Cinema com Rapadura

Acme   sexta-feira, 21 de junho de 2013

The Last of Us prova que a experiência de jogar videogame mudou

O jogo exclusivo para Playstation 3 é uma obra de arte.

Nesses muitos anos de cultura pop, tive a chance de ter várias experiências. O cinema foi o grande responsável por isso. Recentemente  os games estão mostrando que é possível superar a experiência cinematográfica. Muitas vezes, quando vemos um grande filme, ficamos com ele na cabeça por dias. Quando assistimos uma obra de arte, sabemos que vamos levar aquele filme para sempre. Recentemente, isso vem acontecendo comigo com os grandes games.

O primeiro game dessa geração que conseguiu isso foi Red Dead Redemption (2010). Uma experiência sensacional, uma obra de arte que será lembrada para sempre. Um jogo que inspirou outros jogos. Em uma outra oportunidade falarei mais dele. E agora, quase no final dessa geração de consoles, chegou um clássico: The Last of Us. O jogo superou as expectativas e provou que mesmo com grande hype, é possível surpreender e ser melhor do se esperava. O jogo é exclusivo para Playstation 3 e foi feito pela Naughty Dog (criadora do mascote do Playstation, o Crash Bandicoot, e da trilogia Uncharted).

A história

O game começa numa zona de quarentena em Boston, vinte anos depois do surto de Cordyceps, um vírus/fungo responsável pela aniquilação da grande maioria da população. A órfã de 14 anos, Ellie, vive numa pequena casa de madeira, e Joel, um traficante que vende armas no mercado negro dentro da zona de quarentena. Joel é um sobrevivente do surto de Cordyceps e uma testemunha da destruição que o vírus causou ao mundo tal como o conhecia.

Joel e Tess prometem a Marlene, líder do grupo terrorista Vaga-Lume, que está prestes a morrer que irá levar Ellie até o grupo que está fora dos Muros da Cidade. Assim, o três saem da zona de quarentena, e o jogo começa a percorrer várias áreas dos Estados Unidos, incluindo a cidade de Pittsburgh pós-apocalíptica e outras localizações agora reclamadas pela natureza. Evidentemente, as coisas viram para pior, quando os militares percebem a sua fuga e começam a persegui-los. Ao longo do caminho, eles também terão de enfrentar vários inimigos, desde humanos infectados a outros sobreviventes como caçadores ou ladrões.

Referências para a criação do jogo

Um dos temas que mais sou apaixonado é sobrevivência em meio ao apocalipse. Sou muito fã da franquia de jogos Resident Evil, a série The Walking Dead e os mais variados filmes do gênero (como o excelente Madrugada dos Mortos e o clássico Mad Max‎). The Last of Us é uma mistura de Eu Sou a Lenda, Resident Evil (jogos), Filhos da Esperança, Extermínio e The Walking Dead. Dá para perceber caracteristicas de cada um deles, mas o mais referenciado é A Estrada. No filme, um pai (Viggo Mortensen) e seu jovem filho (Kodi Smit-McPhee) lutam pela sobrevivência alguns anos depois de um devastador e não especificado cataclismo que destruiu a civilização. É possível identificar as semelhanças e ainda assim perceber a originalidade do jogo.

A experiência

É impressionante como eu embarquei FACILMENTE na história. Comecei a jogar numa sexta-feira a noite, só para testar, e quando eu vi tinham se passado mais de 6h. E eu não percebi. E pior, fui dormir em um momento crítico, em que a Ellie estava em risco. EU NÃO CONSEGUI DORMIR POIS ESTAVA PREOCUPADO. Sim, é esse tipo de coisa que The Last of Us faz com você…

Logo no começo, temos um prólogo de cair o queixo no chão. É assustador, dramático e emocionante. Já pontua o que veremos pela frente no decorrer da história. Até a Ellie ficar do nosso lado, demora um pouco. Mas esse período é importante para a história ganhar substância. Joel é um cara extremamente atormentado com o início do apocalipse. Mesmo passando 20 anos desde o início, dá para perceber como aquele mundo transformou o homem. De um pai de família a um cara que faz de tudo para sobreviver em meio ao caos.

Sobrevivendo com pouco

No mundo dos games, poucas vezes vimos um jogo que levou ao pé da letra o fato de você estar no fim do mundo e com pouca munição/arma/alimento. Nada aparece facilmente. Ok, não vamos esquecer que ainda é um jogo, mas só o fato de você achar 3 balas em cima de uma mesa e não 40 balas, já deixa uma pulga atrás da orelha: “É, vou ter que economizar“.

As vezes temos tão pouca munição, que temos que usar outras formas de matar os inimigos. Até um modo stealth, conhecido na franquia Metal Gear Solid, se faz bastante útil para você economizar as suas armas para serem usadas só quando necessário. No jogo, uma tesoura vira faca, um tijolo vira uma arma ou distração para espantar os inimigos. Você não precisa necessariamente matar os inimigos para avançar no jogo. Se você souber desviar, é possível avançar. Mas eu nunca fico seguro assim, principalmente por ter Ellie ao meu lado. Matei tudo que vi pela frente.

O pior é que ao mesmo tempo em que vemos cenários sem nenhum inimigo, apenas com o fim de exploração, vemos alguns cenários infestados. As vezes em lugares bem escuros e isso transforma o gênero do game de ação/exploração/sobrevivência para terror. Alguns momentos são assustadores.

Um dos recursos implementados em outros jogos foram aproveitados aqui. É possível fazer upgrade das armas com itens que você pega durante a sua jogatina. Isso foi bastante elogiado no recente Tomb Raider. Aqui se repete e conseguimos fazer coquetel molotov com alguns itens colhidos nos cenários. E cada item é realmente útil. Você vai precisar usar cada coisa que é achada. Até um pedaço de pau vira uma arma útil, quando dar socos não são suficientes. Uma prova que o upgrade ajuda é quando você coloca pregos/facas na ponta de um pedaço de pau e assim você consegue matar inimigos apenas com uma porrada. Ok, a arma não dura muito, mas o suficiente.

Dublagem e legendas

Um das vitórias dos últimos anos é que as empresas abriram os olhos para o mercado brasileiro e praticamente todo lançamento tem legenda. E quando é um jogo bastante esperado, normalmente estão vindo com dublagem. A Sony acertou em cheio e fez um trabalho ótimo, apesar de alguns erros e adaptações estranhas.

Boca suja e o humor no fim do mundo

Apesar do ambiente caótico, é impressionante perceber que o jogo não perde o bom humor. Ellie tem 14 anos e tem uma boca MUITO SUJA. A garotinha não tem papas na língua e fala muito palavrão. Ela nasceu já no apocalipse, então sua criação foi diferente. Em alguns momentos, achamos HQs que existem no universo do jogo e que a Ellie adora ler. Não só isso, encontramos manuais de treinamento e bilhetes deixados pelas pessoas que estavam naqueles cenários. Isso ajuda a formar arcos de histórias variadas e as vezes semelhantes a dos personagens principais. Muitas vezes, ao ler uma carta, Joel sempre faz um comentário sarcástico.

A Naughty Dog fez questão de tentar trazer o nosso mundo para dentro do jogo. Em vários momentos vemos cartazes de um filme fictício Dawn of the Wolf – Part 2, uma clara piada a Amanhecer – Parte 2 (da série Crepúsculo). O comentário que o Joel faz é hilário…

O lado técnico da obra

Assim como uma super produção de Hollywood, o jogo possui características técnicas destacáveis. Graficamente, o jogo é espetacular. Toda concepção dos cenários, ambientes, iluminação e os pequenos detalhes foram minuciosamente trabalhos para deixar você imerso no universo destruído.

A jogabilidade é padrão da geração e muito semelhante aos grandes jogos de exploração, como Red Dead Redemption, Uncharted e até o novo Tomb Raider. A diferença é que os movimentos são mais semelhantes aos seres humanos, sem muito exagero.

Um dos grandes trabalhos do jogo foi em relação a equipe de atores responsáveis pelos movimentos e vozes dos personagens. Troy Baker (Joel) e Ashley Johnson (Ellie) deram um show. Apesar da Ellie ser muito parecida com a atriz Ellen Page, Ashley mandou muito bem.

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Um dos pontos que mais me chamaram atenção foram o som e a trilha. O argentino Gustavo Santaolalla, vencedor de dois Oscars por O Segredo de Brokeback Mountain e Babel, foi o responsável pela trilha, que tem um caráter bem mais emocionante e melancólico do que assustador. Representa bem o clima de fim do mundo e de uma possível esperança de dias melhores. Em alguns momentos, a trilha simplesmente some. E isso faz muito bem ao jogo. O som é assustadoramente bem feito. Porém, os barulhos que os infectados fazem são de dar um cagaço sem precedentes. Você fica “travado” pelo medo e pelos poucos recursos.

Um jogo que entrou para a história

Estamos no fim da geração Playstation 3 e ter uma obra de arte como The Last of Us mostra a força dessa que foi uma das melhores gerações da história dos videogames. Uma geração que tivemos Uncharted 2, Red Dead Redemption e agora The Last of Us. Três clássicos que conseguiram demonstrar que os videogames conseguem se igualar ao cinema e muitas vezes sobrepor a experiência de vivenciar uma história que você se importa.

O nome do jogo faz muito sentido no final.

10/10

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Se The Last of Us virasse filme, quais seriam os responsáveis por interpretar os personagens? Vou sugerir abaixo:

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Jurandir Filho
@jurandirfilho

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