Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quarta-feira, 15 de março de 2006

Infidelidade

O filme trata de um tema batido, mas que ganha segurança devido ao modo como é conduzido pela experiência e sensibilidade do diretor Adrian Lyne, que dirigiu também os longas 9 ½ Semanas de Amor, Atração Fatal e Flashdance.

Infidelidade conta a história de Connie Sumner (Diane Lane), uma dona de casa que leva uma vida feliz no subúrbio de Nova York ao lado do seu marido Edward Sumner (Richard Gere), e do seu filho de oito anos, Charlie (Erik Per Sullivan). Vivendo a estabilidade dos onze anos de casamento, o casal aparenta ter uma vida normal até que Connie se esbarra com Paul Martel (Olivier Martinez) em meio a uma ventania. Com os joelhos machucados da queda, o belo e sensual jovem francês oferece ajuda a Connie, levando-a até seu apartamento, onde mora sozinho.

Entre os milhares de livros e olhares de Paul, Connie ganha um livro de poesia no qual mais tarde ela descobre um cartão com o telefone do galanteador. Chegando em casa, Connie conta ao seu marido o ocorrido, tentando disfarçar a atração que sentira pelo jovem vendedor de livros. No dia seguinte, a protagonista liga para agradecer a ajuda e recebe outro convite para visitar o jovem. A partir daí começa um jogo de sedução, receio, culpa e traição entre os dois.

A versão de A Mulher Infiel (La Femme Infidèle) de 1969 serviu de molde para o roteiro de Infidelidade, mas a história foi mais especificada, demonstrando mais intensamente o relacionamento do triângulo amoroso. O diretor Adrian Lyne conseguiu sugar ótimas atuações do trio, com destaque especial para as cenas de sexo entre os amantes. É incrível a capacidade de Lyne em conseguir filmar cenas sensuais sem parecer vulgar e que impactam do mesmo jeito. Diane Lane é a maior estrela do filme, por conseguir passar as angústias de uma mulher que, no princípio, não estava interessada em trair o marido e que resistiu até o último momento aos encantos do belo francês. Depois que eles têm a primeira vez juntos, ela sente-se culpada, mas fica encantada com o novo mundo de prazer que Paul apresenta para ela, metendo-os em aventuras sexuais em restaurantes e lugares onde ela jamais faria com o marido. Em meio a desculpas para se encontrar com o amante, o marido traído desconfia da esposa e contrata um detetive, que logo descobre o envolvimento dos dois.

É a partir deste momento que a história passa de romance melodramático à um thriller angustiante que culmina em vários fatos que podem ser visto como clichês, mas que recebeu uma roupagem tão inteligente que é perfeitamente aceita. Com uma ótima performance na direção, as passagens de cenas não deixam a desejar. A harmonia entre os atores favorece a um bom desempenho da trama, juntamente com uma trilha instrumental doce e leve, encaixando-se bem com o perfil dos personagens.

Talvez o problema do longa tenha sido a maneira de como apresentou seu final. Essa nova visão da infidelidade dos casais poderia ter trazido um final mais sustentável do que o apresentado na produção. Nos extras do DVD encontramos um final opcional, que até teria se encaixado melhor, o que não teria sido suficiente para sustenta-lo, mas seria menos desestimulante, sem dar aquela sensação que o desenrolar do filme não valeu de nada.

Focando em um tema clichê, Infidelidade é uma boa opção para aqueles que gostam de uma trama sedutora, sem cair na vulgaridade, que toma um ar de suspense quando menos se espera, com a espetacular atuação de Diane Lane, o que lhe rendeu indicações ao Oscar e Globo de Ouro de melhor atriz em 2003, perdendo em ambos para Nicole Kidman por As Horas.

Diego Benevides
@DiegoBenevides

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