Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 15 de maio de 2010

Robin Hood (2010): não inova, mas cumpre o papel de divertir

Ridley Scott dá um novo enfoque, mais irreal e muito mais divertido, à lenda do herói inglês.

O diretor Ridley Scott, do alto de suas sete décadas de existência, cinco delas dedicadas ao cinema, já deu inúmeras provas de que grandes filmes começam com grandes histórias. Desde “Alien, o Oitavo Passageiro”, de 1979, passando por “Blade Runner – O Caçador de Andróides”, até chegar àquele que foi reconhecidamente seu maior êxito, “Gladiador”, de 2000, o cineasta não se faz de rogado ao assumir a tarefa de filmar roteiros épicos.

Sua última aventura, “Robin Hood”, inaugurou a 63ª edição do Festival de Cannes e chegou aos cinemas comerciais no dia seguinte, com a promessa de salas de cinema lotadas e uma divulgação massiva na imprensa especializada. Ao lado de sua direção arrojada está um roteirista premiado e um time de atores competentes, que transmitem a sensação de que a lenda do ladrão inglês nunca foi tão bem adaptada.

O americano Brian Helgeland, vencedor do Oscar pelo roteiro adaptado de “Los Angeles – Cidade Proibida”, em 1998, recebeu de Scott a tarefa de melhorar a história do herói. Para o diretor, o filme deveria fugir da mesmice das adaptações anteriores e deixar de lado a fama do ladrão que “rouba dos ricos para dar aos pobres”.

Com o script em mãos, Scott deu vida aos acontecimentos que culminaram na criação do mito Robin Hood e a fama de benfeitor e justiceiro foi deixada para a sequência final, em uma espécie de epílogo. Se a opção do cineasta e o trabalho do roteirista causam certo estranhamento no início da exibição do filme, logo percebemos que a narrativa tornou-se mais realista e divertida.

O elenco de estrelas entra em cena e garante que a qualidade do longa vai continuar com nível elevado. Russel Crowe, como protagonista, apesar de aparentar certo cansaço e pouca habilidade com o manejo do arco e flecha, consegue cumprir bem seu papel de herói virtuoso e está, perceptivelmente, em perfeita sintonia com as ordens de Scott. Cate Blanchett vive Lady Marion, viúva de um dos membros do exército inglês, e como já era de se esperar, rouba a cena em todas as sequências da personagem. Sua atuação segura garante dinamismo ao papel que originalmente não receberia muito destaque na trama.

Se a personalidade e a importância de Lady Marion foram discretamente mascaradas para dar destaque ao potencial de Blanchett, Robin Hood passou por um processo de purificação que não convence o espectador e não combina com o ritmo ágil da produção. O ladrão é retratado como um homem cheio de virtudes e livre de qualquer falha ou desvio de caráter. A elevação de personagens a níveis que beiram o sublime, em detrimento da retratação de seus traços lascivos, é um recurso que, quase sempre, prejudica a qualidade final do produto. Com Robin Hood não é diferente.

Também incomoda a tentativa de tiranizar o exército francês e projetar as incontáveis qualidades dos guerreiros ingleses. O grupo inglês exibe técnicas cruéis, armamentos curiosos e espalha tanto sangue quanto os inimigos franceses. Seus guerreiros, porém, são retratados como justos e movidos por uma causa maior, enquanto os inimigos são trapaceiros, vis e sem escrúpulos.

Apesar dos exageros na caracterização dos personagens, a agilidade do filme não permite que tais observações atrapalhem a narrativa e Scott sabe como ninguém conduzir uma história sangrenta. As sequências de batalhas são belamente filmadas e os planos profundos, com milhares de guerreiros, cavalos e barcos de guerra, impressionam. Todas as características técnicas de “Robin Hood” podem ser encontradas em “Gladiador”, e o que diferencia as duas produções é a falta de carga dramática e preferência pela velocidade do novo filme. Aqui, não há tempo para emoções de corações destruídos.

A importância de “Robin Hood” provavelmente não vai tomar o posto ocupado por “Gladiador” na filmografia de Scott, mas serviu para reafirmar a capacidade de realizar um bom filme, mesmo com uma história amplamente conhecida e trabalho técnico retirado de uma produção anterior, sem traços notáveis de inovação.

Jader Santana
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