Cinema com Rapadura

OPINIÃO   terça-feira, 12 de maio de 2015

O Franco-Atirador (2015): diretor de Busca Implacável entrega mais do mesmo

Apesar da força de seu protagonista, longa é repetitivo e genérico.

O diretor Pierre Morel parece ter encontrado um filão para produzir seus filmes: protagonistas que possuem profissões extremamente perigosas e viris, colocados em situações extremas, normalmente por conta de uma mulher querida ou uma vingança pessoal. Em “O Franco-Atirador”, sua nova parceria é com um dos maiores atores de sua geração, Sean Penn, em mais uma trama repleta de elementos típicos em sua filmografia.

O filme conta a história de Jim Terrier (Sean Penn), um mercenário que trabalhou na República Democrática do Congo em 2006. Para disfarçar sua verdadeira ocupação, ele trabalha para o espanhol Felix (Javier Bardem) como segurança de uma empresa de mineração. Ao mesmo tempo, se envolve com Annie (Jasmine Trinca), uma médica voluntária em causas humanitárias naquele país destruído pela guerra civil. No entanto, cerca de dez anos depois de uma missão que fez com que ele tivesse que deixar o continente, ele se torna alvo de outros mercenários que querem um item que ele possui desde seus tempos de profissional. Em sua luta pela sobrevivência, Jim percorre meio mundo, com a ajuda de seu fiel amigo Stanley (Ray Winston) para entender a situação, encontrar os responsáveis por isso e se reaproximar de Annie.

O roteiro, escrito a seis mãos (normalmente um mau sinal) por Don McPherson, Pete Travis e pelo próprio Sean Penn, constrói uma trama genérica, baseada em vingança, com algumas pequenas reviravoltas previsíveis, que leva a um terceiro ato igualmente inócuo.

Porém, acima destes problemas o diretor Jean-Patrick Manchette, que realiza um trabalho vigoroso, exibindo as mesmas qualidades dos dois primeiros episódios da série “Carga Explosiva” e no excelente “Busca Implacável”. As cenas de ação são bem construídas, tanto em seus momentos de tensão como em sua composição geográfica, que permite que o espectador compreenda bem o que acontece, como na sequência da invasão a um apartamento ou a perseguição no interior de uma mansão. Além disso, o diretor sabe como fazer uso do espaço em que seus atores se encontram como parte integrante, e fundamental, daquilo que está ocorrendo em tela.

E como dito anteriormente, o trabalho do elenco principal está bem acima da média. Pena que seus coadjuvantes não tenham espaço para desenvolver seus personagens. Ainda que subutilizada (a única mulher da trama tem pouquíssimas falas e cerca de 10 minutos em tela), Jasmine Trinca consegue transmitir bem o pânico de Annie, bem como sua confusão de sentimentos com toda a velocidade que os eventos acontecem a sua volta. Igualmente desperdiçados surgem Idris Elba e Mark Rylance, como personagens simplórios, que poderiam facilmente ser representados por atores de menor gabarito.

No entanto, tudo aquilo que falta a seus colegas, Javier Bardem e Sean Penn ostentam de sobra. Ao primeiro, cabe uma interpretação mais contida em grande parte do tempo, de modo que seus sentimentos tornam-se perceptíveis em pequenas nuances (artifício que apenas grande atores sabem utilizar). Tais elementos surgem, principalmente, quando ele reage a algo que relacionado a Annie, como na cena em um restaurante.

Já Sean Penn conta com algo que poucas vezes chamou tanta atenção: sua forma física (principalmente quando lembramos que se trata de um homem de cinquenta e cinco anos). O próprio diretor parece tão extasiado com a silhueta do ator, já que coloca seu protagonista, sempre que pode, exibindo sua musculatura avantajada em camisas justas ou até mesmo em cenas de nudez parcial.

Infelizmente, os pontos altos não conseguem suplantar a mesmice do roteiro, o que faz com que o resultado final, e a diversão promovida pelo longa se resuma a boas cenas de ação um bom trabalho de seus atores principais.

David Arrais
@davidarrais

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