Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 25 de setembro de 2010

Wall Street 2: O Dinheiro Nunca Dorme

Oliver Stone realiza uma sequência mediana e pouco crítica.

No primeiro “Wall Street”, lançado em 1987, tem uma cena em que Gordon Gekko (Michael Douglas) contempla o nascer do sol e caminha pela praia com um telefone na mão. Logo ele liga para Bud Fox (Charlie Sheen), e a primeira frase que Gekko diz é “o dinheiro nunca dorme, bom dia”. E essa frase ficou como um marco do personagem, sendo ela a mesma que dá título para este novo filme de Oliver Stone, sendo o roteiro escrito por Allan Loeb e Stephen Chiff. Assim, o tempo passou e a história não ficou presa ao passado. Se no primeiro filme a trama é completamente marcada pela especulação, “Wall Street 2” se difere por obter um retrato atual da economia americana e, por conseguindo, a economia mundial.

Neste segundo filme, Gordon Gekko passou oito anos preso por conta do que aconteceu com as suas transações com Bud Fox, não sendo ele exatamente o culpado. Mas, antes mesmo que os roteiristas possam tratar do lendário personagem vivido por Michael Douglas, Oliver Stone apresenta ao espectador Jake Moore (LaBeouf), um jovem sonhador e completamente entendido da chamada “energia verde”. Ele é namorado de Winnie Gekko (Mulligan), filha de Gordon Gekko. Jake trabalha no banco de Louis Zabel (Langella), que é o seu mentor.

Apresentando tudo isso, o banco comandado por Louis está próximo de um colapso. Frank Langella tem uma atuação de muito destaque nos poucos momentos em que aparece na projeção, mas a sua luta chama atenção. Para salvar o banco da falência, ele recorre ao conselho de Wall Street que, por votação, acredita que não é necessário dar nenhuma ajuda. É engraçado notar, por exemplo, como esta relação tem tudo a ver com a quebra dos bancos Lehman Brothers e AIG em 2009, quando a crise econômica assolou Wall Street no fim do mandato do republicano George W. Bush.

Mais do que isso, é interessante observar o jogo de poder que é realizado na reunião. Claro, ninguém está disposto a salvar um banco da falência porque nenhum destes empresários quer mostrar que Wall Street está fraca e precisando de ajuda. A ganância e o egoísmo são duas características que movem, não somente este filme, mas os dois de uma maneira geral e orgânica. Mesmo porque são duas características do ser humano que aprendeu a ser cada vez mais capitalista, se adequando a um sistema individualista. Enquanto isso, Gekko sai da prisão, publica um livro, realiza palestras em faculdades e deseja restabelecer o contato com a sua filha.

O seu personagem, vale dizer, continua bem construído pelos roteiristas que aproveitam os ganchos deixados pelo filme anterior. No entanto, é triste notar como Jake Moore não é exatamente movido pela ganância como o seu antecessor Bud Fox. Pelo contrário: ele é um cara que continua especulando na bolsa, até mesmo para salvar o seu emprego em um determinado momento, mas não almeja chegar ao poder na maneira mais bruta que ele possa ser. E, assim, a sua falta de experiência é uma das responsáveis por arruinar o seu plano de desenvolvimento da “energia verde”, assim como coloca o seu relacionamento com Winnie por um fio.

De qualquer forma, todo o elenco em “Walll Street 2” atua de maneira correta. Josh Brolin, que interpreta o banqueiro Bretton James, pode não ter nenhuma atuação de destaque, mas consegue chamar atenção do público pelas negociações e pactos que ele tenta obter. Enquanto isso, a mãe de Jake, aqui interpretada por Susan Sarandon, aparece como um personagem completamente destoante no primeiro momento. Mas, logo em seguida, quando toda a especulação dos subprimes desaba em Wall Street, ela se torna uma figura de extrema importância porque a crise acaba lhe atingindo em cheio, de uma maneira que ela não esperava, e perdendo completamente o dinheiro que ela havia investido e deixado no Federal Reserve para ser aplicado posteriormente.

A direção de Oliver Stone, por outro lado, realiza algumas cenas interessantes. Primeiro que ele brinca com a montagem do seu filme, inclusive com a edição do próprio, ao trazer números na tela, cortes das cenas em metades, quadros que se desdobram e se duplicam, assim como o bom jogo de câmera no momento em que ele vai passar de uma cena para outra. Em um outro momento, quando a sua direção despenca em Wall Street em meios aos prédios, ele realiza uma metáfora interessante – apesar de óbvia – para o que também acabara de acontecer com as bolsas: todas caindo em um efeito dominó, atingindo toda uma economia que entrou em colapso.

É uma pena, no entanto, que o filme de Oliver Stone apresente um final tão medíocre. A sequência que finaliza a obra até pode ser bem editada e construída, mas é impressionante como a sua resolução soa extremamente patética, principalmente porque o filme se vende como inteligente e definido para um público que precisa entender um pouco de economia para acompanhar o raciocínio, se atentando às últimas crises que foram demasiadamente noticiadas ao longo do ano passado e também deste. Além disso, a hipocrisia do filme reside também nesta cena, já que o roteiro tenta vender que o dinheiro não é exatamente a chave para tudo. Mas o final demonstra que, ao contrário do que o longa vinha tentando demonstrar em algumas cenas, o dinheiro é, sim, parte fundamental para que tudo na vida dê certo.

Não irão faltar comparações entre os dois filmes lançados. Mas as diferenças estão muito mais arraigadas na contextualização, já que existe um intervalo de 23 anos entre um filme e outro. Em 1987, os americanos viviam esta época da especulação e gozavam do sistema capitalista que crescia a economia de maneira efervescente. Mas, em 2010, a situação é muito diferente. A crítica ao individualismo, mesmo que discreta, continua implantada no roteiro. Dessa vez, no entanto, Oliver Stone desvia o seu olhar para a crise que derrubou o Lehman Brothers, tendo no banco de Louis Zabel o principal exemplo disso.

O filme também aponta o seu olhar para o futuro, apostando toda a especulação na bolsa para um novo tipo de energia que poderá ser a saída para a busca por investimentos altíssimos e lucrativo. Este “Wall Street” parece querer alcançar um público definido, mas é uma pena que Oliver Stone não se demonstrou disposto em querer ser mais crítico, do que apenas relatar um acontecimento que marcou 2009 como o ano em que a maior economia do mundo se viu em apuros.

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