Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 26 de dezembro de 2009

Alvin e os Esquilos 2 (2009): boicotando as férias de seus filhos

Os esquilos cantores estão de volta em sequência desempolgante e sem graça. Desta vez, nem versões femininas dos bichinhos salvam o filme do desastre.

Fazer filmes para crianças não significa realizar algo totalmente estúpido e pouco original. Entretanto, tramas incrivelmente previsíveis, cenas de ação e humor escassos e personagens tolos costumam ser a tônica de produções dirigidas aos mais novinhos. Para felicidade dos pais, porém, de vez em quando surgem longas-metragens que mostram que não é preciso ser bobo para ser bom junto ao público infantil. Alguns até divertem tanto os adultos quanto as crianças (alguém já ouviu falar nos estúdios Pixar e Dreamworks?).

Mas, infelizmente, qualidade muitas vezes não significa alta bilheteria, e a fórmula mais comum possível costuma ser a preferência dos grandes estúdios de cinema. Aliás, arriscar é um verbo que passa longe do dicionário da maioria dos executivos do ramo. E tudo piora quando um filme que segue todas as características “baratas” alcança um grande sucesso comercial, como é o caso de “Alvin e os Esquilos” (2007).  Foram mais de US$ 360 milhões arrecadados em todo o mundo, e a sequência da nascente franquia já caminha para o mesmo resultado. Só no primeiro dia nos cinemas norte-americanos, a produção levou US$ 20 milhões, batendo o blockbuster de James Cameron, “Avatar”. No entanto, não se impressione, pois “Alvin e os Esquilos 2” consegue ser pior do que o seu antecessor.

O filme não apresenta nada de diferente, com direito as mesmas piadas e vilão repetido. Acompanhamos os três esquilos falantes, Alvin, Simon e Theodore, em turnê triunfante em Paris. As fãs se empurram para ver os bichinhos cantarolarem músicas pop em um palco desproporcional ao tamanho deles. A mania de estrelismo de Alvin, entretanto, causa um acidente que leva o seu assistente e amigo, Dave (Jason Lee), a passar alguns meses no hospital. Preocupado com o futuro dos esquilos, o rapaz os envia de volta aos Estados Unidos para que, sob tutela de sua tia Jackie (Kathryn Joosten), eles possam começar a frequentar a escola.

Outro trágico acidente, porém, parece querer impedir que Alvin e seus irmãos tenham uma vida mais quieta. Eles agora estão sob a responsabilidade de Toby (Zachary Levi), um viciado em videogame que não dá a mínima nem para a própria vida. Na escola, como não poderia ser diferente, eles também causam alvoroço, alguns favoráveis, outros nem tanto. As meninas os babam, enquanto os meninos os odeiam. Após serem convidados pela diretora da instituição a participar de uma competição que reunirá talentos musicais de vários colégios, eles enfrentam a concorrência de um outro trio de esquilos cantores, mais especificamente das Esquiletes. Agenciadas por um representante bem conhecido dos rapazes, Britanny, Eleanor e Jeanette encantarão e trarão novos desafios a Alvin, Simon e Theodore.

“Alvin e os Esquilos 2” já tem de imediato um grande déficit em relação ao primeiro filme. O fator novidade deixa de existir e esta é uma produção que depende dos espantos das crianças ao assistirem a um bando de esquilos cantarem e dançarem em perfeita harmonia, algo que também não mais se estende aos próprios personagens do longa. Todos conhecem Alvin e seus irmãos, e os gritos ao avistá-los não são mais de susto e sim de euforia. Por esse motivo, várias tentativas de risadas já vão por água abaixo, nunca sendo compensadas por outras “tiradas” do roteiro.

Assinado por Jon Vitti, Jonathan Aibel e Glen Berger, o argumento peca pela total falta de originalidade. As mesmas situações retornam, como os pesadelos de Theodore e a mania de pum, mesmo em menor escala. Como se não bastassem algumas repetições, ainda trataram de incluir mais uma vez o agente Ian Hawke (David Cross) como o vilão da história. Ele volta a tentar aplicar golpes em grupos de animais cantores, dessa vez em versões femininas dos esquilos. Por falar nelas, esta é a única inovação do filme e, por isso mesmo, a que mais funciona. Ouvir Brittany (o nome não é por acaso) e suas irmãs cantando músicas de Beyoncé e Katy Perry em performances encantadoras é a melhor coisa do longa.

A previsibilidade do enredo é outro fator negativo. Certo que estamos diante de um filme infantil, mas nem o mais inexperiente teria uma ideia diferente de desenvolvimento e desfecho. Adaptação ao novo ambiente, desentendimento entre os bichinhos, independência de Alvin, reflexão sobre o valor dos irmãos e retorno ao braço da família são as etapas desta trama. Alguma mudança em relação ao primeiro? Pois é, até as lições de moral são as mesmas. Se há algo de positivo que permanece, este é o carisma dos esquilos, com suas vozes estridentes, charme irresistível e mania de bagunça.

A direção de Betty Thomas também não poderia ser pior. A sua escalação parecia ser perfeita (mesmo que em termos), já que é a responsável por “Dr. Dolittle”, mas ela não poderia ter realizado um trabalho mais desastroso. Com planos estáticos e tomadas insistentes, Thomas faz de “Alvin e os Esquilos 2” um filme torturante para pais e filhos. É incrível como a cineasta adora mostrar a fachada da casa de Dave para indicar a mudança de cenário, em recurso típico de filmes feitos diretamente para a televisão. Além disso, as escassas cenas de ação são desperdiçadas com o ritmo lento das sequências da diretora.

Em termos técnicos, o filme também segue o rumo da falta de inspiração. A trilha sonora incidental simplesmente não existe e a fotografia parece feita por iniciantes. A qualidade da computação gráfica até que é boa para um filme tão ruim. No começo estranhamos a interação entre humanos e animais, mas já pela metade do filme esquecemos essa discrepância. As atuações estão piores. Zachary Levi nos faz ter bastante saudade de Jason Lee, que aqui tem apenas participação especial. O elenco adolescente da escola faz juz a sua inexperiência e David Cross não dá medo a ninguém.

A versão legendada do filme conta ainda com as dublagens de atores renomados como Justin Long, Christina Applegate, Amy Poehler e Anna Farris. Mas qual a diferença de suas vozes já que todas elas são modificadas por computador? Não há outra resposta se não interesse comercial na imagem desses astros. Desempolgante e sem graça, “Alvin e os Esquilos 2” não dá motivos para repetir a enorme bilheteria do primeiro filme, a não ser que pais, como os do dia de estreia nos Estados Unidos, queiram boicotar 90 minutos das férias de seus filhos.

Darlano Didimo
@rapadura

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