Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 08 de outubro de 2005

Wallace e Gromit: A Batalha dos Vegetais

Tudo em torno do filme é infantil, até demais. Esse filme quebra uma linha dos filmes de animação que agradavam as crianças, mas não deixavam por baixo a diversão de adolescentes e adultos.

Dia das crianças chegando e vários atrativos aparecem: propagandas infantis, jogos infantis, filmes infantis. Enfim, uma legião de infantilidade a fim de criar um arsenal de escolha para os pais. A televisão se enche de propagandas de bonecos (estão reparando o quanto esses bonecos de hoje em dia têm um jeitão “bombado”?), brinquedos e tudo quando é para agradar os mais baixos, fazendo com que esses quase obriguem seus pais a comprarem-nos. Dentre todas as opções, uma que sempre se revela bastante eficiente é o cinema.

Nos últimos tempos, os filmes de animação, mesmo sendo infantis, vinham satisfazendo todas as idades. Uns porque gostam da animação em si, outros pelas piadas e a maioria pelo gênero mesmo. Mas, ‘Wallace e Gromit: A Batalha dos Vegetais’ acaba de representar uma péssima barreira em uma contínua que vinha se mostrando bastante prazerosa. Não que ele seja ruim, porém, só é aproveitando por um gume, afastando outros tipos de público.

O filme sugere dois companheiros: Wallace e Gromit, caçadores de coelhos (!) que afligem as hortas e vegetais supercrescidos da vizinhança. Não que eles sejam reais caçadores, pois não tem nenhum propósito letal para com esses coelhos. O que eles querem mesmo é manter a “sobrevivência” de tais vegetais para uma tradicional festa anual: a festa que salva o dia-a-dia da cidadezinha. Nela, o possuidor do maior vegetal ganha um prêmio. Porém, dentre as invenções ao estilo bugigangas de Wallace, uma é usada de forma equivocada, culminando em uma série de acontecimentos envolvendo vegetais, coelho gigante e perseguições a tal. Tudo para manter a ordem até o grande dia festivo. Como em casa de ferreiro, espeto de pau, o problema parece mesmo ser interno à dupla, causando um grande alvoroço do simpático cãozinho Gromit.

Esse Gromit fez a alegria da meninada. Era só ele apresentar um trejeito pouco divertido que o cinema caia em graça de ânimo. Infelizmente, ele é um personagem bobo demais, que sequer fala. Em mim, falando sinceramente, causaram uma agonia tremenda algumas de suas cenas. Por incrível que pareça, é dele a melhor piada da projeção. Uma comédia visual quando ele e o outro cachorro (um canino inimigo) param e buscam em seus bolsos e bolsas uma moedinha para colocar no avião, tipo aqueles de brinquedo toscos dos shoppings – que por sinal caíram em desuso -, os quais ficam rodando, rodando e rodando, ah, além de fazer uma insuportável zoada de arma laser; “pim-bim-bim-bim!”.

Nick Park, o canivete suíço do filme (diretor, produtor e roteirista) vinha de um filme do mesmo estilo, “A Fuga das Galinhas”, que não agrada, mas não fica muito lá em baixo não. As películas feitas usando massinha animada foi bem utilizada, mas em ‘Wallace e Gromit’, como elas não eram tão novidade assim, caíram na normalidade. Outro dado referente ao filme é que em 1991, fora produzido por Nick Park, um curta sobre a dupla, chegando a ser indicado ao Oscar de Melhor Curta Animado.

A dublagem de Wallace está bem colocada, como a dos demais. Mas quem rouba a cena em termos de fala, quer dizer, de não-fala – aaaaah, não sei dizer – é Gromit. O cachorro mudo não dá nem um latido sequer, mas preenche muito bem sua função calada com caras e bocas, e gestos também. Não chega a ser estupendo, ou um personagem que será lembrando falando-se em animação, como o Sid do “Era do Gelo” e os Pingüins do “Madagascar”, entretanto, preenche bem as lacunas requisitas ao seu personagem.

Para criança, uma piadinha qualquer vira festa. O riso “come solto” quando um animalzinho inteligente dá uma tirada irônica ou engraçadinha. E para os outros? Para os outros: bolotas! É assim que considero “Wallace e Gromit”.

Para ilustrar bem isso, ao sair do cinema me deparei com a seguinte pergunta de uma menina em êxtase plena por conta do filme:
– Paaaaai, gostou do filme?
Ele, singelamente e olhando de lado cabisbaixo, responde:
– É…

Cinema com Rapadura Team
@rapadura

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