Cinema com Rapadura

OPINIÃO   terça-feira, 26 de maio de 2015

Cake – Uma Razão para Viver (2014): o outro lado de Jennifer Aniston

Mesmo tendo boas sacadas, grandes interpretações e debatendo temas importantes, o filme não dialoga com o público e soa mal realizado.

267058.jpg-r_640_600-b_1_D6D6D6-f_jpg-q_x-xxyxxÉ sabido que Jennifer Aniston é uma estrela de Hollywood. Desde que despontou na série de tevê americana Friends (1994), a atriz sempre teve seu nome nas manchetes. Ora com um relacionamento, ora com seus habituais papeis em comédias românticas. No entanto, poucos de seus trabalhos foram elogiados e comentados pela crítica mundial, talvez o thriller “Fora de Rumo” (2005) ou a dramédia “Marley e Eu” (2008) tenha tido certo destaque, além daquilo que já lhe é comum.

Todavia, com o anuncio de que em “Cake – Uma Razão para Viver”, Aniston faria um papel totalmente dramático e com forte teor depressivo, e que pelo desempenho havia sido indicada ao SAG Award (Sindicato dos Atores), ficamos deveras surpreso. Ainda assim, a não indicação ao Oscar deu as más línguas motivos de desconfiança, fazendo com que a curiosidade do público aumentasse ainda mais.

Dirigido por Daniel Barnz, que veio do pavoroso “A Fera” (2011), este quase independente longa traz a história Claire Simmons (Aniston), uma mulher traumatizada por um misterioso acidente, que leva consigo não só cicatrizes físicas como também psicológicas. E que busca ajuda em um grupo de pessoas que sofrem de dores crônicas. Claire se depara com um caso de suicídio envolvendo um membro da confraria, a garota Nina (Anna Kendrick), fato que a deixa obcecada e a leva ao ex-marido viúvo, Roy (Sam Worthington). Com quem começa conversar e ter um novo e estranho elo.

É bem verdade que Jennifer Aniston se mostra realmente envolvida com sua personagem e imprime com veracidade a dor que esta enfrenta. A completa isenção de maquiagem (que só existe nas cicatrizes criadas), os olhares distantes e a postura corporal constroem o papel destacado. Em alguns andamentos notamos certa artificialidade, mas nada que comprometa todo trabalho. O problema está no encaixe das cenas ou mesmo no modo que a história é contada. O diretor vai revelando aos poucos o real motivo que deixou Claire naquele estado, através de flashbacks que poderiam funcionar, caso a trama central não fosse tão desinteressante.

Obviamente não temos grandes cenas ou momentos catárticos, já que acompanhamos a vida de uma personagem depressiva, que mesmo estando numa alta classe social, vive em constante ostracismo. Onde nem mesmo casos fortuitos com o jardineiro e encontros carinhosos com o marido, faz com que ela reaja. O que não é justificado, obras até recentes como “Melancolia” (2011) e “Um Novo Despertar” (2011) trabalharam com o tema e se saíram maravilhosamente bem. O que não é o caso aqui, pois a fita se mostra aborrecida e em nenhum momento sentimos pela figura estudada.

Ou seja, mesmo que o filme tenha boas ideias, debata sobre temas pungentes e possua grandes atuações, no total sua realização acaba sendo errática. É algo que não consegue prender o espectador, que não dialoga com o público e que, no fim das contas, não diz muito a que veio. É deveras importante na carreira de Jennifer Aniston, por mostrar uma nova faceta da atriz, mas que se enxergado de forma geral, possui problemas que o prejudicam bastante.

Wilker Medeiros
@willtage

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