Cinema com Rapadura

OPINIÃO   domingo, 17 de abril de 2005

Maskara, O

Baseado em uma HQ desconhecida da grande maioria do público, “O Máskara” foi uma grata surpresa do ano de 1994, sendo a quinta maior bilheteria daquele ano, dando início a uma safra de inúmeras adaptações de HQ`s para o cinema, e ainda lançou Jim Carrey ao mais alto patamar se super-astros de Hollywood.

Ainda me lembro como se tivesse sido ontem, quando fui assistir a “O Máskara” no cinema há 11 anos atrás. A fila dava voltas em torno de si mesma, e apenas consegui comprar ingresso para duas seções depois da qual esperava assistir. Na fila, muitas crianças com seus respectivos pais, adolescentes em turmas e casais de adultos aos montes. A chamada para TV prometia um filme divertido sobre um homem de cara verde que fazia loucuras. Mas na realidade, o que existia nesse filme que foi capaz de atrair tanta gente?

“O Máskara” é um típico exemplo de um filme sem maiores pretensões, mas que com uma união muito bem definida de diversos fatores, fizeram desse longa um ótimo filme para todas as idades. A união de fatores como bons efeitos especiais, uma estória diferente apresentando um perfil de herói completamente diferente do que o público está acostumado, ótimas piadas e um astro em ascensão que comanda todo o espetáculo fizeram com que todo o seu sucesso fosse justificado.

Baseado na desconhecida HQ criada por John Arcudi e Doug Mahnke, o filme inicialmente estava planejado como um filme de terror. Felizmente, os produtores enxergaram que o filme se sairia muito melhor como uma comédia recheada de aventuras. Eles mal faziam idéia do quão acertada fora essa decisão. O sucesso do filme foi tão grande, que logo em seguida se iniciou uma onda de adaptações de quadrinhos, na grande maioria, também desconhecidos, porém, com resultados fracassados como: “Tank Girl” (1995), “O Juiz” (1995), “Barb Wire” (1996), “O Fantasma” (1996), “Spawn” (1997) e “Aço” (1997), estrelado pelo astro do basquete Saquile O´neal.

A trama se passa em Edge City, onde vive Stanley Ipkiss (Jim Carrey), um cara decente que trabalha em um banco, mas é socialmente desajeitado e sem muito sucesso com as mulheres. Após um dos piores dias da sua vida, ele acha no mar a estranha máscara de Loki, um deus escandinavo. Quando Stanley coloca a máscara, se transforma em O Máskara, um ser com o rosto verde que possui a coragem para fazer as coisas mais arriscadas e divertidas que Stanley receia fazer, inclusive flertar com Tina Carlyle (Cameron Diaz), a bela e sensual cantora que se apresenta no Coco Bongo, a discoteca do momento. O Máskara tem velocidade sobre-humana e um humor não-convencional e, enquanto isto, o gângster Dorian Tyrrell (Peter Greene), que namora Tina, se esforça para destruir o Máskara e se apoderar da máscara para usar seus poderes para o mal.

O mais interessante de sua estória, é que O Máskara é um ser que foge totalmente os padrões da realidade, de forma que pareçamos estarmos assistindo a um dos clássicos desenhos animados da turma dos Looney Toones (que por sinal, recebem uma homenagem nesse filme), mas com atores de verdade, na personificação de um hilário herói de cara verde capaz de tudo. Aliás, pode até ser inusitado classificar “O Máskara” como herói, já que ele foge totalmente o perfil de um super-herói padrão: ele não combate o mal para fazer justiça, e sim, todas as suas ações e seus poderes são utilizados para satisfazer a si próprio. Afinal, qual super-herói assaltaria um banco? Este é o grande triunfo do roteiro que consegue fugir totalmente dos clichês.

O roteiro de Mike Werb, apesar de simples, não possui falhas, apresentando uma história divertidíssima e surreal, variando sempre na hora certa quando entram o humor com cenas hilariantes e as cenas de aventura. Juntamente como uma direção de arte brilhante, foi possível criar um verdadeiro contraste de cores, aproximando o filme cada vez mais de um visual de desenho animado. Podemos perceber claramente esses contrastes, em cenas mais do que marcantes como a que O Máskara dança com Tina Carlyle na boate Coco Bongo, e na cena em que ele consegue fazer uma rua lotada de policiais, dançar ao som de sua música.

A direção de Chuck Russell é eficiente. Sua aptidão para fazer filmes de terror ajudou muito a criar situações bastantes inusitadas relacionadas ao personagem-título, além de saber criar um clima tenso sempre na hora certa. Como o filme de início estava planejado como um terror, não é de se admirar a sua escolha, já que em seu currículo incluía filmes como a terceira parte da série “A Hora do Pesadelo” e a refilmagem de “A Bolha Assassina”.

Os efeitos especiais são impressionantes, não deixando nada a desejar, principalmente sabendo que o filme teve um orçamento de 18 milhões de dólares (uma miséria comparada aos orçamentos das superproduções de atualmente). Através da tecnologia utilizada, foi possível dar vida a situações nunca vistas antes, servindo de influência e imitação para diversos filmes seguintes, de modo que o personagem O Máskara, se torne um ser capaz de simplesmente tudo, um verdadeiro desenho-animado humano.

Apesar de tudo, o maior mérito do sucesso (e da qualidade) de “O Máskara”, se resume a um nome: Jim Carrey. O astro que até então, era mais conhecido apenas pelo seu papel do detetive de animais “Ace Ventura”, dá um show no papel que, provavelmente, é o seu melhor papel cômico no cinema. Fica impossível imaginar O Máskara com outro ator em seu lugar e provavelmente, com outro ator em seu papel, a produção seria um verdadeiro fracasso, pois sua interpretação é a essência de todo o desenvolvimento do filme. Todos conhecem o talento de Carrey, mas aqui, ele consegue mostrar a sua mudança de personalidade com uma maestria, que fica até difícil procurar exemplos que se comparem à altura. Seja como o tímido e desajeito Stanley Ipkiss, ou como o irreverente Máskara, Carrey demonstra tanta perfeição, que em nenhum momento parece ser o mesmo ator em atuação, perante tamanha distinção das duas personalidades.

O filme também conta com Cameron Diaz no elenco, fazendo seu papel de estréia no cinema, na pele da sensual Tina Carlyle. Sua função no filme é unicamente trazer charme e beleza à produção, o que com certeza, ela fez muito bem. Apesar de sua interpretação se apresentar deficiente em alguns momentos, a ex-modelo merece um desconto por ser seu papel de estréia (que por sinal, ela se saiu infinitamente melhor do que nossa brasileira Gisele Bündchen no fraquíssimo “Táxi”), e ela já provou ao mundo que é uma boa atriz em filmes como em “Quero ser John Malkovich”.

Não posso deixar de destacar um coadjuvante que chama a atenção nessa produção: o cão Milo. O cachorro de Stanley Ipkiss protagoniza diversas cenas divertidas, incluindo a da seqüência final, que é provavelmente, a cena mais engraçada da produção (melhor não contar para não estragar a surpresa para quem ainda não assistiu). O cão Milo é, depois de Jim Carrey, sem dúvidas, a melhor atuação do filme.

“O Máskara” é o tipo do filme que por mais que o tempo passe, ele nunca parece ultrapassado perante sua enorme grandeza, e nunca enjoamos de assisti-lo novamente. Por mais que já conheçamos as piadas, nunca deixamos de nos divertir. Dos créditos inicias até a eletrizante seqüência final, podemos acompanhar 98 minutos de pura diversão sem compromisso, marcados por um show de efeitos especiais. E quanto a Jim Carrey, ele é o grande comandante deste espetáculo com todo mérito.

Cinema com Rapadura Team
@rapadura

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