Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sexta-feira, 19 de agosto de 2005

Horror em Amityville

"Horror em Amityville" é um suspense batido com alguns ótimos sustos no início. Mais um filme repleto de clichês nessa gama de suspenses sobrenaturais.

Nós do CCR sempre comentamos e continuamos batendo na mesma tecla. A cada filme de suspense que é lançado, mais banal está se tornando o gênero. Antes de tudo, é triste receber esse filme em nossos cinemas apenas agora em agosto, quando o mesmo foi lançado em abril nos EUA. Será possível que ninguém se importa com esse atraso monstruoso? Enfim, voltando ao filme. A maioria dos filmes que já passaram pelas minhas mãos, receberam críticas quanto ao abuso da imagem infantil para aterrorizar. Sem contar as estúpidas idéias de usar os mesmos métodos para chocar o público, como por exemplo, as cenas em que contêm aqueles famosos desenhos estranhos feitos por crianças malucas. Querendo inovar um pouco, o meio utilizado pelo diretor Andrew Douglas nesse longa foi um dos brinquedos mais famosos nos EUA, em que a criança traça desenhos em uma caixinha de areia que pode ser apagada e refeita a qualquer balançada. Esse como a soma de outros pequenos detalhes foi que fizeram do filme uma produção esdrúxula, de acordo com aquele ditado: "de grão em grão a galinha enche o papo". São nos pequenos detalhes que o público, principalmente os cinéfilos, focam sua atenção, e são coisas pequenas assim que conseguem tirar qualquer um do sério e transformar um suspense em uma comédia.

Em 13 de novembro de 1974, a polícia do condado de Suffolk recebeu uma chamada telefônica que a levou ao número 112 da Ocean Avenue, Amityville, em Long Island. Dentro da ampla casa de estilo colonial holandês, encontraram a cena de um crime brutal que abalou a paisagem da pacífica comunidade: uma família inteira fora assassinada enquanto dormia. Nos dias que se seguiram, Ronald Defeo Jr., confessou ter usado um rifle metodicamente para matar os pais e seus quatro irmãos. Ele alegou ter ouvido "vozes" que vinham de dentro da casa que o levaram a cometer os crimes chocantes. Um ano depois, George (Ryan Reynolds) e Kathy Lutz (Melissa George) mudaram-se com os filhos para o mesmo endereço, acreditando terem encontrado a casa de seus sonhos. Não demorou muito para que eventos bizarros começassem a acontecer – visões assustadoras e vozes assombrosas que provavam que uma presença maligna continuava oculta na casa.

O longa prova que tudo o que Hollywood deseja é lucrar e, se eles não perceberam ainda, as pessoas estão buscando novos ares, tanto para filmes independentes como estrangeiros. Não é novidade que as bilheterias de filmes europeus e orientais crescem a cada ano, pois a procura por algo original está, felizmente, atingindo todos os nichos da sociedade.

Criticar um filme assim não exige muito do senso de humor, pois a cada péssimo detalhe percebido é uma pequena risada. Pra começar eles estampam de cara que o filme é "baseado em fatos reais", como se isso atraísse ainda mais pessoas. A verdade é que se nós quiséssemos assistir a um filme baseado em fatos reais, nós simplesmente ficaríamos em casa no sábado a noite assistindo àquele programa de filmes global. Outro detalhe que vale ressaltar é que a cada dia está mais difícil alguém ir pro cinema esperando se assustar. As pessoas procuram conteúdo, e conteúdo bom. Não basta fazer um filme de sustos, mas, além disso, algo que transmita uma mensagem, por mais simples que seja. Qual mensagem pode-se tirar de um filme assim? "Nunca se mude para uma casa onde uma família inteira fora assassinada" ou "nunca deixe sua filha brincar com os amigos imaginários" ou até mesmo "sempre dê ouvidos à sua esposa".

O elenco não é de peso e não agrada. Não vou nem perder tempo falando de atuações individuais quando posso, de cara, falar que no geral todas são fraquíssimas. Pra falar a verdade, nem o roteiro ajuda. Incrível como os atores conseguem ser ruins com um roteiro que não exige nada. Posso jurar que fiquei na torcida para que o garoto Jesse James começasse a fazer travessuras ruins, assim como seu personagem em "Efeito Borboleta". Mas ele está tão calmo no filme que chega a ser esquecido.

Mas fica sempre aquela pergunta no ar: será que o filme não tem nada de positivo? Pensando bem, tem. Se você está a fim de levar sustos, o início do filme é cheio deles. Mas uma hora acaba. Não se sabe se é por já estar enjoado de levar sustos ou se o filme simplesmente não assusta mais. Outro ponto positivo são os créditos finais, aquele momento que você mais torce chegar quando assiste a um filme ruim.

Posso estar pegando pesado quanto ao filme, mas é que eu, particularmente, já estou cansado de ver tanta coisa igual, ainda mais nesse gênero que é recorde em falta de originalidade.

Bruno Sales
@rmontanare

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