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Notícias   sábado, 07 de julho de 2018

Morre Steve Ditko, o co-criador do Homem-Aranha e do Doutor Estranho

O quadrinista foi encontrado sem vida em seu apartamento aos 90 anos.

Morre Steve Ditko, o co-criador do Homem-Aranha e do Doutor Estranho>

O desenhista Steve Ditko, co-criador do Homem-Aranha e do Doutor Estranho, e uma das maiores lendas do mundo das HQs, faleceu aos 90 anos. A notícia foi confirmada pelo The Hollywood Reporter, que afirma que o artista já teria falecido na semana passada, sendo encontrado morto em seu apartamento no dia 29 de junho. Entretanto, somente agora o Departamento de Polícia de Nova Iorque confirmou a morte do artista. Mais detalhes sobre a morte do quadrinista ainda não foram divulgados.

Ditko iniciou sua carreira como desenhista ainda na década de 1950, trabalhando ao lado de outros grandes nomes dos quadrinhos como o roteirista Joe Simon e o lendário desenhista Jack Kirby, dupla responsável pela criação do Capitão América. Ele só viria a alcançar o estrelato em 1962, quando foi escolhido por Stan Lee para ajudá-lo a apresentar um novo super-herói que logo se tornaria a maior sensação dentre os amantes da nona arte: o Espetacular Homem-Aranha.

É curioso destacar que o envolvimento de Ditko na criação do escalador de paredes acabou sendo muito maior do que o planejado, já que, inicialmente, ele seria responsável apenas por colorir a história de origem do herói, com a arte ficando à cargo do já mencionado Jack Kirby, parceiro de Lee em muitas de suas grandes criações na Marvel. Entretanto, Lee não gostou dos esboços de Kirby para o personagem, uma vez que o “Rei” Kirby desenhou o Homem-Aranha de modo excessivamente heroico, contrariando a ideia de Lee que queria transmitir aos leitores que o herói, apesar de seus grandes poderes, no fundo era uma pessoa normal como tantas outras.

Assumindo a função de desenhar a lendária Amazing Fantasy nº 15, Ditko criou o icônico uniforme do personagem e conferiu uma humanidade maior ao jovem herói com seu traço, possibilitando que o público se conectasse quase que imediatamente com o tímido Peter Parker em sua eterna jornada de aprendizado sobre poder e responsabilidade. Com o passar do tempo, o desenhista começou a auxiliar Lee na criação das histórias, de modo que ele passou a ser creditado também como co-argumentista.

Em seus mais de três anos à frente do título mensal do Homem-Aranha, Ditko foi responsável por apresentar boa parte da galeria de vilões do herói, sendo o co-criador de personagens como Duende Verde, Doutor Octopus, Homem-Areia, Lagarto, Electro, Abutre, Mysterio, Escorpião, Camaleão e Kraven, dentre outros. Na visão de muitos, uma das maiores qualidades de Ditko como artista era desenhar cenas de ação de tirar o fôlego entre o Amigão da Vizinhança e seus rivais, mas a imagem que vem à mente da maioria dos fãs quando se fala no artista, certamente, é o momento de superação do herói retratado nas páginas de The Amazing Spider-Man nº 33, a terceira parte do clássico arco de histórias do Planejador Mestre. Na história, o Homem-Aranha acaba sendo soterrado em meio aos escombros de uma base secreta do Doutor Octopus, e precisa de todas as suas energias para conseguir se libertar em um esforço hercúleo. Veja abaixo:

O momento é tão marcante dentro da mitologia do personagem que chegou a ser adaptado para as telonas no ano passado, no longa “Homem Aranha: De Volta ao Lar“, alegrando muitos fãs que aguardaram décadas para ver essa cena épica ser transposta para os cinemas.

Apesar da popularidade sem precedentes do gibi do herói aracnídeo, a relação profissional entre Ditko e Lee acabou se tornando bastante complicada com o tempo, com os dois discordando constantemente sobre os rumos que as aventuras do personagem deveriam tomar. A gota d’água acabou sendo uma discussão acerca da verdadeira identidade do Duende Verde, que era um mistério que perdurou durante as primeiras histórias do Homem-Aranha.

Lee queria que o vilão fosse Norman Osborn, acreditando que essa revelação complicaria ainda mais a vida de Peter Parker, já que o personagem era pai de Harry Osborn, colega de faculdade do herói. Por outro lado, Ditko queria que o vilão se revelasse como um completo desconhecido de Parker, acreditando que isso seria mais realista e menos clichê do que a proposta de Lee. Entretanto, a vontade de Lee prevaleceu, e Ditko deixou o título do personagem após sua 38ª edição, em julho de 1966, com a arte das histórias do Homem-Aranha passando para as mãos de John Romita, Sr.

Embora sua passagem pela Marvel seja mais lembrada por conta do seu inesquecível trabalho com o Escalador de Paredes, Ditko também foi o co-criador do Doutor Estranho, com o universo mágico do personagem sendo um prato cheio de oportunidades visuais para o artista, que conferiu aos seus desenhos um estilo surrealista e psicodélico que casava perfeitamente com o tom místico das histórias.

Após sua briga com Stan Lee, Ditko deixou a Casa das Ideias e migrou para a concorrência, passando a trabalhar para a DC Comics, onde criou heróis como a dupla Rapina e Columba. Além de suas passagens pelas duas maiores editoras do mercado de HQs, Ditko marcou época na finada Charlton Comics, na qual participou da criação de personagens como Questão, Capitão Átomo e Ted Kord, o segundo Besouro Azul, heróis que anos depois seriam incorporados à cronologia da DC e que também serviram de inspiração para alguns dos personagens da clássica graphic novel Watchmen“, de Alan Moore e Dave Gibbons.

A morte de Ditko foi sentida por muitos nomes importantes das HQs contemporâneas, como o escritor e roteirista Neil Gaiman:

“Steve Ditko era verdadeiro com seus próprios ideais. Ele via as coisas do seu próprio jeito, e nos deu jeitos de ver que eram únicos. Constantemente copiado. Nunca igualado. Eu sei que sou uma pessoa diferente porque ele esteve no mundo.” 

O diretor Scott Derrickson (“Doutor Estranho“) também prestou suas homenagens ao artista:

“Adeus Steve Ditko.”

Ao contrário de Stan Lee, Ditko nunca se mostrou muito afeiçoado à fama e aos holofotes, optando por uma vida mais tranquila e reservada. Embora já estivesse afastado das grandes editoras desde a década de 1990, ele continuou trabalhando em alguns projetos independentes até meados de 2016.

Por mais que o falecimento de Steve Ditko represente uma tristeza muito grande para milhões de fãs ao redor do mundo, resta a certeza de que o legado do artista será eterno,  pois esses mesmos fãs que hoje choram pela sua partida aprenderam desde cedo que com grandes poderes, vêm grandes responsabilidades.

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João Antônio
@rapadura

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