Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 15 de outubro de 2011

Qual Seu Número?: comédia opta pela pior forma de fazer humor

Anna Faris e Chris Evans protagonizam longa que não diverte e não faz rir. Não perca seu tempo com eles.

Nada funciona nessa comédia que tenta fugir do romântico. Nada mesmo. O trailer divertido e recheado de momentos cômicos vividos pela naturalmente engraçada Anna Faris não corresponde ao produto final. Depois da hora e meia de projeção – e para aqueles que conseguiram chegar ao seu final –, o que resta para o espectador é a sensação de tempo perdido e a constatação de que o humor é realmente um negócio muito estranho.

Depois de muitos anos e sequências intermináveis como protagonista da franquia “Todo Mundo em Pânico” – em uma personagem desastrada e sexualmente não muito atraente –, é complicado colocar Faris no papel de uma mulher fatal com uma lista absurda de conquistas masculinas no bolso. Mesmo que essa figura guarde em sua personalidade todo o azar e pé frio da personagem que a tornou conhecida, aqui a atriz não convence, seja pelas situações cômicas em que se envolve, seja pelo relativo amadurecimento do público que em 2000 assistia ao primeiro episódio de “Todo Mundo em Pânico” e, como um entretenimento que entrava na fase pós-adolescente, não reparava em suas limitações como atriz.

O argumento é baseado no livro de mesmo nome lançado no Brasil pela editora Novo Conceito, aquele típico romance açucarado que esconde o valor clássico do amor e o sonho do príncipe encantado atrás de xingamentos, desaforos e muito sexo. Ally (Anna Faris) é uma mulher com idade próxima aos 30 que não enxerga problemas em ter uma vida sexual ativa com base na troca frequente de parceiros, na melhor definição do que seria sexo casual.

A temática liberal até esboça uma aproximação com outros longas bem mais divertidos que abordaram o assunto, como “Amizade Colorida” e “Sexo Sem Compromisso”. Quando se vê desempregada e com uma lista de 20 homens com os quais já transou, Ally entra em desespero: a irmã está casando, as melhores amigas foram para a cama com um número inferior ao seu e, para completar, uma especialista de Harvard publicou uma pesquisa apontando que mulheres com alto número de parceiros dificilmente conseguem encontrar um marido.

A única solução para o seu problema é reencontrar seus ex-parceiros sexuais, focar naqueles que subiram na vida e garantir sua futura estabilidade conjugal. Quem vai oferecer toda a ajuda necessária para a localização das potenciais vítimas é o seu vizinho, um músico desocupado vivido por Chris Evans. E se Anna Faris dá claros indícios de que perdeu parte de sua veia cômica, é Evans que carrega a parcela vergonhosa do longa. Seu personagem, quase sempre em trajes reduzidos e com piadas picantes na ponta da língua, é a plena representação de um ator que ergueu sua carreira tendo por base os músculos que ostenta. E é realmente enojante assistir ao tratamento que o diretor dá ao personagem e aos constantes momentos de explícita “exploração corporal” a que ele se submete.

Os projetos mais conhecidos do diretor Mark Mylod talvez sejam alguns episódios do seriado “United States of Tara” e o longa “Ali G Indahouse – O Filme”. Nos primeiros minutos de “Qual Seu Número?”, enquanto sua câmera gira de forma vertiginosa e descontrolada pela cidade cenário da trama, ainda é possível guardar centelhas de credulidade. O problema é que todas elas são descartadas nos 15 minutos seguintes, até que o público é mergulhado na enxurrada de piadas de duplo sentido envolvendo posições e órgãos sexuais.

“Qual Seu Número?” serve apenas para reforçar a máxima de que até o humor depende de certo grau de inteligência para existir. Talvez seja por esse motivo que o longa nunca ultrapassa a barreira do quase: é um quase filme, com quase atores, que quase agrada. Ou seja: completamente descartável.

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Jáder Santana é crítico do CCR desde 2009 e estudante de Comunicação Social com habilitação em Jornalismo. Experimentou duas outras graduações antes da atual até perceber que 2 + 2 pode ser igual a 5. Agora, prefere perder seu tempo com teorias inúteis sobre a chatice do cinema 3D.

Jader Santana
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