Cinema com Rapadura

OPINIÃO   domingo, 27 de março de 2005

Desventuras em Série

Os filmes que têm Jim Carrey no elenco são sempre muito aguardados. É uma pena que nem todos tenham qualidade, mas, esse, fica basicamente no meio termo. Resumindo: nem fede nem cheira.

O cinema não estava muito lotado para uma estréia (pelo menos nenhum celular tocou), talvez porque "Desventuras em Série" não fosse tão esperado. O filme é baseado nos três primeiros livros da série de Lemony Snicket (são onze ao todo) e relata a história das três crianças Baudelaire, que se tornam os órfãos da família depois de um incêndio misterioso que matou seus pais, e destruiu toda a mansão em que eles viviam. Violet (Emily Browning), a mais velha dos irmãos, "é uma das melhores inventoras de 14 anos do mundo". Klaus (Liam Aiken), o irmão do meio, é um exímio leitor e tem na memória tudo (tudo mesmo) o que leu. A caçula Baudelaire, Sunny (as gêmeas Kara e Shelby Hoffman se revezam no papel), tem um estranho hábito de morder coisas.

Eles estão sempre a fugir das "desventuras" montadas pelo tio, Conde Olaf (Jim Carrey), que fará tudo para ter a fortuna deixada pelos pais das crianças. Antes dessa ameaça, eles mudam de tutor várias vezes, e vão para muitos lugares, levados por Mr. Poe (Timothy Spall), uma espécie de guia. Passam por um criador de répteis (Tio Monty, interpretado por Billy Connolly); pela tia maluca por gramática (Tia Josephine, por Meryl Streep) e que tem medo de tudo; até voltarem para a modesta residência do Conde. Bem, eu não vou contar o filme todo porque perde a graça. É uma aventura meio mórbida, mas tem cenas engraçadas (como um bom filme de Carrey). Os diretores de arte realmente capricharam. O cenário, o figurino, todos os detalhes dão um ar, digamos, mágico à saga dos Baudelaire.

A atuação de Carrey está sendo criticada. Dizem que ele quer ser o centro das atenções, o que estragou o papel; talvez ele só esteja seguindo o próposito do Conde, de almejar por ser querido, como pode ser percebido em algumas cenas do filme. Carrey está esplêndido; muito bem maquiado (uma maquiagem que levou três horas para ser terminada) e bem caracterizado, como todos os outros personagens. O figurino ressalta de alguma forma a essência deles.

Vale ressaltar a atuação das crianças no filme: Emily Browning, Liam Aiken e as gêmeas Kara e Shelby, mesmo que elas só mostrem seu rostinho fofo e soltem alguns grunidos. Achei que Emily e Liam, mostraram que são grandes atores, não tendo aquelas cenas chatas que existem em alguns filmes com atores ruins. Outra atuação marcante, foi de Meryl Sheep, que
fez brilhantemente a tia Josephine, uma mulher aparentemente chata e muito solitária, por ter perdido o seu marido num incêndio misterioso.

Um fato curioso é que o filme parece se passar nos anos 50, no entanto o Conde Olaf, tem um carro com travas eletrônicas. Outro é que Josephine (a tia dos Baudelaire) evita ligar o fogão com medo que ele venha a explodir, apesar de ela morar em uma casa à beira de um penhasco. Literalmente falando: a casa é suspensa por vigas.

A trilha sonora não é muito marcante; acompanha algumas cenas tristes e outras de ação. Mas no final há uma bela animação, com uma música que lembra trilhas italianas. "Desventuras em Série", é um filme marcado pelo pessimismo do narrador (Jude Law), que, em diversos momentos, alerta os telespectadores para o fato do filme não ter um inicio nem um final feliz; tampouco um meio feliz. Se você estiver esperando por isto, desista, pois está longe de acontecer (quem sabe não haverá uma continuação com um final feliz? São onze livros, né?). Recomendo o filme e, principalmente, que fiquem até o fim. Também recomendo que não fiquem parados em frente da geladeira, pois se ela cair, poderá esmagá-los.

Cinema com Rapadura Team
@rapadura

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