Cinema com Rapadura

Entrevistas   quarta-feira, 26 de maio de 2021

[Entrevista] Barraco de Família | Cacau Protásio, Lellê e o diretor Mauricio Eça falam sobre a importância do Cinema em tempos de pandemia

O Cinema com Rapadura teve a oportunidade de conversar com as atrizes Cacau Protásio e Lellê, e o diretor Mauricio Eça, sobre a nova produção "Barraco de Família", comédia sendo feita em tempos de pandemia.

[Entrevista] Barraco de Família | Cacau Protásio, Lellê e o diretor Mauricio Eça falam sobre a importância do Cinema em tempos de pandemia>

Em tempos como os atuais, não podemos ignorar a importância que o cinema possui, capaz de nos afastar de angústias através de envolventes e divertidas narrativas. É nesse sentido que a comédia se firma como um gênero fundamental, habilidosa na construção de histórias que conseguem equilibrar momentos de leveza e importantes mensagens. Atualmente sob direção do cineasta Mauricio Eça, esse potencial será demonstrado pelo ainda inédito “Barraco de Família“, filme produzido pela Santa Rita Filmes que tem sua estreia programada ainda para 2021, e que já conta com planejamentos para estrear nas salas de cinema e nos serviços de streaming e aluguel online.

Protagonizado por Cacau Protásio, o filme conta a história de Cleide, uma mulher batalhadora que se sustenta quase sozinha através da venda de lingeries e cosméticos, obrigada a lidar com o fracasso profissional de seu marido Eupídio (Eduardo Silva) e com a indiferença de Eulália (Lena Roque), filha preguiçosa que passa os dias no celular. Tudo muda, entretanto, quando a irmã da última, Kellen (Lellê), uma cantora de funk que há muito deixou sua casa, retorna para passar alguns dias com sua família. Em meio a feliz surpresa, todavia, o que ninguém desconfia é que o retorno não passa de uma tentativa da artista de restaurar a sua imagem nas redes sociais.

O Cinema com Rapadura teve a oportunidade de entrevistar o diretor e a dupla principal de atrizes em uma entrevista remota que foi transmitida diretamente do set de gravações. Descontraída e bastante agradável, a reunião rendeu interessantes comentários, resultando em uma conversa muito bacana sobre as adaptações da indústria cinematográfica na atual pandemia. Surgiram ainda interessantes reflexões sobre a problemática da autoimagem nas redes sociais, a importância da múltipla cultura brasileira e, acima de tudo, acerca da necessidade de mantermos o otimismo perante a situação. Veja os destaques abaixo.

Cacau Protásio (Cleide): Nos estamos em um momento em que não podemos errar. É lógico que a gente se preocupa, mas chegamos em um ponto em que isso se tornou proibido! E é óbvio que temos o direito de errar, todos erramos, ninguém é perfeito! Acho que o filme mostra muito bem isso: nós erramos, pedimos desculpa, e recomeçamos tudo de novo! A gente se tornou refém das redes sociais, nos preocupamos demais com isso! A gente pode relaxar, e quando todo mundo acreditar que a gente pode relaxar essa ansiedade vai parar de tomar conta do mundo!

Lellê (Kellen): Pra minha geração isso tem uma importância muito grande, essa questão do cancelamento. Em uma cena a minha personagem é cancelada, e o filme como um todo retrata isso muito bem!

Cacau Protásio (Cleide): Eu acho que a cada dia a gente está evoluindo. A cada dia novas portas estão se abrindo, mesmo que muitas outras ainda tenham que se abrir. É um caminho ainda muito estreito, mas as pessoas estão começando a enxergar essa riqueza, que isso existe. E eu acho que o filme mostra muito bem isso. É uma família “de preto”, que se ama e se respeita. E muitos têm essa ideia de serem famílias desarrumadas, pouco antenadas, e não é nada disso. Aqui a gente está conseguindo mostrar isso, e todos estão começando a abrir o olho e entender que isso existe, e a amar isso. É um momento de aceitação, e é um projeto de extrema importância para a mulher negra. Nele, a Lellê usa o cabelo natural dela, crespo e pra cima. Quando eu tinha a idade dela, eu não tinha em quem me inspirar, e aprendi a odiar o meu próprio cabelo. Mas estamos hoje aqui para mostrar que essas diferenças existem e todas devem ser aceitas!

Lellê (Kellen): Isso também é muito presente no funk, que hoje felizmente apresenta muitas personalidades femininas, quebrando muitos tabus e atravessando barreiras. É ainda um caminho estreito, como a Cacau disse, e é o caso de um movimento masculino e bastante machista, mas devemos dar graças a Deus a essas mulheres que realmente estão atravessando muitos obstáculos.  

Maurício Eça (diretor): Conduzir esse projeto durante a pandemia foi bastante atípico, algo que ninguém estava acostumado e ao qual todos estão tendo que se adaptar. Mas é engraçado que se, por um lado, nos perdemos parte do processo presencial, a presença no set, essa experiência conjunta, ao conversar com a Cacau e com a Lellê em suas casas, por exemplo, eu percebi que ganhamos um outro tipo de intimidade. Uma intimidade que existe nessa coisa conjunta, estamos todos passando pela mesma situação. É lógico que cenas “grandiosas” e algumas outras tomadas tiveram que ser reescritas e cortadas, mas eu fico muito feliz com a resistência que o cinema tem exercido nesse momento e, nesse momento tão duro, a gente esteja construindo uma história que vá trazer um pouco de leveza. É o que a gente precisa atualmente.

Diante de um cenário tão frágil e cheio de grandes perdas, merece destaque ainda uma bela homenagem que Cacau fez ao grande ator Paulo Gustavo, artista que infelizmente perdeu a batalha contra a Covid-19, mas que ainda resiste através de seu legado que ainda há de alegrar incontáveis brasileiros.

Cacau Protásio (Cleide): O que tem me ajudado muito nesse momento é a fé. Faz pouco tempo que perdi meu sogro, e desde então eu nunca vi a morte do mesmo jeito. É óbvio que é triste, que causa muita dor, mas a fé tem me ensinado a enxergar as coisas de outra maneira. Aqui mesmo eu comecei a trabalhar após a perda de um grande amigo meu, um amigo que o Brasil perdeu, o grande Paulo Gustavo, mas a vida continua, e a gente faz o que faz para honrar essas pessoas. Eu vim trabalhar, divertir, por ele, porque eu sei que ele faria a mesma coisa, aproveitar esse dom que Deus nos deu, de trazer alegria. Eu pedi permissão para o Mauricio para adicionar uma dança em homenagem a grande carreira dele, e todos da equipe perdem entes queridos todos os dias. Então a gente construiu essa experiência coletiva, com a ajuda de Deus, para levar alegria e manter eles na nossa memória!

Programado para o segundo semestre de 2021, “Barraco de Família” é um projeto que demonstra muito carinho e esforço em sua produção e que promete arrancar muitas risadas, em breve, seja nas salas de cinema ou no sofá de casa.

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Davi Galantier Krasilchik
@davikrasilchik

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