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Entrevistas   terça-feira, 04 de abril de 2023

[ENTREVISTA] AIR: A História Por Trás do Logo | Ben Affleck, Viola Davis e elenco discutem a influência de Michael Jordan no filme

Filme chega aos cinemas brasileiros em 6 de abril.

[ENTREVISTA] AIR: A História Por Trás do Logo | Ben Affleck, Viola Davis e elenco discutem a influência de Michael Jordan no filme>
(Divulgação/Warner Bros.)

Você conhece. Você viu. Você provavelmente quer (ou já tem) um. O Air Jordan se tornou foi um dos maiores ícones do basquete junto àquele que os vestia e revolucionou a forma com que o esporte era conduzido enquanto negócio. Mas a história desse ícone não é exatamente a que se imagina ao pensar no tamanho dos envolvidos atualmente. Estamos falando de Michael Jordan, o maior atleta de basquete de todos os tempos, e da Nike, maior empresa de materiais esportivos do mundo. O que pode haver de pequeno nisso, certo?

Pois o que impressiona em “AIR: A História Por Trás do Logo” é justamente isso. Não há como falar de Air Jordan sem falar de Michael Jordan – o próprio apelido de Jordan tinha a ver com sua marca, “His Airness” (algo como “Sua Ar-teza”, em trocadilho com “ar” e “alteza”). Contar a história de um ícone sem falar do outro é impossível, e foi isso que Ben Affleck, diretor e estrela da obra, percebeu. Em entrevista coletiva acompanhada pelo Cinema Com Rapadura a convite da Warner, Affleck e seu elenco falaram sobre as exigências de Jordan, como a inclusão dos personagens de Viola Davis, Chris Tucker e Marlon Wayans, e sobre como o astro influenciou a produção mesmo sem aparecer no filme.

Segundo Affleck, a colaboração com todos foi justamente um dos pontos altos da produção:

“Este é um grupo de pessoas que eu conhecia há muito tempo e tinha um enorme respeito, ou pessoas com quem tinha sido o objetivo da minha vida trabalhar, como Viola Davis e Chris Tucker. O assunto de Jordan os trouxe até mim. Chris realmente veio e criou esse papel. E eu disse: ‘Preciso de você como um colaborador, como um cineasta, sua voz, sua experiência, sua perspectiva.’ Este filme seria um grande fracasso se fosse apenas a minha voz. Então era ele, Viola, Marlon, Jason [Bateman]… Tudo isso é inestimável ao contar uma história.”

O diretor revelou que trabalhar com Chris Tucker, que interpreta o executivo da Nike, Howard White, era um sonho antigo. Segundo Jordan, White foi essencial para que assinasse seu contrato para os tênis da NBA com a empresa. Para sorte de todos, Tucker e White eram velhos amigos, de acordo com o comediante:

“Eu conhecia Howard White, então tive todo o acesso a ele, conversei com ele por horas. Reuni muitas informações para incorporar seu espírito, seu dialeto, juntei tudo e coloquei no personagem. Todo mundo disse que ele era como Confúcio, um cara legal, sempre pensando no mundo. Copo meio cheio em vez de meio vazio. Eu queria que o personagem fosse positivo.”

Outro personagem essencial para a trama, mas que não estava na versão inicial do roteiro era George Raveling, interpretado por Marlon Wayans. Raveling treinou Jordan nas Olimpíadas de 1984, e é visto como militante e defensor dos direitos dos atletas. “Sem ele, eu não teria ido para a Nike,” disse Jordan a Ben Affleck. Wayans é grato pelo papel, ainda que diminuto, e ressalta a descoberta que foi uma personalidade tão emblemática como a de Raveling ser tão pouco conhecida:

“Aprendi muito sobre ele, é um grande homem. O primeiro técnico negro a vencer um campeonato nacional. Então, quando li o monólogo, e o fato de ser real, o fato de ele ainda ter um discurso de sonho em sua posse, eu pensei que era um personagem incrível de se interpretar.”

A inclusão de White e Raveling trouxe o assunto das exigências de Michael Jordan para o filme. Ainda que ele próprio não seja o assunto do longa, é parte de sua história que está sendo contada, e ninguém a conhece melhor que ele, o que levou Affleck a consultá-lo antes de tomar qualquer decisão:

“Eu realmente não entendia nada do filme, na verdade. Eu fui falar com Michael, eu tive pelo menos contato o suficiente para dizer: ‘Ei, posso ir te ver e conversar sobre isso?’ Porque, para ser sincero, do ponto de vista do respeito a ele, a sua família, quem ele é, o que ele significa… Ele não está no filme, ele não aparece. E, no entanto, isso invoca seu nome e uma parte de sua história a qual ele se opôs. Então, se ele dissesse ‘não faça isso’, eu simplesmente não faria isso. E seria isso, acabou , última conversa. E eu estava muito preparado para isso, principalmente porque não era a história de Michael Jordan. Não tínhamos os direitos dele e esse tipo de coisa, que acho que pode ter sido desconfortável.”

Ainda jovem, Jordan não queria assinar com a Nike em seu primeiro ano como atleta da NBA, e estava disposto a assinar com qualquer outra empresa que o desse uma Mercedes vermelha — e o mundo certamente seria um lugar bem diferente se tivesse sido esse o caso. Quem o convenceu a pelo menos dar uma chance à Nike, até então uma pequena empresa na Costa Oeste dos EUA, foi sua mãe, Deloris Jordan, vivida no filme por ninguém menos que Viola Davis, outra exigência do atleta. Apesar da alcunha de “a melhor” estar acompanhada a seu nome o tempo todo, Davis não se deixa levar:

“Eu queria que fosse meu estilo, entrar nisso de ‘a melhor’, mas isso não me ajuda. Mas é lisonjeiro. Eu entro com uma sensação de ‘eu pertenço?’, algo como síndrome de impostor, então é bom se sentir desejada. Mas então o próximo pensamento é: ‘Agora eu tenho que assumir o papel.’”

Sobre o papel de Deloris, Davis destaca o quão diferente é a mãe de Michael Jordan em relação a ela própria:

“A mulher é muito, muito firme e quieta. Eu imagino que mesmo quando ela fica brava, ela provavelmente é muito, muito, muito estável. Envolver realmente esse espírito e tudo foi um desafio para mim porque sou a mulher que sempre tem um chip no ombro. Eu chego de forma bombástica. Foi lisonjeiro, desafiador e simplesmente uma alegria trabalhar com Matt [Damon] e Ben [Affleck] e todos esses atores incríveis. Eu e [meu marido] Julius [Tennon, que vive James Jordan, pai de Michael] ainda falamos sobre isso até hoje. Uma das maiores experiências.”

Curiosamente, a ideia de Affleck para o filme era bem diferente inicialmente, e os pais de Jordan mal apareceriam. Foi ao ver como a lenda fala sobre sua mãe que o cineasta percebeu que o longa não era sobre uma pessoa, mas sobre todo um contexto:

“Você está perto de alguém que é o mais próximo de uma divindade que você vai encontrar, e ainda assim houve um momento em que vi admiração, reverência e respeito, adoração e amor quando ele falou sobre sua mãe. Isso me chocou – e que vergonha para mim por não entender que esse era o caso. Quando ouvi, percebi imediatamente: ‘Esta é a história’. E é uma bela história. É uma história sobre Deloris Jordan e o que ela significa para Michael e que ela é emblemática do que tantas mães devem ter significado para tantos atletas e artistas e pessoas neste negócio que muitas vezes são muito jovens e lançadas em um mundo de fama e dinheiro. Pode ser confuso, e vemos as pessoas seguirem caminhos diferentes o tempo todo e precisam de muita orientação.”

Affleck classifica trabalhar com Viola Davis como “um objetivo de carreira”, algo que qualquer um pode entender. O que ele não esperava era que o nome da atriz seria tão importante para o próprio Michael Jordan:

“Eu disse de passagem, o que é sempre um erro: ‘Quem você acha que deveria interpretar sua mãe?’ Ele disse, ‘Tem que ser Viola Davis’.”

Ainda que seja sobre um acontecimento histórico muito importante da nossa época, Affleck destacou para Michael Jordan que o filme não seria uma recriação literal dos acontecimentos:

“Eu disse [a Jordan]: ‘Isso não é historicamente preciso no sentido de que não posso colocar ponto em cada I. Isso terá que ser uma espécie de fábula, uma parábola e uma história inspiradora, então eu vou tomar liberdades para deixá-lo com uma hora e trinta ou quarenta minutos – mas não quero violar nada que seja fundamentalmente importante ou verdadeiro para você. Se você quiser, por favor, me diga o que são essas coisas e eu prometo a você, será sacrossanto’.”

Essa visão criativa, aliada à opinião de Jordan sobre sua própria história e à abertura dada por Affleck a seu elenco, é mencionada por todos os atores como o diferencial da história. Para alguém experiente e notadamente boa no que faz como Davis, a visão artística e o conhecimento técnico foram o ponto alto do trabalho em “AIR”:

“Muitas vezes você vai ao set, não confia em ninguém porque, verdade seja dita, há muitas pessoas em nossa profissão que não sabem o que estão fazendo. E não estou dizendo isso com qualquer tipo de condescendência ou dando indireta a ninguém. Todo mundo vê o resultado de um filme ou de uma carreira, mas não vê a jornada. [Em ‘AIR’] é a jornada, é o processo em que você vê a arte. As pessoas realmente sabem o que estão fazendo, sabem juntar as peças, sabem o que querem, sabem o que estão vendo na câmera que não está funcionando, sabem quanto, quão pouco. Tenho uma carreira de 40 anos em que confiei em certas pessoas e elas me fizeram mal porque nem sempre você vê isso. Você precisa de ajuda às vezes.”

Para nossa sorte como espectadores, Viola confiou em Ben Affleck, o que tornou “AIR” um filme tão aclamado por crítica e público.

“AIR: A História Por Trás do Logo” chega aos cinemas brasileiros em 6 de abril.

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Julio Bardini
@juliob09

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