Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sexta-feira, 25 de novembro de 2005

Guia do Mochileiro das Galáxias, O

Dirigido por Garth Jennings e baseado no livro do escritor Douglas Adams, o longa é razoável do começo ao fim, abusando de efeitos especiais tanto para ganhar o público - principalmente o infanto-juvenil - quanto para servir ao sonolento humor, exceto pela presença de Ford Prefect (Mos Def), no meu entendimento o que mais merece destaque.

A descrição dos personagens e do ambiente fica por conta do narrador, conhecedor profundo do guia do mochileiro das galáxias. Arthur Dent (interpretado por Martin Freeman) é um homem pacato que acaba de saber da iminente demolição de sua casa para a posterior construção de uma rodovia. No mesmo momento, seu amigo Ford (Mos Def) revela que é um alienígena e que o planeta terra, como sua casa, estava prestes a ser destruída pelos Vogons para a construção de uma rodovia hiperespacial. Esse é o argumento principal, do qual surgem inimagináveis coisas e criaturas.

Gratificante, porém, poder presenciar um momento do filme diferente daquilo que é holywoodyanamente produzido como a ousada (nem tanto, pois dura pouco) cena feita com os bonequinhos de lã, com a filmagem quadro-a-quadro. As mesmas loucas condições da temática intergalática que permitiram piadas loucas permitiram esse bom, embora curto momento. Interessante ainda é o personagem Marvin, o robô deprimido, apesar de ter sido pouco aproveitado no desenrolar dos diálogos.

Os extraterrestres Vogon são extremamente realistas, muito disso devendo-se à intrigante naturalidade de seus movimentos faciais, dotando-os de expressividade e vida. Os Vogons não são, em certa medida, tão diferentes dos terráquios brasileiros, pois, como se percebe no filme, as ações de ambos são mediadas por processos bur(r)ocráticos que, em sua grande maioria, dificultam o bom andamento das decisões. A religião, também semelhante à que aqui existe, é caracterizada pela mobilização das massas e concentração de poder nas mãos dos “representantes”. E aqui vale outra observação: seria mais coerente os humanos destruírem outro planeta.

Bom lembrar também o momento da viagem feita por Arthur Dent, quando se pode ver um gigantesco aparato mecânico disponível p/ construção de mundos em toda a sua riqueza de detalhes. Intensionalmente ou não colocado, isso é a própria indústria do cinema. Nesta parte do filme, pode-se pensar o limite da imitação da realidade existente no cinema pipocão do lucro. Há limite?

A existência de tantas piadas exageradas e cheias de estranhas denominações tenta justificar-se pela temática intergalática da qual o filme se vale. Do mesmo modo, justificar-se-iam as estripulias e os trejeitos de alguns personagens, no intuito de se tentar fisgar o riso do espectador, um humor simples que explora as (im)possibilidades do exagero e do absurdo. Por outro lado, há também a presença de um humor espontâneo e inocente se apresenta melhor no filme. O filme é repleto de coisas absurdas em busca do efeito humorístico, mas acabam por cair na mera loucura, diferentemente do interessantíssimo Monty Python, grupo inglês que faz um “humor surreal” de ponta, desmontando a vida e a morte, o sim e o não.

Em síntese, caso se interesse por esse filme, lembre-se de duas coisas: levar alguém de 12 a 16 anos e um celular que tenha o jogo da cobrinha… pode ser que você precise dele após os 30 minutos de um filme razoavelmente divertidinho.

Cinema com Rapadura Team
@rapadura

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