Cinema com Rapadura

OPINIÃO   segunda-feira, 02 de janeiro de 2006

Frida

A cinebiografia de uma das mais famosas pintoras de todos os tempos que faz jus à mistura de adjetivos que foi a sua vida: belo, intenso, trágico feliz...isso é “Frida”, um filme que merece ser visto tanto pelos que admiram tanto pelos que nem sequer conhecem Frida Kahlo.

Logo nos primeiros minutos de filme somos apresentados a uma garota decidida, que acaba fazendo o que quer, independente de qualquer obstáculo. Essa imagem só vai se confirmando ao longo das duas horas em que a história de Frida Kahlo é mostrada, com todas as suas glórias, fracassos e, acima de tudo, paixões.

O filme é uma biografia declarada da pintora mexicana, idealizada pela atriz Salma Hayek, que além de protagonizar o longa ainda o produziu. A vida de Frida é retratada magistralmente, desde seu acidente ocorrido na adolescência, quando foi perfurada por um bastão de ferro e ficou com problemas para andar até sua breve relação com o político Leon Trotsky na ocasião de sua permanência em território mexicano. Outro aspecto real também mostrado no filme é a relação que Frida teve com diversas outras mulheres.

O marido da pintora, o também artista Diego Rivera é interpretado por Alfred Molina, que além de ser extremamente parecido fisicamente com o Diego real, emprestou ao personagem um tom perfeito, uma personalidade que faz o espectador entender porque Frida o odiava tanto, mas não conseguia deixar de amá-lo ao mesmo tempo. A relação dos foi responsável pelas grandes alegrias e decepções da vida da pintora e sua dependência do marido foi ao mesmo tempo sua desgraça e sua salvação.

Alguns outros famosos nomes fazem pequenas participações na história, algumas aparições rápidas, mas que chamam atenção como Antonio Banderas, Ashley Judd e Edward Norton. Essas participações, na verdade, deram mais credibilidade ao filme ao incorporar nomes de certo respaldo no elenco, ainda que em papéis com pouca relevância.

A fotografia do filme é algo que merece um destaque especial. Compostos por vívidas cores, os cenários remetem aos próprios quadros de Frida Kahlo, famosos por sua coloração forte e expressiva. O figurino também é notável, assim como a caracterização de Salma Hayek como a protagonista, que incorporou detalhes físicos típicos da pintora como o tipo de penteado e as peculiares sobrancelhas juntas. O figurino chegou a ser indicado ao Oscar e a maquiagem ganhou a estatueta merecidamente.

A trilha sonora do músico e maestro Elliot Goldenthal (também ganhadora do Oscar nessa categoria) é realmente espetacular, composta por ritmos típicos mexicanos e com uma belíssima canção (“Burn it Blue”) interpretada pela cantora mexicana Lila Brown e o brasileiro Caetano Veloso. A trilha incidental foi perfeitamente integrada com a história, dando ao filme um ritmo peculiar.

É certo que a trama parece por vezes conter um pouco de exagero e fantasia, artifícios já costumeiros no cinema quando se trata de uma autobiografia. Certamente, houve detalhes da vida de Frida que foram, digamos, “enfeitados”, para dar um algo mais à história. A fantasia, porém, divide-se da realidade por uma linha tênue, já que quem conhece pelo menos um pouco da vida da pintora sabe que sua trajetória, é, sem dúvidas, digna de ser transformada em filme.

No saldo final, a produção foi bastante cuidadosa, considerando-se o baixo orçamento do filme – apenas US$ 12 milhões e esse é, sem dúvida, um grande mérito para um filme que ultrapassou o cenário alternativo e chamou inclusive a atenção da tão severa e exigente Academia.

“Frida” é um filme soube uma mulher que foi tudo menos comum. Não é necessário entender de arte para perceber isso, basta assistir ao filme e conferir. Na pior das hipóteses, o espectador vai se deleitar com música de primeira qualidade e imagens espetaculares, o resto é lucro.

Cinema com Rapadura Team
@rapadura

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