Cinema com Rapadura

Críticas   quarta-feira, 24 de maio de 2017

Piratas do Caribe: A Vingança de Salazar (2017): o pirata cansou!

Em mais um show pirotécnico sem emoção, a franquia demonstra cansaço extremo e falta de originalidade.

A cinessérie “Piratas do Caribe” começou extremamente desacreditada. Afinal, era um longa de alto orçamento baseado em uma atração de parque de diversões. Com uma arrecadação estrondosa e o transbordante carisma do ator Johnny Depp no papel do hilário pirata Jack Sparrow, a “franquia” tornou-se franquia de verdade e a Disney apostou em uma trilogia épica. Apesar das bilheterias estratosféricas, é quase um consenso que os dois longas subsequentes não conseguiram alcançar o espírito divertido do primogênito e quatro anos depois, em 2011, “Piratas do Caribe: Navegando em Águas Misteriosas” aportou nos cinemas, com parte do elenco renovado, e praticamente não agradou a ninguém e ainda deixou uma pergunta no ar: teria a franquia se esgotado? Agora, seis anos depois, o pirata bêbado e atrapalhado Sparrow está de volta em “Piratas do Caribe: A Vingança de Salazar“, que tenta emular suas origens e pretende responder positivamente à pergunta. Pretende.

Em uma série interminável de cenas de ação e correrias incansáveis, sabemos que Jack voltou a ser um pirata sem navio e que está jurado de morte por um capitão espanhol, o Salazar do título, que foi enganado pelo corsário e tornou-se um morto vivo junto com a sua tripulação. Absolutamente por acaso, Sparrow esbarra em Carina Smyth (Kaya Scodelario, de “Maze Runner: Prova de Fogo”), uma garota que será executada por bruxaria e que é a chave para acabar com a tal maldição dos “mortos vivos”. Não obstante, temos também a história de Henry Turner (Brenton Thwaites, de “Deuses do Egito”), filho de Will Turner (Orlando Bloom”, de “O Hobbit”), que deseja libertar seu pai de seu tormento eterno no navio submerso “Holandês Voador”. O filme todo, basicamente, é o encontro fortuito destes personagens e de mais alguns outros, como o Capitão Barbossa (Geoffrey Rush, de “A Menina que Roubava Livros”), em busca de um artefato mágico que irá resolver os problemas de todos eles.

Mesmo com um apuro visual muito interessante e efeitos bem construídos, os diretores Joachim Rønning e Espen Sandberg (“A Aventura de Kon Tiki”) não conseguem se distanciar das estripulias consecutivas e maçantes que já são peculiares nos últimos filmes da franquia. Por mais que queiram demonstrar frescor em alguns momentos, como nas panoramas aquáticas – vistas de forma muito mais orgânica e fresca no filme anterior da dupla – ou nas guerras de canhões “quase que realistas”, eles se embolam no praxe círculo contínuo [cena de ação – gag – cena intensa], não dando chance alguma para um possível desenvolvimento de seus personagens. E se a direção não faz mágica, é também porque o roteiro não ajuda no feitiço. O roteirista Jeff Nathanson, autor de pérolas como “Velocidade Máxima 2” e “Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal”, e que também está escrevendo o texto do vindouro “live action” de “O Rei Leão”, tenta emular a história de “Piratas do Caribe: A Maldição do Pérola Negra”, surfando na nova onda de trazer o nostálgico e mixá-lo com o novo, como muito bem fez o “Jurassic World”, mas falha miseravelmente na execução, tornando o longa em uma colcha de retalhos repleta de coincidências absurdas… até mesmo em se tratando de um filme com marinheiros zumbis e tridentes mágicos.

No campos das atuações, fica evidente que Johnny Depp cansou. Sua performance como Jack Sparrow está muito mais exagerada e bem menos engraçada. Aqueles maneirismos que o ator criou de forma tão brilhante no passado, tornaram-se cacoetes que transformam o personagem quase que em um boneco inflável de posto de gasolina. O elenco principal, – sim… eles quiseram tanto trazer os aspectos do primeiro filme para cá, que relegam o capitão Sparrow para coadjuvante de luxo mais uma vez!! – o casal Thwaites/Scodelario, tem tanto carisma quanto uma mesinha de centro e seus momentos de tela – quando eles não estão correndo ou pulando – tornam-se embaraçosos. Até mesmo o grande Javier Barden parece se repetir no papel de vilão com sotaque. Para Rush então, sobrou um desfecho pra lá de ruborizante.

“Piratas do Caribe: A Vingança de Salazar” é uma espécie de “Transformers” aquático: muita ação que você mal entende o que está acontecendo na tela – existe até um navio que se transforma em um monstro…acredite!! -, más interpretações, piadas sem graça e uma história que não faz sentido algum. Assim como a franquia dos robôs metamorfos, que conversa com um público ávido por explosões e que está pouco ligando para a história, este “Piratas” pode agradar em cheio. Porém, esta mesma audiência, assim como os tempos, é inconstante e imprevisível. E o que vai restar disso tudo quando a poeira baixar e ele for esquecido, como também é praxe para este tipo de filme, esta será uma vazia e cansativa experiência de infinitas duas horas e meia… e olha que tem cena pós-crédito!!

Rogério Montanare
@rmontanare

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