Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Última Viagem a Vegas (2013): comédia mediana com elenco de peso

Roteiro problemático é salvo pelo carisma dos protagonistas.

Nos últimos anos, Hollywood vem se especializando em explorar histórias que envolvam protagonistas na terceira idade. Com isso em mente, o diretor Jon Turteltaub leva às telas o roteiro de Dan Fogelman sobre um fim de semana de quatro amigos, já próximos da casa dos 70 anos, em Las Vegas, para uma despedida de solteiro.

O filme tem início durante a juventude dos protagonistas, no fim dos anos 50. Aqui já podemos perceber os traços de personalidade de cada um e também conhecemos como ocorreu um dos fatos mais significativos naqueles quase 50 anos de amizade. Depois disso, somos levados aos tempos atuais, com os quatro amigos já perto dos 70 anos. E todos levam vidas bastante diferentes, com apenas algumas semelhanças.

Paddy (Robert De Niro) ainda está de luto, depois de mais de um ano da morte de sua esposa, e carrega uma grande mágoa por Billy (Michael Douglas); Archie (Morgan Freeman) leva sua vida em família, porém insatisfeito com o modo que é tratado pelo filho; Sam (Kevin Kline) não se conforma com o tipo de vida que leva e todas as limitações impostas pela idade; e Billy está prestes a se casar com uma moça com menos da metade da sua idade. E esse casamento provoca a reunião dos amigos para a despedida de solteiro de Billy em Las Vegas, já que ele é o único da turma que nunca casou. E tudo se complica quando eles conhecem Diana (Mary Steenburgen), uma cantora de boate da mesma faixa etária.

A partir daí, o roteiro segue por caminhos tortuosos. Há momentos em que ele parte para a comédia física, com piadas sobre os problemas típicos da idade, como a dificuldade em subir escadas ou disfunções sexuais. Em outros, explora o drama sobre o envelhecimento e a perda de entes queridos. Algumas cenas cômicas até funcionam bem isoladamente, como o júri formado para o concurso de biquíni na piscina ou a hilária conversa de Sam com Madonna. As cenas dramáticas também têm peso, além de atingirem o objetivo de emocionar o público. Porém, a falta de coesão entre elas prejudica a experiência, especialmente no terceiro ato, quando algumas desavenças são resolvidas de forma muito rápida e sem maiores consequências.

Os atores principais entregam tudo que é esperado. Robert De Niro ilustra sua dor com competência, além de transmitir bem a evolução sentimental do seu personagem ao começar a deixar o luto. Kevin Kline é o mais divertido e passa todo o período em Vegas tentando usufruir do “presente” que recebeu da esposa. Morgan Freeman exterioriza a felicidade que tem por se sentir vivo novamente, nas festas e cassinos, em contraponto com a vida que leva normalmente. E, fechando o elenco principal, Michael Douglas volta a ter uma atuação marcante depois de muito tempo. Seu discurso no quarto com os amigos, enquanto arruma a mala, é tocante.

O elenco de apoio, apesar de prejudicado pelo script, também se sai bem. Romany Malco, que interpreta o assistente do hotel Lonnie, e Jerry Ferrara, que vive um jovem brigão, cumprem seu papel sem maiores compromissos. Mary Steenburgen também está convincente e administra com talento a tarefa de servir como bússola moral para o grupo de amigos.

Ainda que soe genérico e repetitivo em alguns momentos, “Última Viagem a Vegas” cumpre sua função principal, que é divertir o público e garantir boas risadas. Infelizmente, a falta de uma trama melhor estruturada tira o peso de momentos que poderiam gerar uma catarse maior no espectador.

David Arrais
@davidarrais

Compartilhe