Cinema com Rapadura

OPINIÃO   domingo, 04 de setembro de 2005

Deu Zebra!

O mundo está saturando de filmes com animais falando? Sim... Mas não deixe de ir assistir ‘Deu Zebra!’ por causa disso. Ora, o filme foi feito para divertir – principalmente crianças – e atingiu esse objetivo. Algumas vezes com piadas rápidas, outras com dois personagens cômicos, tanto pelas mesmas piadas ou pela ótima dublagem.

Antes de alguma coisa sobre o filme mesmo, vou falar sobre preconceito e logo mais vocês saberão o porque. O preconceito está presente nas relações humanas desde a mais remota história da Humanidade. Durante todo seu processo de experiência de vida, o ser humano vai incorporando valores, sentimentos, idéias, que vão se perpetuando na mente, muitas vezes em defesa de um modo de pensar e de viver que não é aceitável por todos. Esta é a base cognitiva do preconceito que se denomina estereótipo: um padrão mental de avaliação da realidade que se expressa através de atitudes, no preconceito propriamente dito. Segundo o dicionário, preconceito define-se como: Opinião ou julgamento, favorável ou desfavorável, sobre determinado objeto ou pessoa, concebido sem exame crítico.

Ah Raphael, mas que ‘mané’ papo é esse? Ora, simplesmente no meio do filme vi que a zebra, quer dizer o cavalo, opa a zebra mesmo, sofreu um baita de um preconceito. Ah, já que falei no filme, agora é a vez de comentar sobre.

O filme conta a estória de uma zebra, a ‘Listrada’, que é esquecida por um grupo circense na estrada e achada por um fazendeiro, Nolan Walsh (Bruce Greenwood, de “13 Dias que Abalaram o Mundo”), o qual abandonou as corridas de cavalos após a morte da esposa em um acidente. Tal zebrinha cresce ao lado de um jóquei clube e, curiosamente, resolve achar que é um cavalo de corrida. Dessa forma, se treinasse, logo mais correria na pista do citado jóquei. Como ninguém confiava no animal, ele resolve se virar sozinho. Disputa corrida com o carteiro todos os dias (ele de carro) e corre, corre, corre; tudo que fazia era correndo. Animado por algumas intrigas com seus colegas de idade, os quais praticam preconceito para com ele (ta vendo, porque falei) e repreendida duramente pelo pai de um desses colegas, a jovem zebra, treina cada vez mais.

Agrada sim. Fui sem nenhuma expectativa e agradou. O tema é legal – retardando um pouco minha idade – e, apesar de totalmente previsível, anima. As dublagens estão interessantes, mesmo a do protagonista não ter sido bem escolhida (foi feita pelo Bruno Gagliasso), haja vista que merecia um pouco mais de ânimo. Isso eu falo da dublagem em português, já que os cinemas daqui ainda relutam em mostrar o original – tudo bem, é para crianças. Voltando ao assunto, gostei bastante dos dubladores das duas moscas: João Gordo e Matheus Nachetegale. As gírias usadas, as rimas e as piadas rápidas; melhor impossível. Tem também uma cabra que é dublada pela Cissa Guimarães e não deixa de agradar. Na verdade, não exige muito. Outro que surpreendeu foi Evandro Mesquita dando vida às “cordas vocais” do pelicano que se chama Ganso(!); outro personagem que nos rouba algumas risadas.

Vale salientar o momento que o cavalo “rico” treina com equipamentos tecnológicos e uma grande infra-estrutura, enquanto a zebra treina em locais simples, de maneiras simples, por alguém simples (lembra Rocky IV?). Finalmente, para quem acha que o mundo cinematográfico está saturado de filme com bichos falando, eu não me reportei em dar risadas da projeção.

Creio que algum dos leitores esteja me escrachando por eu ter metido preconceito no meio dessa inocência toda. Vejamos bem, temos que tirar algo interessante de tudo e, além das dublagens e algumas piadas, enxerguei esse tema. Afinal, o que significa preconceito? Atualmente, preconceito é uma das palavras mais banalizadas, assim como radicalismo, pessimismo, amor, amizade, pois são proferidas a toda hora sem que se faça uma análise da profundidade de tais palavras. Realmente vivemos a “era da banalização e da superficialidade”, principalmente no que diz respeito a pessoas… E quando alguém expõe o que pensa e isto contraria interesses convencionais, ideologias ou gostos pessoais de alguns, corre o risco de ser rotulado de radical, preconceituoso, ignorante, etc, por estes. É muito simples: “autodefesa”. No fundo são pessoas que buscam no que vêem ou lêem, a si próprios, ou seja, mediocridade.

Preconceito é desrespeitar a “condição” de alguém a ponto de querer mudá-la ou puni-la ou ainda desejar para esta, algo muito pior simplesmente por não concordar. É muito diferente de apenas se ter uma opinião ou gosto contrário. E, concordem ou não, “Listrado”, por uma escolha que ele fez, mesmo que um tanto inconsciente, sofreu preconceito sim. Eu, por minha escolha, resolvi falar sobre esse tema que não achei fútil para a crítica. Quem me dera que, de tal forma, tenha conseguido atingir ao público que clicou no link para ler a crítica e o outro que abriu e se deparou com um assunto referente ao filme e de caráter social. Tal como o filme. Fui sem muita expectativa, porém me deparei com o filme legal, bem estruturado e com esse tema que aqui vos transmiti.

Cinema com Rapadura Team
@rapadura

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