Cinema com Rapadura

OPINIÃO   segunda-feira, 02 de janeiro de 2006

Mundo de Andy, O

Forman criou em "O Mundo de Andy" uma pequena obra-prima do cinema. Num tempo em que Hollywood e o mundo se preocupam somente com o "visual", com aquilo que é supérfluo, este filme traz a dignidade e a magia do cinema novamente as telas.

Simplesmente, me faltam palavras para começar a falar sobre este filme. A primeira vez que eu o vi foi em 2000. Já havia admirado a face dramática de Jim Carrey, mas fui meio desacreditado a locadora buscar o tape (ainda não tinha DVD). Pudera, nunca havia ouvido falar de Andy Kaufman (1949-1984) na minha vida toda. Logo após de terminar o filme, estava estupefato. Pois, finalmente, achei um filme que caracterizava o meu sonho. Daqui a pouco entenderão.

O filme mostra a vida do controverso comediante americano, que sabia como ninguém provocar a platéia (seja provocar riso ou fúria). Muitos consideravam o humorista como o "mais sem graça do mundo", já que suas brincadeiras eram totalmente irresponsáveis. Ainda há pessoas que acreditam que sua morte também foi uma brincadeira. Mas, para chegar ao topo, Kaufman teve a ajuda do empresário George Shapiro (Danny DeVito), que o descobriu em um bar onde comediantes amadores se apresentam. Shapiro se oferece para agenciar Andy, mas não sabia das excentricidades que ele tinha. Não demora muito a descobrir. Mas mesmo assim, arruma emprego a ele no famoso show de TV Saturday Night Live, onde no início se apresenta com sucesso. Atinge o auge participando de um seriado chamado "Taxi", exibido em rede nacional. Mas o seu gênio dificil começa a estragar as coisas. Com a ajuda de seu parceiro Bob Zmuda (Paul Giammati), ele forja brigas com o elenco do "Saturday…", entre outras loucuras, como organizar combates de luta-livre com mulheres – onde ele luta com elas. Tudo isso reflete em seu trabalho. Aí acompanhamos a ascensão e queda com final trágico do homem que ainda hoje causa polêmica, pois muitos o chamam de gênio, outros de louco.

Milos Forman, diretor de clássicos como "Amadeus" e "Um Estranho no Ninho", retrata a vida de Andy Kaufman com destreza e habilidade. Sua direção consegue mostrar a loucura e a genialidade do comediante, que entre outras coisas, ao se apresentar para uma platéia no auge do sucesso de seu personagem na sitcom "Taxi", vendo-se contrariado – a platéia queria que ele encarnasse o mecânico abobalhado que ele fazia na TV – pegou um exemplar de um livro de F. Scott Fritzgerald e leu a eles. Inteiro. Realmente não se sabe se ele era louco-de-pedra ou um gênio da arte de fazer rir.

O grande ponto do filme é Jim Carrey, que mereceu o Globo de Ouro e merecia muito mais por esse filme. Simplesmete perfeito. Ele encarna Andy de uma tal maneira que chega-se a confundir os dois. O Oscar, com o seu habitual conservadorismo, esnobou a caracterização arrebatadora de Jim, que não só merecia uma indicação mas como levar a estatueta também. E todos – TODOS – os coadjuvantes estão ótimos. Danny DeVito (que trabalhou com o Andy verdadeiro na sitcom) interpreta o empresário Shapiro com dignidade; Paul Giammati (que esse ano chegou ao auge com "Sideways") também passa confiança no papel do braço direito de Kaufman, Bob Zmuda. E até Courtney Love está ótima, no papel da namorada.

Resumindo: Forman criou em "O Mundo de Andy" uma pequena obra-prima do cinema. Num tempo em que Hollywood e o mundo se preocupam somente com o "visual", com aquilo que é supérfluo, este filme traz a dignidade e a magia do cinema novamente as telas. Para aqueles que se cansaram de ver mais e mais "arrasa-quarteirões" nos cinemas, Milos Forman e Jim Carrey trazem a emoção, a comoção diante de uma história genial, e melhor, uma história real.

Tudo aquilo que eu, particularmente, gostaria de fazer no cinema está aqui, neste filme. Rimos e choramos sinceramente com todas as peripércias de um artista único, sem precedentes. Genial. Tanto Andy Kaufman, quanto Milos e Jim. Quando Kaufman canta uma musica, lá pelo fim do filme (In this friendly, friendly world…) é de cortar o coração mais duro. E quando um personagem criado por ele, chamado Tony Clifton (guarde este nome, se você ainda não viu o filme) canta "I Will Survive", as emoções se misturam. Saem o riso e o choro, ao mesmo tempo.

Sem dúvida, um filme inigualável. Injustiçado pela Academia, o filme teve o reconhecimento devido no Festival de Berlim, ganhando o Urso de Ouro de Direção para Milos Forman. Nada mais justo para uma película impagável.

Cinema com Rapadura Team
@rapadura

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