Cinema com Rapadura

OPINIÃO   domingo, 09 de setembro de 2012

ParaNorman (2012): uma divertida homenagem aos zumbis clássicos

Prestando homenagens aos filmes de terror de outrora, mas sem deixar de ser surpreendente, este longa é um verdadeiro presente para os fãs de todas as idades dos comedores de cérebros!

Ah, zumbis… Parece que não podemos pôr o pé para fora de casa hoje em dia sem dar de cara com um adorável devorador de cérebros por aí. Claro que com “por aí” quero dizer nossas TVs, cinemas, games, livros e quadrinhos. Mas é importante lembrar dos zumbis de várzea, dos zumbis toscos e moleques de outrora.

E é a essa época mais simples dos mortos vivos que “Paranorman” presta homenagem, mas com um toque bastante original. A animação é produzida pela Laika, mesma companhia responsável pelo maravilhoso “Coraline e o Mundo Secreto”, que, por meio da técnica de stop-motion, nos apresenta a outra história de uma criança lidando com forças além da compreensão dos adultos.

Escrito pelo novato Chris Butler, que também assina a direção ao lado de Sam Fell (dos eficientes “O Corajoso Ratinho Despereaux” e “Por Água Abaixo”), o longa nos apresenta a Norman, garoto criado em uma cidade cuja economia gira em torno do folclore de uma bruxa que fora queimada séculos antes.

Norman, no entanto, não é uma criança comum, podendo ver e se comunicar com os mortos que ainda possuem “assuntos pendentes”. Mas o garoto é tido como um louco por isso, com ninguém, nem mesmo sua própria família acreditando nele. Quando a maldição da bruxa se torna realidade e um grupo de zumbis se levanta de suas tumbas, ele pode ser a única esperança da cidade descansar em paz.

O amor de Norman pelo cinema gore espelha muito bem o dos próprios realizadores, jamais soando forçado e combinando com o próprio espírito da trama. Assim, quando Norman ganha a companhia de estereótipos típicos do gênero de terror, como uma beldade gritante (sua irmã), o fortão burro (o irmão de seu melhor amigo) e o babaca (atualizado na forma de um bully), reconhecemos isso como uma homenagem orgânica, jamais como um ruído dentro da história.

Quando George Romero lançou seu “A Noite dos Mortos Vivos” lá em 1968, ele fez dos zumbis os mais eficazes ativistas sociais dentre todas as criaturas assustadoras. E é interessante ver como Butler e Fell brincam e subvertem nossas expectativas para com as atitudes dos “monstros” e das “vítimas” desde o começo, quando abrem o filme tais quais as sessões de cinemas grindhouse setentistas. Brincadeiras com “O Sexto Sentido” também são inevitáveis, dados os dons do protagonista.

A direção de arte do longa é embasbacante. Além dos cenários serem incríveis e surpreendentemente detalhados, os próprios personagens são bastante expressivos, especialmente o o protagonista-título. Seu cabelo, sempre arrepiado, sugere uma expressão de susto constante e contrasta com seu semblante triste e cansado, bem como suas sobrancelhas fartas, no melhor estilo Martin Scorsese. Notem ainda as linhas de expressão presentes especialmente nos personagens mais velhos, os tornando únicos.

Os próprios zumbis são um show a parte, com designs bem divertidos, com a produção sabendo tirar vantagem deles. O visual ainda é ressaltado pela ótima fotografia do experiente Tristan Oliver (“A Fuga das Galinhas” e “O Fantástico Sr. Raposo”) que nos leva por uma jornada em tons escuros, mas nunca desprovida de cores. O 3D é eficiente e colabora com o espetáculo, mas é plenamente dispensável do ponto de vista narrativo. A trilha sonora dialoga  com a parte visual e a dublagem nacional é deveras competente, especialmente nas vozes infantis.

O tom do longa mescla inocência e humor negro, e lida muito bem com temas mais pesados, como vingança e arrependimento, fazendo-o de uma forma que não assusta os pequenos, mas que também não os subestima, mantendo de forma sutil um equilíbrio bastante delicado, conseguindo encaixar até mesmo a obrigatória lição de moral no final da projeção.

Pontualmente, o longa pode ser um pouco pesado demais para crianças mais jovens, mas para a gurizada que curte um susto de vez em quando, “Paranorman” é diversão garantida e pode até abrir as portas para que um ou dois pais apresentem seus rebentos à pentalogia dos mortos de Romero. As futuras gerações de cinéfilos agradecem!

Thiago Siqueira
@thiago_SDF

Compartilhe

Saiba mais sobre