Cinema com Rapadura

OPINIÃO   terça-feira, 14 de janeiro de 2014

De Repente Pai (2013): pouco mais que uma comédia descartável

Vince Vaughn e sua fórmula recorrente de fazer comédia.

De Repente PaiEm 2011, Ken Scott escreveu, em parceria com Martin Petit, a comédia francesa “Meus 533 Filhos”, sobre um homem que se tornou pai biológico de centenas de crianças por meio de doações de esperma. Como a criatividade, pelo menos para comédias, está se tornando cada vez mais rara em Hollywood, ele foi convidado a fazer a versão americana para sua obra.

“De Repente Pai” conta a história de David Wosniak (Vince Vaughn), motorista do caminhão do frigorífico da família. Ele é um homem endividado, que tem problemas em seu relacionamento com Emma (Cobie Smulders), sua namorada que acabou de descobrir que está grávida, e também não é respeitado pelos irmãos ou pelo pai, por conta de suas mancadas constantes. Seu único amigo é Brett (Chris Pratt), um advogado pai de quatro crianças. Porém, a vida de David sofre uma grande reviravolta quando ele recebe a visita do advogado Williams (Damian Young).

Williams representa uma clínica de fertilização que recebeu mais de seiscentas doações de David. Porém, isso causou um problema: seu esperma foi solicitado centenas de vezes, o que fez com que ele se tornasse pai biológico de nada menos que 533 filhos! E agora, 142 desses filhos moveram uma ação contra a clínica para descobrir quem é seu pai biológico.

A partir daí, a premissa criativa é explorada com altos e baixos. O modo como os filhos de David são mostrados (loiros, morenos, indígenas, homossexuais, empresários, atletas e drogados) é interessante, bem como as intervenções que ele decide fazer nas suas vidas. Também temos alguns ótimos momentos, como o jantar da família Wozniak, os constantes pedidos de empréstimos a bancos ou a discussão em sussurros no berçário de uma maternidade.

Por outro lado, algumas passagens e diálogos são extremamente clichês e aborrecidas, como seu amigo que se posiciona constantemente contra a paternidade ou a repetição de momentos que mostram como David não é bem sucedido em seu trabalho. E tudo isso leva à exploração de um tema batido: “o incompetente de bom coração que consegue sobrepujar as dificuldades”.

Como um advogado do nível de Brett tomaria tantas decisões difíceis durante o tribunal (sem contar a previsível piada dele e sua argumentação para a corte)? Como alguém tão declaradamente inútil como David consegue realizar tantas coisas por seus filhos? Vários momentos desnecessários também surgem apenas para criar conflitos que movimentem a trama, mas que acrescentam pouco à história. Passagens como essas servem apenas para tornar o filme repetitivo e mais longo do que o necessário.

As atuações estão corretas, porém nada mais do que isso. Os atores que interpretam os filhos mais próximos cumprem bem seu papel, bem como os irmãos e pai de David. Os maiores destaques do elenco são Chris Pratt e, obviamente, Vince Vaughn. Além da divertida cena final, Pratt interpreta um personagem desagradável e repetitivo (mais prejudicado pelo roteiro do que propriamente pelo seu trabalho.)

Já Vaughn tem uma performance que é simplesmente mais do mesmo. Um personagem inseguro, que precisa amadurecer, que fala em tom baixo e constantemente rápido. Mesmo assim, o ator tem um carisma quase inabalável, que compensa, em parte, a sua dificuldade em variar a sua gama de interpretações.

Apesar de ter suas qualidades, “De Repente Pai” é uma comédia menor, enfadonha e demasiadamente longa, além de despertar o interesse do espectador em conhecer o material europeu que lhe deu origem.

David Arrais
@davidarrais

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