Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sexta-feira, 01 de abril de 2011

As Mães de Chico Xavier

O filme encerra as comemorações do centenário de Chico Xavier e utiliza um novo olhar sobre a vida e obra do médium.

“Fale com as mães”, frase dita por Chico Xavier em “As Mães de Chico Xavier” diz muito sobre a proposta desse novo filme ao abordar a colaboração desse importante médium brasileiro. Inspirada no livro “Por Trás do Véu de Ísis”, a película viaja pelas histórias vividas por mães que tiveram algum tipo de tragédia envolvendo seus filhos e embarca pelo fascinante mundo espírita, abusando de toda a profundidade que o tema permite e motivando uma trama densa e cada vez mais angustiante.

Dirigido pela entrosada dupla Glauber Filho e Halder Gomes, o longa atinge um trabalho superior a “Bezerra de Menezes – O Diário de um Espírito”, também de Glauber, mas peca novamente pela tamanha lentidão que causa cansaço. Outro ponto que não agrada é a grande carga dramática que é explorada de forma fraca e forçada, abusando dos clichês e não alcançando o efeito exigido.

No elenco o destaque vai para duas atrizes que estão acima da média. Vanessa Gerbelli embarca no sofrimento de Elisa  que perde seu filho Téo e utiliza principalmente o olhar para mostrar seu sofrimento. Outra atriz que merece aplausos é a Via Negromonte, que utiliza da sutileza necessária para convencer na pele de  Ruth, uma mãe sem esperanças ou motivo para viver. O elenco conta ainda com a participação de Herson Capri, Caio Blat e Nelson Xavier, que mais uma vez vive o papel de Chico Xavier.

Se tudo conspira para uma obra que deixa a desejar, a fantástica trilha sonora de Flávio Venturine a salva, em partes, e arranca sensações indescritíveis. Além de criar uma linda versão de “Jesus Alegra dos Homens”, ele ainda empresta sua voz suave que cai como uma luva na obra e, graças a essa grande ajuda, consegue emocionar.

É interessante observar a fotografia e sua preferência pelo azul conhecido por representar vários segmentos como o céu, o espírito, o infinito, o profundo e em um filme com uma temática espírita, ele traz inúmeras outras sensações bem propícias à trama. A natureza também tem um importante papel nesta composição, seja no verde das árvores ou no clima tenso proporcionado pela chuva.

A ausência de um tom bem humorado prejudica o seu andamento do longa, uma vez aumenta ainda mais a carga dramática, que parece não andar e fica insuportável quando se percebe sua previsibilidade. Os efeitos visuais, que foram bastante explorados em “Nosso Lar”, são pouco utilizados aqui. Em algumas cenas, a falta de bons efeitos provoca uma rápida e interessante confusão sobre o que é real e o que é espírito.

O que se poder dizer ao final da sessão é que a obra ainda que, com tantas falhas, consegue emocionar e atinge o  objetivo principal em relação ao seu público alvo por criar uma inevitável identificação com o tema.

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Marcus Vinicius
é crítico de cinema do CCR desde 2009. Produtor de comerciais de TV, também realiza projetos audiovisuais e eventos. Atualmente é concludente do curso de Comunicação Social com habilitação em Publicidade e Propaganda pela Universidade Federal do Ceará (UFC).

Marcus Vinicius
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