Cinema com Rapadura

Críticas   sexta-feira, 01 de setembro de 2017

Dupla Explosiva (2017): quando uma piada ruim dá origem a outra pior

Samuel L. Jackson e Ryan Reynolds se juntam como protagonistas de um filme que conta com o mesmo diretor de "O Mercenários 3" e com outros nomes de peso, como Gary Oldman e Salma Hayek. O elenco consegue entregar uma boa comédia?

Há quem diga que a comédia é um gênero fácil, mas trata-se de um dos modelos mais difíceis de lidar, justamente por se manter muito próximo do limite entre o engraçado e o bobo. “Dupla Explosiva” passa fácil desse limite, vivendo intensamente a segunda opção.

Na trama, Michael Bryce (Ryan Reynolds, de “Deadpool“) é um dos melhores guarda-costas do mundo, quando sua carreira começa a desabar por conta de um desastre durante um trabalho. Fora dos holofotes, ele entra de favor numa missão para levar um perigoso assassino de aluguel (Samuel L. Jackson, de “Kingsman: Serviço Secreto“), que precisa testemunhar na Corte Internacional de Justiça. Por anos eles estiveram em lados opostos, mas a partir de agora terão que aprender a trabalhar um com o outro, colocando as diferenças de lado para sobreviverem e concluírem a missão de chegar a tempo ao julgamento.

A busca constante do roteiro é pela piada óbvia, sucedida de uma nova piada inspirada pela primeira. Por vezes, existe até uma terceira tentativa de encadeamento a fim de arrancar riso da audiência. O resultado é que: se uma for ruim, todas as demais seguem o estilo. Dizer que todas não funcionam é exagero, entretanto, diante do abuso de gags clichês, a sugestão cabe, pois até as ideias realmente boas são comumente escondidas por uma réplica não tão boa quanto. Além de desacelerar a projeção do filme e seus personagens, o erro também origina várias cenas longas e a constante quebra do timming cômico. Isso tudo é fruto da necessidade de não deixar nem Samuel L. Jackson, nem Ryan Reynolds saírem dali com apenas um nome sendo o destaque. O tiro acaba saindo pela culatra e ambos tornam-se desinteressantes.

Dono de fotografia extremamente atrapalhada, o longa tem apenas uma sequência de ação realmente interessante e bem produzida, no caso a que se passa em Amsterdam. Uma das falhas da fotografia reside na constante utilização de um incomodo filtro azul, concebido para burlar a percepção da exagerada troca de qualidade da câmera (ou lente), bem como da destoante iluminação quando há a mudança de estúdio para locação. O filtro não muda nem de noite, nem de dia, muito menos quando a locação é outra. Em estúdio, o diretor Patrick Hughes utiliza bastante fundo verde e, a fim de escondê-lo, escolhe estourar uma incomoda luz na silhueta do ator que se apresenta à frente do plano. Suaviza a sensação de colagem a um fundo falso, mas ganha-se a sensação de que todos em destaque carregam uma luminária presa às costas; erro raro, que demonstra amadorismo e que também pode ser visto em outro filme do mesmo diretor, no caso, “Os Mercenários 3″ ou no recente em “Baywatch – S.O.S Malibu” (de 2017).

Não há construção de personagens, mesmo em se tratando de dois atores experientes (um bem mais que o outro, é fato!). Samuel L. Jackson repete trejeitos de vários personagens seus e constrói uma miscelânea que denota pressa ou automação. Ryan Reynolds entrega características que não condizem com o que o roteiro parecia pedir, ora ele é um zero à esquerda, ora ele é o melhor do mundo. Apesar dessa fluidez do personagem conversar com o prólogo, as mudanças são bruscas e atrapalhadas, perdendo, pois, a naturalidade que o ator costuma ter e que foi bem apresentada no seu trabalho como Deadpool.

No elenco secundário temos Gary Oldman (“Batman Begins”) sendo totalmente prejudicado por um texto fraco que o tira constantemente de um possível destaque – usar um ator desse calibre para suportar tão fraco personagem é quase um ultraje. Salma Hayek (“Gente Grande”) atua praticamente em um ambiente só e de maneira repetitiva, além de um flashback que surge meio do nada, não dá para sentir dedicação alguma da atriz. O elenco secundário conclui-se com Elodie Yung (a Elektra da série “Os Defensores”) cuja maior parte do filme é se postando a apenas falar ao telefone, bem como Joaquim de Almeida (de “Velozes e Furiosos 5 – Operação Rio”), esse sem tanto peso na história, mesmo que houvesse potencial diante da essência de seu personagem.

Quando o terceiro ato inicia, o ritmo começa a mudar e o filme vai corrigindo muito do que havia dado de errado. A relação dos personagens principais (afinal, é um filme de dupla) finalmente se fortalece e a resolução, por mais piegas que seja, é efetiva dentro do espectro desse filme. Se fosse mais curta,  conseguiria valorizar mais esse efetivo “soco” final.

Chama atenção que, apesar de seguir a tendência recente dos filmes serem mais violentos, mesmo que isso os dê uma restrição maior de idade, ainda assim “Dupla Explosiva” não consegue se destacar e ultrapassar a trágica barreira do “bobinho”. Em resumo, é um filme que emprega um esforço hercúleo para empolgar e desempolga rapidamente, não bastando sequer um minuto para isso acontecer. Enfadonho e esquecível completam sua definição.

Raphael PH Santos
@phsantos

Compartilhe