Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 07 de junho de 2014

Oslo, 31 de Agosto (2011): nas ruas da solidão

Joachim Trier, em seu segundo filme, faz uma crônica sobre solidão nas ruas de Oslo.

osloNos primeiros minutos de “Oslo, 31 de Agosto”, várias pessoas falam sobre o passado, principalmente de como eram suas vidas na cidade de Oslo. Lembranças que remetem a diversas histórias que acontecem no cotidiano. No meio de tantas histórias que ouvimos, o filme irá nos contar uma delas, com um personagem que poderia ser encontrado em qualquer outra cidade.

O personagem em questão é Anders (levando o mesmo nome do ator Anders Danielsen Lie), um ex-viciado em drogas, das mais leves às pesadas, que se encontra em um centro de reabilitação. Após meses em tratamento e completamente limpo, Anders é autorizado a deixar a clínica para visitar Oslo, capital da Noruega, e realizar uma entrevista de emprego.

Apesar da oportunidade, Anders se sente deprimido, pois não tem nenhum objetivo na vida. Mesmo com o apoio da família, dos amigos, ele vive em uma autopiedade que o faz achar que nada dará certo, chegando ao ponto, antes de sair da clínica, de tentar um suicídio. Ao chegar na cidade, decide reencontrar vários amigos e, em uma jornada de lembranças tristes e alegres, o protagonista procura um sentido para viver, mesmo que ele não faça muita vontade para isso.

O ator Lie compõe um personagem melancólico, mas sem se tornar chato, nos fazendo torcer por sua superação, mesmo em momentos que Anders mostra um comportamento egoísta e infantil, não demonstrando a maturidade que deveria ter aos 34 anos. Sempre mantendo um olhar distante, mesmo quando as pessoas estão próximas a ele, evidencia bem a solidão que sente, e a tristeza dos seus olhos, na maioria das vezes, úmidos, reforça o sentimento. E para completar a ótima composição, o seu triste sorriso quando finge que está feliz por algo. É claro que a fotografia de Jakob Ihre ajuda com uma ambientação triste e fria, independente do cenário.

Com um roteiro simples, baseado na peça de “Le Feu Follet”, de Pierre Drieu La Rochelle, e adaptado pelo diretor Joachim Trier junto com roteirista Eskil Vogt, “Oslo, 31 de Agosto” é um filme que fala com o público por meio de sutilezas, sem precisar se apoiar nos diálogos para passar suas mensagens. Não que os diálogos sejam fracos, eles são bem construídos ao contribuírem no desenvolvimento dos personagens, além de conversas avulsas como o papo sobre o game Battlefield que reforça ainda mais a naturalidade que Trier quer colocar no filme.

Essa naturalidade é vista na direção de Trier que, com a câmera na mão, acompanha Anders para onde ele vai, aproximando o público cada vez mais do personagem, nos tornando verdadeiras testemunhas. A variação de desfocagem entre o fundo e o personagem simboliza o afastamento de Anders daquele mundo que, mesmo após seu retorno, ainda se vê perdido. Um mundo que, com o trabalho de som impecável, é muito vivo. Mesmo quando os personagens conversam, ouvimos o barulho do vento, das árvores, das pessoas falando, dos carros passando, tudo em uma mixagem bem equilibrada.

O diretor confirma o seu domínio da obra em excelentes cenas como quando conhecemos a relação de Anders com seus pais em um belo voice over, na rima visual da cortina da janela que se abre no começo do filme e fecha bem no final, e em uma das cenas mais lindas, quando Anders está tomando um café e percebe ao seu redor o quanto as pessoas estão solitárias como ele, e quantas outras histórias estão acontecendo naquela cidade, mostrando que, apesar de ele se sentir sozinho, não é o único.

E se no dia 31 de Agosto termina a história de Anders, imagina quantas ainda não estão acontecendo bem próximo a você.

Guilherme Augusto
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