Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quinta-feira, 25 de agosto de 2016

Águas Rasas (2016): um filme raso, mas eficiente na sua proposta

Mesmo sendo um tanto superficial e, bom, raso, o longa é um bom entretenimento fast-food, graças ao bom desempenho de sua protagonista e uma direção segura.

O título “Águas Rasas” não poderia ser mais oportuno. Embora deveras competente em seus intentos, o longa dirigido por Jaume Collet-Serra (“A Órfã”) e escrito por Anthony Jaswinski passa longe de ser profundo ou desafiador, com sua premissa básica pouco divergindo da descrição básica de uma história em três atos.

Em uma trama em três atos, primeiro o herói é levado a subir em uma árvore, em seguida jogam pedras nele para, finalmente, tentar descer da árvore. Troquemos pedras por tubarões e a árvore pelo mar e temos a trama do longa.

Após a morte de sua mãe, a jovem Nancy (Blake Lively) parte em uma viagem ao México para conhecer a praia escondida onde sua mãe descobriu estar grávida e surfar um pouco. Nesse ambiente paradisíaco, a moça acaba sendo levada pela maré (e um pouco por sua curiosidade) para o ponto de alimentação de um tubarão, ficando ilhada em uma pedra ao tentar escapar. Ferida, sangrando e sem mantimentos, Nancy agora luta para sobreviver.

Para dar alguma substância à esse esqueleto básico, Jaswinski acrescenta um Wilson (ou Sexta-Feira, se o caro leitor preferir “Robinson Crusoé” a “Náufrago“) para Nancy, aqui uma gaivota ferida apelidada de Steven Seagull, além de uma metáfora sobre perseverança e sobrevivência com a subtramas quanto à morte recente da mãe da protagonista.

Felizmente, Blake Lively consegue segurar os ágeis 86 minutos de projeção com carisma e rara entrega em uma produção do gênero. A atriz convence mesmo nos momentos mais absurdos da produção, como a sutura improvisada de Nancy ou o diálogo esquisitíssimo e forçado com o seu pai via telefone e faz o público torcer pela sua escapada e não apenas ignorar as sandices do texto, mas até embarcar em algumas, como na passagem do transeunte bêbado. A boa maquiagem aplicada na atriz também ressalta seus ferimentos e sua exposição ao sol durante seu período ilhada, ajudando a construir a situação de risco na qual Nancy se encontra.

Por sua vez, o diretor Jaume Collet-Serra também faz sua parte. Bem versado em como fazer tramas de suspense, o diretor aproveita o primeiro ato para deslumbrar a audiência com as belezas naturais do cenário, fazendo um bom trabalho, ao lado de seu diretor de fotografia habitual, Flavio Martínez Labiano, em retratar as cenas de surfe e até jogar um ou outro plano subjetivo com a fauna marinha. O crescendo até o incidente com a baleia é bem orquestrado e o diretor segura bem a plateia quando sua protagonista fica isolada.

Embora a artificialidade de alguns conflitos só se compare com a do tubarão digital em seus ataques (como diria Marty McFly em “De Volta Para o Futuro 2“, “O tubarão ainda parece falso”), o longa cumpre sua função de diversão fast-food com louvor, embora seja deveras formulaico e esquecível.

Thiago Siqueira
@thiago_SDF

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