Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 06 de setembro de 2014

Hércules (2014): herói grego ressurge na tela em uma divertida aventura

Embora não explore todo o potencial de sua interessante visão do mito do semi-deus grego, esta produção estrelada pelo grandalhão Dwayne Johnson é um bom entretenimento.

HerculesBrett Ratner está longe de ser o melhor cineasta do mundo. O desastroso “A Hora do Rush 3” está aí para provar isso. Mas também está longe de ser o diretor desastrado que seus detratores pregam, com o saldo da sua filmografia sendo amplamente positivo. E, apesar dos pesares, este “Hércules”, sua incursão no mundo dos filmes espadas e sandálias, adiciona mais um crédito à sua conta.

Muitos dos acertos deste longa jaz no carisma de seu protagonista. Dwayne Johnson é o brucutu de ação mais carismático de sua geração e é um intérprete com um bom alcance cômico, característica que o torna deveras simpático junto ao público. Johnson abraçou o papel com paixão e seu entusiasmo se mostra claro na telona. A figura corpulenta e extrovertida do ex-lutador remete ao semi-deus da mitologia grega, algo importantíssimo para o sucesso do projeto.

Isso porque o roteiro é baseado na HQ “Hercules – The Thracian Wars”, o que permite o texto brincar com a noção de divindade e com a percepção que o próprio Hércules e seus conterrâneos tinham dele, em um conceito deveras interessante que é bem explorado pelo longa. Uma proposta bem diferente daquela da última e desastrosa versão do herói grego a chegar na telona e, mesmo também não seguindo a lenda de Hércules fielmente, esta produção mostra um respeito muito maior ao mito, transmitindo a importância da narrativa oral para o nascimento e expansão de uma mitologia.

Mercenário renomado e tido pelo povo como filho de Zeus, o personagem-título viaja pela Grécia acompanhado de uma trupe, aceitando trabalhos que condigam com seu senso moral e assustando seus inimigos com sua fama. Certo dia ele é contatado pelos homens de Cotys (John Hurt), um lorde de Trácia que o contrata para treinar e liderar seu exército contra as hordas de “centauros” lideradas por Reso (Tobias Santelmann), que estão a devastar toda a região. Durante esta missão, Hércules é obrigado a revistar antigos demônios pessoais e decidir qual é realmente o seu papel no mundo.

O grupo dos mocinhos é basicamente formado por arquétipos de RPG, contando com o bárbaro Tídeus (Aksel Hennie), a bela arqueira/ladina Atalanta (Ingrid Bolsø Berdal), o guerreiro Autolicos (Rufus Sewell), o bardo Iolaus (Reece Ritchie) e o mago/vidente Anfiaraus (Ian McShane), algo que faz sentido dentro da narrativa e aproxima os personagens de figuras mais conhecidas do público.

O guião ainda brinca um pouco as expectativas quanto ao vilão principal e a demora em apresentá-lo também acaba justificada, embora a fita ainda apresente um outro antagonista, vivido por um afetadíssimo Joseph Fiennes, que mais constrange que causa temor ou ódio.

Ratner conduz uma narrativa ágil, que flui bem e não cansa o espectador, orquestrando ainda batalhas em grande escala, que usam o potencial físico do protagonista e não fogem da trama. A química entre Dwayne Johnson e seus companheiros de armas é convincente (mesmo que alguns diálogos não ajudem), com o ator trazendo certa força dramática ao arco de seu personagem, e as presenças de Ian McShane e John Hurt conferem ao espetáculo alguma respeitabilidade, especialmente depois do plot twist no final do segundo ato.

O que não quer dizer que se trata de um filme perfeito. Alguns diálogos beiram o ridículo e o expositivo (“E… Caímos em uma armadilha”), enquanto o terceiro ato da trama é tão entupido de clichês que chega a incomodar, indo do “acredite em si mesmo” até um momento que parece ter sido tirado do terço final de “Guerra nas Estrelas”. O design de produção é bastante ambicioso e, na maior parte do tempo, convincente, mas alguns efeitos parecem datados de uma década atrás e acabam por prejudicar o todo. Sem contar a trilha sonora deveras esquecível que embala a aventura.

“Hércules” é uma sessão da tarde divertida, chegando perto de ser um equivalente moderno (e menos charmoso) das antigas aventuras produzidas por Ray Harryhausen. Não é excepcional e nem tenta ser, mas diverte.

Thiago Siqueira
@thiago_SDF

Compartilhe