Cinema com Rapadura

OPINIÃO   segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Muita Calma Nessa Hora 2 (2013): uma coletânea de esquetes sem graça

Uma tentativa frustrada de fazer sátiras à cultura pop nacional.

CalmaEm 2010, o diretor Felipe Joffily comandou a produção “Muita Calma Nessa Hora”, sobre um grupo de amigas que fazem uma viagem em busca de um novo rumo para suas vidas. Apesar da falta de qualidade, o filme fez muito sucesso, com mais de 1,3 milhão de espectadores nos cinemas brasileiros. Com isso, eis que alguns anos depois, o diretor volta à cena (com roteiro de Bruno Mazzeo), com o intuito puro e simples de aumentar o caixa nas bilheterias.

Na trama, Tita (Andréia Horta) voltou de Londres após três anos tentando a sorte por lá, Aninha Fernanda Souza) continua indecisa sobre tudo em sua vida, Mari (Gianne Albertoni) é agora assessora de Casé (Alexandre Nero) em uma empresa de eventos responsável por um festival de música no Rio de Janeiro e Estrella (Débora Lamm) terminou uma viagem de carro pela América do Sul e quer entregar a herança que recebeu de sua avó materna na Argentina para Pablo (Nelson Freitas), seu pai que ela conheceu em Búzios.

A partir daí começa uma obra complexa. Não por sua temática ou um profundo estudo de personagens, mas sim por ser algo inexplicável, sem qualquer lógica ou uma trama que justifique minimamente seus intermináveis 90 minutos de projeção, repletos de piadas batidas e sem graça.

Um dos maiores problemas (que não são poucos) do roteiro é a falta de coesão e direcionamento. As histórias paralelas (impossível chamar de subtramas) que ocorrem possuem pouca ou nenhuma ligação com a trama principal. Qual a necessidade do envolvimento de Pablo com criminosos (além de uma referência herética a “O Poderoso Chefão”)? Ainda que a sutil crítica aos jovens que se aventuram no exterior seja interessante, para que perder tanto tempo com a família de Tita? Que tipo de pessoa contrataria Aninha para o trabalho que ela vai executar? Como funcionaria aquela resolução para o conflito do terceiro ato?  Nada disso tem razão para acontecer.

Porém, quando parte para as sátiras, o filme fica um pouco mais suportável. Se o nome Los Cunhados é cretino, sua sátira aos fãs e “mística” em torno da banda em que se espelha na vida real é divertida. O mesmo efeito ocorre com a personificação de Renan (Mazzeo), uma mistura de Latino com Michel Teló, e suas ridículas composições de cunho sexual. Por outro lado, se a escolha do sobrenome do repórter interpretado por Nizo Neto e a participação de Emílio Orciollo Neto são leves chistes, o efeito da novela “Avenida Brasil” em um momento tenso de um personagem surge desnecessariamente anacrônico.

As interpretações estão abaixo da crítica, exceto por Alexandre Nero, que consegue transformar um chefe boçal e grosseiro no personagem mais cativante do longa; e Daniel Filho, que, por aparecer pouco tempo, ainda consegue manter um pouco de dignidade. No entanto, alguns trabalhos estão constrangedores, como Hélio de La Peña (que interpreta todos os seguranças do festival), Paulo Cintura, Marco Luque (com um mullet ridículo) e Otávio Mesquita. Além deles, reaparecem personagens do primeiro filme para repetir exatamente as mesmas piadas, como a cartomante charlatã (Heloísa Perissé), o fã de Chiclete com Banana (Lúcio Mauro Filho) e Augusto Henrique (Marcelo Adnet), o paulista babaca de sotaque irritante.

E, para coroar o trabalho, surge a direção de Felipe Joffily, que se mostra incapaz de dar qualquer coerência àquilo que está filmando. Além disso, a montagem tosca abusa de cortes frenéticos para dar destaque a frases de efeito sem graça, em cenas de poucos segundos, baseadas em esquetes, não em uma estrutura para contar uma história.

Além de não possuir uma história minimamente atraente, “Muita Calma Nessa Hora 2” é uma miscelânea de todas as fórmulas batidas das comédias televisivas: celebridades instantâneas (não poderia faltar uma referência ao viral ‘Rei do Camarote”), bandas variadas para atrair público, merchandising agressivo e inadequado dos patrocinadores e famosos da TV vociferando palavrões. Porém, o sucesso certo nas bilheterias deve abrir, infelizmente, espaço para mais um episódio dessa terrível “franquia”.

David Arrais
@davidarrais

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