Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sexta-feira, 17 de março de 2006

Vida e Morte de Peter Sellers

"A vida e a morte de Peter Sellers" é um filme essencial para se entender a figura quase mítica que se tornou Peter Sellers, um dos grandes atores do século XX.

Um dos artistas mais engraçados e complexos de seu tempo, Peter Sellers morreu no dia 24 de julho de 1980, por causa de problemas no coração. Deixou um legado de personagens inesquecíveis, sendo o maior deles o Inspetor Closeau, da série clássica “A Pantera Cor de Rosa”, de Blake Edwards. Mas sua vida particular ainda era um mistério para o publico e para os milhares de fãs do ator. Era. O diretor Stephen Hopkins (obscuro no cinema, mas famoso diretor de séries), transportou para as telas uma brilhante peça sobre a vida de um dos maiores comediantes que já pisou em Hollywood. E para tanto, escolheu o elenco certo: basta dizer que Geoffrey Rush está irreconhecível. Ele já era reconhecido como um verdadeiro camaleão, mas nesse filme ele se supera, “incorporando” os trejeitos, a fala e o gênio cômico de Sellers.

Tudo começa na década de 50, quando Peter fazia parte de uma trupe de radio-teatro e tinha sonhos de ser ator. Mas nunca era chamado pois os produtores achavam que ele não levava jeito para trabalhar no cinema. Enfim, achou uma maneira de driblar a desconfiança: vestiu uma fantasia, aplicou uma maquiagem e foi a uma audiência com uma produtora, que acabou convencida de seu talento e o contratou. Assim iniciou-se uma das carreiras mais sólidas do cinema.

Rush está magnífico na pele de Peter, incorporando todo o carisma que ele tinha e toda a complexidade de sua personalidade. Aliás, Peter quase não tinha personalidade, já que ele se aprofundava tanto nos personagens que era impossível dizer quem era ele realmente. Todo o processo de criação dos personagens interpretados por ele é mostrado, em especial a criação de Closeau, seu personagem mais famoso. Também é visto a decadência, num período em que drogas e sexo tomaram conta da vida do comediante. E é aí que o filme é primoroso: por mostrar a vida pessoal de Sellers, que era dominado pela mãe mesmo depois de adulto, e aqui essa relação é mostrada com clareza. Quando criança, ele era muito mimado pela mãe, que sempre quis que ele alcançasse o sucesso a todo custo. Ela até mesmo menosprezava o pai de Peter, que era indiferente a isso tudo.

Também é mostrada a relação do ator com os diretores com o qual trabalhou, como o genial Stanley Kubrick (interpretado por Stanley Tucci), e principalmente com Blake Edwards (John Lithgow), com quem teve a famosa parceria em Pantera Cor de Rosa, e com quem tinha uma relação de amor e ódio. E evidentemente, suas esposas, Anne Howe (Emily Watson) e Britt Ekland (Charlize Theron). Enfim, mostra toda a intimidade do artista. O interessante mesmo é o roteiro, que mostra todos os conflitos vividos por Sellers do ponto de vista do mesmo, como se fosse uma encenação. Por exemplo, quando ele está em uma das suas discussões com sua esposa Anne, há um rápido corte de cena onde ele aparece interpretando a esposa. Uma bela sacada dos roteiristas para mostrar quão complicada era a figura do ator.

O filme só não foi indicado a nenhum Oscar porque foi feito diretamente para a TV, mas teve indicação a Palma de Ouro em Cannes, venceu 3 Globos de Ouro e teve diversas outras indicações a outros prêmios. É um filme essencial para se entender a figura quase mítica que se tornou Peter Sellers, um dos grandes atores do século XX.

Cinema com Rapadura Team
@rapadura

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