Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

As Aventuras de Peabody e Sherman (2014): animação não decepciona

Mesmo com muitos clichês, longa consegue divertir as crianças com seus personagens carismáticos e situações inusitadas.

FOX_PBSH_Poster_64x94-20140207073537-1294589-020f6c3b36dd71b71ebf4ddb4e5e3580-600x876Adaptar um desenho animado educativo dos anos 60 em um blockbuster familiar não é tarefa das mais fáceis. Mesmo assim, o cineasta Rob Minkoff, do eterno “O Rei Leão”, aceita o desafio e nos entrega este despretensioso “As Aventuras de Peabody e Sherman”. Contando uma historinha ingênua e bem intencionada, o filme cativa pela simpatia.

Dotado de inteligência e retórica admiráveis, o cão Peabody não conseguiu ser o animal de estimação de nenhuma criança quando filhote. Após ter sua carreira consolidada (incluindo um prêmio Nobel!), ele adota o menino Sherman. Ao longo de seus sete anos de vida, o garoto aprendeu História viajando em uma máquina do tempo construída pelo pai. Versado na disciplina, Sherman se envolve em uma briga com a antipática Penny no seu primeiro dia de aula. Eis que, para acalmar os ânimos e não perder a guarda do menino, Peabody chama os pais da garota para jantar. Pressionado, Sherman revela a máquina a Penny que, encantada com o dispositivo, resolve viajar para o Egito Antigo.

Como já esperado de uma animação da DreamWorks, o longa não decepciona em seus aspectos técnicos. Sem cometer o erro de querer criar uma aparência “real” demais para os personagens, algo que sabotou o razoável “Final Fantasy”, Minkoff aposta em figuras estilizadas que não só homenageiam a animação tradicional em seu design, como são incrivelmente expressivas. Cheio de trejeitos que oscilam do óbvio ao mais sutil, o elenco virtual do projeto não deixa a desejar. Sherman é muito carismático, o que não impede que os coadjuvantes também brilhem, com destaque para a galeria de figuras históricas que inclui desde uma Mona Lisa mau  humorada até um obstinado guerreiro grego.

O 3D do longa não chega a ser um exemplo de boa utilização do recurso, já que os realizadores abusam de planos criados apenas para que algo saia da tela. Há que se ressaltar, contudo, que Minkoff e seu diretor de fotografia compreendem que o 3D exige grande profundidade de campo em planos abertos, empregando-a na maior parte do tempo.

Embalado pela trilha sonora do mestre Danny Elfman (de “O Estranho Mundo de Jack”), o longa tem sua parcela de problemas. Além de apostar em diversas muletas narrativas, o roteiro investe em um arco dramático artificial e pouco convincente para a personagem Penny. Ainda mais complicado do que aceitar a súbita mudança de caráter da garota (do tipo menina-mimada-que-aprende-o-valor-da-amizade), é entender o afeto que Sherman passa a nutrir por ela, em uma situação que representa o clichê dos clichês. Parece até um caso de Síndrome de Estocolmo.

Aliás, “As Aventuras de Peabody e Sherman” é uma animação nitidamente voltada para crianças. Seus personagens repetem as mesmas informações várias vezes e as piadas se limitam a gags físicas. É provável, portanto, que os pais que levam seus filhos ao cinema (e os irmãos mais velhos) se sintam um pouco entediados durante a projeção, já que a película não se preocupa em entreter os mais “crescidos”.

Contando ainda com uma boa dublagem em português (dublador estreante, Alexandre Borges está muito bem como o Sr. Peabody), o filme consegue dialogar com algumas questões contemporâneas. A questão do preconceito direcionado às famílias diferentes do tradicional é levemente abordada, assim como o bullying enfrentado por seus membros. Engraçadinhos e espirituosos, Peabody e Sherman ainda despertarão nas crianças a curiosidade sobre passagens importantes da história da humanidade. Os pais e professores agradecem.

Bernardo Argollo
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