Cinema com Rapadura

OPINIÃO   terça-feira, 28 de maio de 2013

Sem Proteção (2012): Robert Redford dirige thriller de potencial desperdiçado

Apesar de mensagens políticas e ideológicas maduras, roteiro as substitui por investigação atropelada e de ritmo lento, também resultando em desfecho decepcionante.

Sem ProteçãoSe como ator, Robert Redford marcou época, através de clássicos como “Butch Cassidy” e “Todos os Homens do Presidente”, como diretor pode-se dizer que se esperava mais dele. Depois de ganhar o Oscar da categoria em 1981 por “Gente como a Gente”, sua obra de estreia na função, Redford lançou apenas mais um filme aplaudido, “Quiz Show – A Verdade dos Bastidores”. E isso foi em 1994. Desde então, não mais impressionou. Nem o ritmo cadenciado de suas escolhas (realizou apenas 5 filmes em 19 anos) parece contribuir para a qualidade de seus projetos. “Sem Proteção” é mais um desses longas medianos, que se não constituem uma tragédia, mas desperdiçam um potencial enorme.

Redford também o protagoniza. Ele interpreta Jim Grant, um bem sucedido advogado de uma pequena cidade dos EUA. A prisão de Sharon Solarz (Susan Sarandon), ex-integrante do grupo revolucionário setentista Weather Urderground, pela morte de um guarda de banco durante um assalto, no entanto, acaba trazendo à tona sua verdadeira identidade. Na verdade, a revelação é fruto das investigações de Ben Shepard, jovem jornalista do Albany Sun-Times. É ele quem diz ao mundo que o real nome de Grant é Nick Sloan, um também ex-integrante do grupo caçado há 30 anos pela polícia. Tem início, então, sua fuga por território americano, em que até sua filha de 12 anos é deixada para cuidados pelo irmão.

A trama do filme, porém, é bem mais extensa. Não faltam surpresas, revelações e, principalmente, personagens para incrementá-la. Há também maduros diálogos ideológicos e políticos. No entanto,  a opção pelo thriller investigativo faz com que eles fiquem reduzidos a bate-papos pontuais, enquanto a caçada da polícia a Nick Sloan se empreende. A escolha comercial seria bem menos prejudicial ao resultado se os fatos não fossem tão atropelados e o ritmo se mantivesse constante durante as duas horas de projeção. Por isso, fica a enorme sensação de conteúdo existente, mas inexplorado, seja no campo policial, seja no campo das ideias.

Adaptado do livro “The Company You Keep” (nome original do longa), de Neil Gordon, o filme joga todas as suas fichas no roteiro de Lem Dobbs. Mas falta-lhe o dom da concisão, especialmente. A história parece ter medo de retirar coadjuvantes e criar estratégias narrativas espertas que a concedam dinamismo. Logo, não demora muito para nomes e mais nomes surgirem na tela sem deixarem sua devida marca enquanto Ben Shepard vai sustentando  suas pesquisas em meras suposições, sem qualquer comprovação, utilizando-se até mesmo do Google, quando o FBI está há mais de três décadas atrás dos mesmos nomes. E o pior: ele pode estar certo.

A primeira meia hora de investigação é até bem prazerosa. Mas, a partir de então, ela cai em uma mesmice sem qualquer reviravolta que nos surpreenda e com um desfecho que não poderia revelar melhor o distanciamento que a história possui da mente de seus personagens. A culpa aqui também vai para Robert Redford, que realiza um trabalho frio, nada emotivo, que nem mesmo revolta ou causa a melancolia que deseja, especialmente aquela advinda de ex-revolucionários de ideias ainda existentes, mas reprimidas em prol do seu bem estar. A sensível cena em que seu personagem aprecia a bonita vista de uma significativa casa escondida na fronteira entre EUA e Canadá, relembrando os ditos “bons tempos”, não é suficiente.

O mesmo pode-se dizer das críticas que o filme faz à atuação da polícia, dos políticos e do jornalismo. Sem ser ferrenho, e em algumas vezes dispensando até mesmo o julgamento, o roteiro demonstra certa maturidade ao jamais idealizar os profissionais em atuação na sociedade americana. O jornalista não poderia ser mais inescrupuloso e interesseiro. Quer apenas fazer seu trabalho, mas não possui ideia do mal inconsequente que pode trazer com ele. A Terrence Howard sobra a caricatura,mesmo que convincente, do xerife que quer manter o status da instituição que defende, especialmente quando trata-se de um caso de terrorismo e que envolve a morte de um colega de trabalho. Pena que sobre pouco espaço para abordar os ideais do Weather Underground, ainda assim tratados com o devido respeito.

A entrevista de Sharon Solarz a Ben Shepard e conversa entre Nick Sloan e Mimi Lurie (Julie Christie), outra ex-revolucionária, são exemplificativas do potencial de “Sem Proteção”. Mas há personagens demais para administrar, segredos demais para revelar. E assim o filme desperdiça seu conteúdo, assim como seu elenco, que traz ainda Chris Cooper, Nick Nolte, Stanley Tucci, Brendan Gleeson e Richard Jenkins. Robert Redford, enfim, acrescenta mais um trabalho dispensável a sua carreira como diretor.

Darlano Didimo
@rapadura

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