Suzie Hardy, ex-estilista pessoal do apresentador de televisão americano Ryan Seacrest, o acusou, em carta enviada por seus advogados ao canal E! e à empresa NCBUniversal, de assédio sexual e comportamento abusivo durante os anos em que trabalhou para a emissora. Seacrest é conhecido por ser um dos principais apresentadores das cerimônias de premiação nos Estados Unidos, como Oscar e Globo de Ouro, além de ser o anfitrião do reality show “American Idol“, entre outros. As informações são da Variety.

Mãe solteira e com uma filha em idade pré-escolar, Hardy trabalhou como estilista pessoal do apresentador entre 2006 e 2013 no canal E!, estando entre suas atribuições vestí-lo para premiações e prestar auxílio relativo às roupas em ocasiões especiais. Ela afirma ter aguentado a situação em silêncio durante os anos por medo de perder seu emprego caso levasse a questão aos recursos humanos do canal, temendo por sua situação financeira.

Na carta, enviada em 10 de novembro do ano passado, os advogados de Hardy fazem a exigência a Seacrest e ao canal que “surjam com um plano para lidar com o tratamento de todas às mulheres nas emissoras e assumir a responsabilidade pelo tratamento abusivo” feito à ela, ameaçando “ações mais formais” caso fossem ignorados. Em 17 de novembro do último ano, Seacrest tornou públicas as acusações, anunciando, via declaração, que a emissora havia contratado um investigador particular para avaliar o caso levantado por uma pessoa que “trabalhou comigo quase uma década atrás no canal ‘E! News’“, e chamando as acusações de “afirmações irresponsáveis“. Agora, três meses depois, o canal E! divulgou, em nota, que as investigações resultaram em “evidências insuficientes das acusações feitas contra Seacrest“.

A Variety entrou em contato com as partes envolvidas e obteve declarações dos advogados de ambos os lados, bem como da própria Hardy. Andrew Baum, advogado de Ryan Seacrest, declarou:

“É alarmante que se noticie acusações falsas, principalmente após a acusadora ameaçar torná-las públicas caso não recebesse US$ 15 milhões. Na época, ela dizia que tornaria pública uma nota evidentemente falsa sobre o assunto, a menos que fosse paga. Meu cliente, por sua vez, veio proativamente a público e prontamente negou todas as acusações, e se dispôs a cooperar com a investigação conduzida pelo E!. Em 31 de janeiro, o processo foi concluído, não havendo provas suficientes que baseassem as acusações.”

Tanto Suzie Hardy quanto seus advogados negaram que tenham pedido qualquer quantia em dinheiro ao apresentador, à emissora ou às companhias de quais ela pertence. Apesar das afirmações de Baum, representantes de Seacrest não apresentaram quaisquer evidências que as comprovassem. A reação dela foi de incredulidade:

“Total desespero foi minha sensação quando fiquei sabendo. Pela terceira entrevista [com o investigador particular] já havia ficado claro que ele estava conduzindo o caso todo de maneira a livrar o lado de Seacrest.”

Hardy se tornou estilista pessoal de Ryan Seacrest no canal E! News em 2007. Ela morava na mesma rua da assistente pessoal do apresentador e já havia trabalhado com ele em uma sessão de fotos para a revista Vanity Fair. De acordo com ela, foi a assistente quem a ofereceu o emprego, que traria como benefícios uma renda fixa e horários flexíveis.

Na carta dos advogados de Hardy, o ambiente de trabalho da época é descrito como quase que de uma família. A assistente de Seacrest, no entanto, teria passado a se interessar por ela, indo a festas e shows juntas, onde teriam sido feitas diversas e constantes perguntas sobre a vida pessoal de Hardy. Logo, surgiram sinais de que o apresentador teria um interesse afetivo por ela.

Em seguida, ele teria começado a pedir que ela estivesse junto com ele mesmo em situações nas quais sua presença fosse dispensável. Hardy teria sido chamada à casa dele por diversas vezes para vestí-lo tarde da noite, em horários além do expediente. Em determinado ponto, Seacrest teria exigido a presença dela para “dar nó em uma gravata“, o que foi negado pela estilista, de acordo com uma testemunha para a qual Hardy teria expressado sua preocupação. Ela teria, inclusive, negado um pedido do apresentador para “tirar um cochilo” com ele durante a transmissão de Ano Novo do canal em 2007.

A partir daí, o comportamento de Seacrest teria ficado mais violento e abusivo. Na carta, são relatados diversos episódios nos quais o apresentador teria dado “abraços de urso” em Hardy enquanto trajava apenas roupas de baixo. Ele teria chegado ao ponto de perguntar se ela “realmente não se interessava por ele“, para o que ela teria respondido que se interessava apenas pelo salário no final do mês. Ela desabafa:

“Eu não sabia como lidar com isso. De verdade. Estava finalmente em uma posição financeira que me permitia respirar e ser uma mãe para minha filha, sem que precisasse surtar o tempo todo. Apenas para ter que lidar com uma celebridade infantil, que ficava me testando o tempo todo, me manipulando em todos os níveis possíveis e que sabia que eu estava em uma posição vulnerável.”

Em 2008, em um set do E! News, Seacrest teria tocado Hardy em sua virilha, tendo perguntado jocosamente em seguida se ela iria processá-lo. Em 2009, o apresentador teria dado um tapa tão forte em uma das nádegas da estilista que uma marca teria ficado por horas, resultando em uma imagem que foi anexada à carta e cuja veracidade teria sido comprovada. No mesmo ano, Seacrest teria novamente agarrado Hardy enquanto teve uma ereção, desta vez antes do tapete vermelho do Oscar, além de tê-la jogado na cama e a se posto em cima dela, sendo interrompido apenas quando sua assistente entrou no quarto.

A acusação mais grave, no entanto, teria ocorrido em 2010, quando Hardy namorava um advogado famoso do meio do entretenimento, em um relacionamento que viria a durar três anos. De acordo com a carta, Seacrest perguntava frequentemente a ela “se eles já haviam transado“. Quando Hardy enfim respondeu dizendo que ele não fizesse tais perguntas, ele teria colocado sua mão entre as pernas da estilista, com ela se retirando em seguida para um banheiro enquanto chorava. Uma assistente de produção teria conversado com ela alguns minutos depois, oferecendo para levá-la até os recursos humanos, mas avisando que ela provavelmente seria demitida se reportasse o comportamento de Seacrest. Hardy recusou a oferta, por medo de perder o emprego.

Em 2013, ela foi chamada pelo departamento de recursos humanos da emissora, onde foi perguntada sobre a natureza de sua relação com Seacrest – Hardy enfatizou na carta que não foi ela que procurou a emissora, e sim o contrário – e se havia tido contato físico com o apresentador. “Respondi que ‘Não’ com muito orgulho. Nunca o toquei, nunca o beijei, nada. Mas respondi que ele me tocou“, relata ela. Todos os episódios foram descritos aos executivos do canal.

Duas semanas depois, ela foi avisada que seus serviços prestados à emissora se encerrariam, e que sua última atribuição consistiria em entregar o smoking que Seacrest usaria no tapete vermelho do Oscar daquele ano. Ela o fez, sem qualquer contato com o apresentador.

Desde então, Susie Hardy passou a trabalhar no ramo de tecnologia em São Francisco, com Seacrest ganhando cada vez mais espaço na grade horária do canal. Ela afirmou ter feito terapia após todos os episódios, tendo frequentado “todos os psiquiatras de Los Angeles“. Ela se sentiu encorajada a trazer a público sua história após ver a repercussão dos casos relativos ao executivo Harvey Weinstein e os movimentos “#MeToo” e “Time’s Up”:

“Vim de uma vida de freelancer, e era algo assustador. Foi difícil criar uma filha e não saber quando seu próximo pagamento viria ou de onde seria, ou mesmo se o serviço me levaria para fora da cidade por duas semanas. Aguentar isso acabava sendo o melhor [para minha situação financeira], mesmo com o abuso. É triste dizer, mas é verdade.”

Ryan Seacrest está escalado para cobrir o tapete vermelho do Oscar pelo canal E! no próximo domingo (04), além de estar gravando a próxima temporada do programa “American Idol“.

Saiba Mais: #MeToo, E!, Ryan Seacrest, Suzie Hardy, Time's Up