Cinema com Rapadura

OPINIÃO   terça-feira, 12 de junho de 2012

Para Sempre (2012): baseado em fatos reais, romance vai cativar fãs do gênero

Homem tem de reconquistar a esposa, que perde a memória após acidente de carro em longa com Channing Tatum e Rachel McAdams.

“Para Sempre” foi lançado aqui no Brasil na época certa: coladinho com o Dia dos Namorados. Baseado em uma história real, o filme, dirigido pelo desconhecido Michael Sucsy, bebe da fonte dos romances de Nicholas Sparks ao apresentar uma história de amor que, apesar de cair em alguns clichês do gênero, ganha o espectador pelo carisma e beleza de seus personagens.

Indo direto ao ponto, acompanhamos o recém-casados Leo (Channing Tatum) e Paige (Rachel McAdams), intensamente apaixonados, que sofrem um acidente de carro bem no instante em que ela decide que quer um filho. Sem o cinto de segurança, Paige é jogada para fora do para-brisa (em uma cena exagerada e, curiosamente, bem-feita). Ao acordar no hospital, não se lembra de nada de sua vida nos últimos cinco anos, ou seja, os período da qual o atual marido fez parte.

Artista plástica em ascensão, Paige acorda como se estivesse levando a vida que abdicou no passado, quando ainda estudava Direito, era noiva de Jeremy (Scott Speedman) e vivia com os conservadores pais Bill (Sam Neill) e Rita (Jessica Lange). Diante de uma esposa que o vê como um estranho, Leo tenta fazer com que a moça retorne à sua vida com ele e, assim, recupere as lembranças da vida a dois.

Nesta disputa por Paige, Leo terá, além de sofrer com a amnésia da esposa, enfrentar os pais, que querem reescrever o passado (escondendo o segredo que fez com que a moça cortasse relações com a família) e que volte a ser o que queriam que a filha fosse. Com alguns flashbacks recheados de amor, acompanhamos o romance de Leo e Paige nascendo anos atrás, até o inusitado casamento em um museu e uma vida a dois recheada de elementos que vão fazer suspirar os mais românticos.

Assim, Leo (que ganha forma em Tatum com sua constante cara de quero-colo) tenta, de todas as formas, reavivar a memória da esposa, mas a aproximação de Paige com sua antiga vida faz com que ela se afaste ainda mais dele, inclusive reacendendo o relacionamento dela com o ex-noivo. Paige também faz por onde, assistindo a cena do casamento dos dois, olhando fotos e indo até seu estúdio de arte para recuperar sua vida antes do acidente.

Entre alguns conflitos do estranhamento da relação a dois atual, “Para Sempre” foge um pouco do romantismo e usa a questão da perda de memória de Paige ao expor uma pessoa que não se reconhece. Afinal, se estava casada com Leo, alguma razão a levou a isso, mas não consegue encontrar pistas que a levaram a abandonar tudo e ir para a cidade de Chicago em busca de outra vida.

Narrado pelo ponto de vista masculino, o filme é dirigido de forma tradicional e, apesar de escorregar em alguns clichês, ganha o espectador por não cair em situações fáceis, na qual o felizes-para-sempre surgiria antecipadamente. Em vez disso, usa o casamento da irmã para aparar as arestas dos conflitos de Leo com o pai e o ex-noivo de Paige e em uma releitura da relação dos dois, quando o rapaz decide começar do zero e reconquistar a esposa a partir do primeiro encontro. Assim, o romance volta com força total.

“Para Sempre” é inspirado na inusitada história real de Kim and Krickitt Carpenter, cujo acidente aconteceu 18 anos atrás. Atualmente casados e com dois filhos, o curioso é que Krickitt nunca recuperou sua memória. E transpor isso para as telas, embora o resultado não inove no formato, pelo menos cativa pelo carisma e sensualidade de seus personagens, incluindo uma boa química da dupla de protagonistas, que não decepciona em um filme que poderia se tornar meloso ao extremo.

Mesmo idealizando o homem perfeito na figura do ex-stripper Channing Tatum (que mostrará seus dotes como dançarino em “Magic Mike”), que se desdobra entre a paciência e a afobação de ter a esposa de volta, o filme torna crível a inquietação e irritação de uma Paige perdida em si mesma e no mundo de pessoas que eram parte de sua rotina, soando-lhe totalmente alheias após o acidente.

Dividindo-se entre o romance e o drama, além de abordar a falta de memória da personagem principal, “Para Sempre” também abre espaço para a subtrama envolvendo o segredo dos pais de Paige, em uma atuação de destaque de Jessica Lange, expondo seu lado experiente sobre o amor para a filha em um dos momentos mais interessantes do longa.

E apesar de alguns exageros que devem cativar o público indie/hipster mais sensível, o longa agrada pela trilha sonora e bela fotografia, que retrata a cidade de Chicago como acolhedora , se tornando palco para uma história de amor real que, mesmo fortemente adocicada por Hollywood, ainda chama a atenção por sua peculiaridade.

Léo Freitas
@LeoGFreitas

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