesmo que as cenas do poço sejam computadorizadas, é assustador.

Toda a atmosfera bizarra do filme se repetiu por trás das câmeras. No sétimo dia de filmagem, houve uma inundação no escritório de produção. Apesar de ter sido por causa de um cano rompido, o diretor requisitou uma cerimônia japonesa de purificação para evitar futuros problemas — mas coincidências estranhas continuaram acontecendo, como um enxame de milhares de abelhas que envolveu o departamento de cenário e sumiu tão rápido como chegou; um garrafão de 20 litros que estourou na cozinha do departamento de produção e uma manada de cervos que veio em direção de uma figurinista que chegava no estacionamento. Apesar de ser uma ocorrência comum na região, a semelhança com o ataque desses animais no filme foi surpreendente.

O diretor já deu pistas que “O Chamado 3” pode vir. Tomara que não fique na mesma baboseira e repetição do gênero. Quem foi assistir ao filme “O Chamado 2” esperando sustos, cabelos em pé e muita tensão, pode sair um pouco decepcionado. Principalmente quem é fã do original. Mas o filme pode oferecer um terror que nenhum outro do gênero consegue. Como eu disse antes, os outros não passam de genéricos, o original é “O Chamado”.

Jurandir Filho
@jurandirfilho

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