John Boyega fala sobre experiência em Star Wars: “não criem um personagem negro e vendam ele como importante para depois colocá-lo de lado”
Boyega, que trouxe o ex-stormtrooper Finn à vida, desabafa sobre suas frustrações com a forma que o personagem foi tratado.
A Saga Skywalker chegou ao fim em dezembro de 2019, concluindo o arco de nove filmes, incluindo a trilogia que apresentou o personagem Finn ao público. Desde então, John Boyega, que deu vida ao ex-stormtrooper, não tem poupado palavras nas redes sociais ao expressar sua insatisfação e deixar claro que “Star Wars” ficou para trás em sua carreira. O ator interpretou o primeiro protagonista negro da franquia, mas para ele, Finn foi inicialmente vendido como alguém que teria um papel central, e acabou sendo deixado de lado. Em uma nova extensa entrevista para à revista GQ, Boyega fala sobre sua experiência.
Introduzido em 2015 no primeiro filme de “Star Wars” da era Disney, “O Despertar da Força”, Finn apareceu nas peças de marketing segurando um sabre de luz, dando a ideia de que o personagem faria parte da narrativa dos Jedi. No entanto, tal representação servia como um desvio de atenção para o público, que ao assistir ao filme veria que seria Rey (Daisy Ridley) a pessoa a ser escolhida pelo sabre de luz. Boyega admite que de início, sua animação por estar envolvido em algo tão grandioso superava a eventual frustração de ver que Finn não teria o protagonismo que havia sido vendido.
“Você se envolve em projetos e você não necessariamente vai gostar de tudo. Mas o que eu diria para a Disney é não tragam um personagem negro, vendam ele como muito mais importante para a franquia do que ele acabaria sendo e então o coloquem de lado. Não é bom”, afirma o ator.
Boyega fala não só dele, mas também de seus colegas atores não brancos, como Naomi Ackie (Jannah), Kelly Marie Tran (Rose) e Oscar Isaac (Poe), que tiveram tratamentos similares. Ele diz:
“Vocês sabiam o que fazer com Daisy Ridley, vocês sabiam o que fazer com Adam Driver [Kylo Ren]. Vocês sabiam o que fazer com essas pessoas, mas quando se trata de Kelly Marie Tran, quando se trata de John Boyega, vocês estragam tudo. Então o que vocês querem que eu diga? O que eles querem é que eu diga ‘Adorei fazer parte disso, foi uma ótima experiência’, não não. Eu falarei isso quando for uma ótima experiência. Eles deram toda a nuance para Adam Driver, toda a nuance para Daisy Ridley. Sejamos honestos. Daisy sabe disso. Adam sabe disso. Todo mundo sabe, eu não to expondo nada”.
A mudança de narrativa de Finn em “Os Últimos Jedi”, o segundo filme da nova trilogia, foi particularmente difícil para o ator, que se viu separado do núcleo principal. Já na sequência “A Ascensão Skywalker”, o personagem ganharia de volta certos aspectos apresentados em “O Despertar da Força”, mas no lugar de ser algo natural, foi uma tentativa de correção. Boyega menciona J.J. Abrams, que foi responsável pelo Episódio VII e voltaria no Episódio IX, defendendo o cineasta:
“Todo mundo tem de deixar ele em paz. Ele nem deveria voltar e tentar salvar essa merda”.
O ator se juntou à franquia com esperanças de que seu personagem fosse relevante, mas ao sentir a exclusão de Finn nas telonas, Boyega fala sobre como as pessoas não estão prontas para ver um homem como ele como protagonista. Ele lembra da reação tóxica de parte do público que acabou recebendo após a estreia de “O Despertar da Força” e como isso o afetou:
“Eu fui o único membro do elenco que teve uma experiência única na franquia baseada na minha raça. Isso te deixa com raiva, te deixa mais militante, te muda. Porque você percebe, ‘Eu ganhei essa oportunidade mas eu estou em uma indústria que nem estava pronta para mim'”.
John Boyega agora segue em frente com sua carreira. O ator tem sua própria produtora Upper Room Productions, que criou para produzir e estrelar “Círculo de Fogo: A Revolta” e agora assina um acordo com a Netflix para criação de projetos focados na cultura africana. Ele também acaba de filmar sua parte em “Small Axe”, nova minissérie de Steve McQueen.
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