Cinema com Rapadura

OPINIÃO   segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Renoir (2012): o homem por trás do gênio

Drama de época mostra intimidade da família de dois grandes artistas do século XX.

O francês Pierre-Auguste Renoir entrou para a história das artes graças ao seu grande talento na pintura, sendo considerado um dos maiores mestres do Impressionismo. Além disso, ele é o pai do produtor, diretor e roteirista Jean Renoir que, entre outras coisas, produziu e dirigiu o clássico indicado ao Oscar “A Grande Ilusão”, de 1937. Gilles Bourdos escreveu, com o auxílio de Jérôme Tonnerre, e dirigiu “Renoir” para trazer a público o que o levou a tomar esse rumo em sua vida.

“Renoir” tem início com a chegada de Andrée (Christa Theret) à casa do famoso pintor (Michel Bouquet), que precisava de uma nova modelo para seus quadros. À medida que se envolve com o artista, a moça aprende como funciona toda a família, além da relação dele com seus empregados, que sempre se referem a ele como “patrão”.

Além de Andrée, Pierre-Auguste tem a companhia de um de seus filhos, Claude Renoir (Thomas Doret), enquanto sofre com o luto pela perda da esposa e a ausência dos filhos Jean (Vincent Renier) e Pierre (Laurent Poitrenaux), cujas últimas notícias informam que foram feridos gravemente em batalhas da Primeira Guerra, em andamento.

A trama segue com ênfase no relacionamento do pintor com sua nova musa, tirando daí alguns dos melhores momentos da fita, como alguns diálogos inteligentes e a verdadeira “utilidade” da moça. Ela não serve apenas como modelo, mas também como inspiração para o artista. Isso fica visível quando, apesar de exigir que ela mantenha a pose e faça poucos movimentos, está desenhando-a em outras posições.

Além dessa relação, outro elemento que confere bastante força à narrativa são as atuações. Michel Bouquet apresenta traços de realismo tão intensos que nos faz esquecer que estamos assistindo a uma dramatização, dada à grandeza de seu talento. Igualmente competente surge Christa Theret em sua construção da jovem Andrée. Além de sua beleza estonteante e incrível semelhança com a verdadeira musa do pintor, a moça convence em todos os momentos que está em tela, seja em rompantes de fúria ou explosões de tristeza e frustração.

Do elenco principal, a única peça levemente dissonante é Vincent Renier (mais pelo espaço que lhe é dado pelo roteiro do que pelo trabalho do ator), no papel do filho mais velho da família. Jean é um personagem aborrecido e desinteressante, que possui poucos atrativos que justifiquem o amor de Andrée. O único momento em que desperta algo positivo é em um confronto com um comerciante na estrada.

Outro grande trunfo do filme reside em seus aspectos visuais. A fascinante recriação de época é resultado perfeita harmonia os cenários, paisagens, figurino e demais elementos de cena. A fotografia conclui tal atmosfera de forma magistral. Nos dois primeiros atos o uso de cores quentes constrói planos que poderiam facilmente ser assinados pelo personagem título. Já em seu terceiro ato, a paleta de cores muda para tons frios e uma escala de cinza, para refletir o clima melancólico que toma conta da projeção.

Curiosamente, o que deveria amarrar todo o trabalho se torna seu maior problema. O desempenho de Gilles Bourdos na direção, em conjunto com a sua equipe de montagem, deixam o longa com um ritmo enfadonho e maçante. Felizmente, o espetáculo visual que acabamos de presenciar compensa grande parte dessa deficiência.

David Arrais
@davidarrais

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