Cinema com Rapadura

Entrevistas   sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

[ENTREVISTA] Michael B. Jordan, Tessa Thompson e Florian Munteanu falam sobre a maior lição de Creed II

Divulgando o filme pelo o Brasil, os atores falaram com o Cinema Com Rapadura sobre o que significa trabalhar uma franquia tão icônica com esta, e o que aprenderam com a experiência.

[ENTREVISTA] Michael B. Jordan, Tessa Thompson e Florian Munteanu falam sobre a maior lição de Creed II>

Depois de agraciar o público com seis filmes da franquia “Rocky”, em um período de 30 anos, Sylvester Stallone estaria de volta aos cinemas em 2015, só que como coadjuvante. Pois com “Creed – Nascido para Lutar”, era a vez Michael B. Jordan encabeçar sua própria franquia. Adonis Johnson, filho de Apollo Creed, torna-se aprendiz de Rocky Balboa, construindo uma parceria que, esperançosamente, renderá uma franquia tão extensa quanto a original.

Durante o divulgação de “Creed II” no Brasil, os atores Michael B. Jordan, Tessa Thompson, e o boxeador, agora também ator, Florian Munteanu participaram de uma mesa redonda, e o Cinema Com Rapadura pôde conversar com os astros sobre o que este segundo filme significa para eles.

Um elemento muito importante para esta franquia dar certo foi a benção de Sylvester Stallone, e não só isso, mas também seu conselho de não competir com a franquia “Rocky”, e sim fazer seu próprio filme, seguir sua própria história. Foram essas palavras que tranquilizaram Michael B. Jordan e o motivaram a continuar o legado. No entanto, a ligação com a franquia original é inevitável, sendo que “Creed II” não apenas é uma continuação de seu antecessor, mas forma uma grande vínculo com “Rocky IV”. Este novo filme apresenta Viktor Drago, filho de Ivan Drago (Dolph Lundgren), adversário de Rocky e que foi o responsável pela morte de Apollo Creed (Carl Weathers) no quarto filme. E além desse espelho narrativo, há também a jornada de Adonis de sair da sombra de seu pai, e se tornar grande por ele mesmo.

“Creed” tem seu “próprio DNA”, como afirmou Munteanu, e muito disso se deve ao primeiro filme, comandado pelo cineasta Ryan Coogler, responsável recentemente pelo sucesso de “Pantera Negra”. O diretor e roteirista colocou muito de sua própria história e sua relação com seu pai em “Creed – Nascido Para Lutar”, e quando foi anunciado que ele não retornaria para a sequência, naturalmente houve a preocupação inicial do público em relação ao caráter do projeto. Questionado sobre o assunto pelo CCR, Michael B. Jordan elogiou o talento de Coogler, com quem trabalhou em todos os filmes do diretor, mas garantiu que a qualidade permanece.

“Naturalmente, quando você tira alguém como Ryan do projeto, você perde o que ele poderia oferecer, porque ele é muito especial, é um diretor muito talentoso. Mas não é que você compromete o projeto por isso, mas se cria uma experiência diferente. Steven Caple Jr. (diretor de ‘Creed II’)  também conta suas histórias a partir de um ponto de vista pessoal, ele também é de Cleveland, vem do mesmo lugar que eu e Ryan, ele também fala essa linguagem, ele entende os personagens, a história, os relacionamentos. Ele também traz muito para o projeto. Então, eu acho que só é diferente, o projeto não perde pela ausência de Ryan. Steven coloca sua identidade nesse filme, e você consegue sentir que ele fez do filme algo dele próprio”.

Muito tem sido falado sobre o realismo das cenas de boxe em “Creed II”, e Jordan e Munteanu reforçaram o quanto se dedicaram para que as lutas fossem orgânicas e bem feitas, mesmo que isso rendesse alguns hematomas de vez em quando. Florian, sendo um boxeador na vida real, representou um “pequeno” desafio para Michael, que acabou sofrendo umas pancadas em prol do realismo do filme. Mas ambos sofreram também a pressão de ter nomes como os de Stallone e Lundgren em seus corners, ícones de uma franquia adorada, e seus próprios mentores. Em seu primeiro longa, Florian teve o grande desafio de interpretar o filho de Ivan Drago, mas o astro pôde extrair bastante inspiração de sua própria relação com seu pai, com quem ele divide uma forte conexão pessoal. Além disso, o grande Dolph Lundgren fez questão de estabelecer uma intimidade com aquele que viria a ser seu filho nas telonas, convidando-o para malhar juntos e jantar, em suma, passar um tempo saudável entre pai e filho.

Embora Ivan Drago tenha sido o adversário de Rocky, e Viktor, agora, o de Adonis, eles não são necessariamente vilões. O próprio Apollo Creed já foi adversário de Rocky, e um dos pontos positivos de “Creed” é justamente mudar essa concepção de que antagonistas são personagens maquiavélicos, incapazes de muitas emoções, ou sem uma história própria. Os Drago estabelecem uma relação neste segundo filme, que torna possível a empatia do público, e questionados pelo CCR em relação a julgamentos e obstáculos que tiveram de enfrentar em suas próprias jornadas pessoais, Jordan e Munteanu responderam:

Jordan – “É como o que eu tentei fazer em ‘Pantera Negra’, com Killmonger. As pessoas chamam ele de vilão, eu chamo ele de antagonista, e eu acho que esses personagens são os mais interessantes de se assistir. Você consegue entender o ponto de vista deles, você entende por que ele é do jeito que ele é, não é só alguém enrolando o bigode e tentando explodir o mundo, sabe. Até personagens como o Coringa, por exemplo, até eles têm um ponto de vista que você consegue entender, e eles são os mais interessantes de se assistir. Então pessoalmente, na minha vida, nós todos temos que superar algum tipo de obstáculo, estereótipos ou alguém tentando te colocar em uma caixa, seja de gênero, da cor da sua pele, ou de onde você é. E ser um homem negro, nos Estados Unidos, definitivamente é algo que eu tive superar na frente das câmeras e atrás delas”.

Munteanu – “Eu concordo com ele. Eu fiquei muito feliz de poder mostrar mais do que só músculo, mostrar mais das minhas habilidades. Eu tive a oportunidade de interpretar esse papel com muito coração, muita emoção. Eu estava falando com Dolph sobre isso, inclusive. Ele falou que seu personagem era uma máquina de matar, sem emoções, e ele teve que esperar 30 anos até ter essa oportunidade de mostrar que na verdade ele é um bom ator, e pôde mostrar que tem um grande alcance, e ele me disse que eu deveria estar muito feliz com essa oportunidade, de mostrar ambos os lados, músculo, e emoções”.

Florian ainda mencionou que seu personagem lida com muita raiva e ódio, e ele tentou se conectar com acontecimentos pontuais de sua vida para trazer isso à tona. Michael também acrescentou que Adonis toma muitas de suas decisões baseado no seu egoísmo, e que o personagem ainda tem muito a se desenvolver, não só para seu próprio bem, mas também para sua família. Bianca, personagem de Tessa Thompson, e companheira de Adonis, fica grávida em “Creed II”, e a responsabilidade aumenta bastante para os dois. Mas no final das contas, afirmou a atriz, “o filme é sobre quem está no seu corner, isso que importa, e não a vitória em si”.

Quando conhecemos Bianca no primeiro “Creed”, ela é uma jovem artista que está em busca da fama, mas que também lida com o obstáculo de sofrer de perda progressiva da audição. Música faz parte de sua vida, e Tessa afirma também compartilhar desse amor. No primeiro filme, a atriz colaborou criativamente para o longa, escrevendo letras que vinham de seu coração, sem se preocupar tanto com a forma. Em “Creed II”, para representar seu crescimento profissional, era essencial que ela e Ludwig Göransson, o compositor dos dois filmes, trabalhassem em letras mais comprometidas com a forma, sem, claro, tirar a alma do que Bianca representa.

Os músicos James Fauntleroy e Bibi Bourelly, grandes colaboradores da cantora Rihanna, ajudaram bastante neste processo, e Tessa falou sobre suas inspirações para criar o estilo de voz e movimento para Bianca. Artistas como FKA Twigs, SZA e Massive Attack foram algumas delas, e para Tessa, pessoalmente, Prince e David Bowie serão sempre inspirações diárias para sua vida.

Falando sobre as mulheres que a inspiram, e agem como exemplo a ser seguido, justamente por lidar com tanto em suas vidas, e mesmo assim não desistir, a atriz respondeu ao CCR:

“Várias, e várias que vivem atualmente, como Michelle Obama, e mulheres que não estão mais conosco, como Harriet Tubman, e não só pessoas que têm que lidar com suas próprias lutas pessoais, mas que têm em mente que elas devem tornar as coisas melhores para as outras pessoas também. Elas não só pensam em suas próprias lutas, mas no bem maior, e com o que podem contribuir. Pessoalmente, penso na minha mãe. A questão é que quando você pensa nas mulheres fortes ao seu redor, eu não conheço nenhuma mulher que não seja forte. Toda mulher na minha vida, toda mulher que eu conheço, todas minhas amigas, minha mãe, elas são dinâmicas e equilibram tantas coisas ao mesmo tempo. Então eu acho que é importante que estamos vivendo em uma época em que gritamos a plenos pulmões que queremos ver conteúdo que reflita o mundo em que vivemos, em que vivem várias mulheres dinâmicas, então me sinto grata em viver em mundo que eu possa fazer isso”.

Tessa Thompson também esteve divulgando “MIB: Internacional” no Brasil (e uma entrevista com o Cinema Com Rapadura sairá em breve), e estando em duas franquias que carregam a pressão de levar adiante o manto de ícones adorados pelo público, sentir pressão é natural. Mas também é animador o fato de que o público está aprovando e buscando por mais, e isso se deve, segundo a atriz ao empenho que a equipe tem em abordar temas atuais, para o mundo em que vivemos. “Creed II” já está fazendo sucesso nos países em que estreou, e é esperado que o filme tenha mais sequências. Curiosamente, esta é primeira sequência em que Tessa e Michael B. Jordan trabalham, e questionada pelo CCR sobre como foi essa experiência, a atriz respondeu:

“Eu amo isso, e acho que é muito poderoso. Eu tenho muito orgulho do Mike e eu acho que é muito poderoso ter uma nova franquia que é levada por um jovem homem negro. Então nesse sentido, a ideia de fazer mais filmes é animadora, porque significa que o público está respondendo a isso, e isso leva a mudanças dentro de Hollywood, e até globalmente. Fora isso, é bem divertido, e eu amo trabalhar com Mike e com todos que eu amo, eu amo estar na Filadélfia, eu amo interpretar esse personagem. Mas definitivamente há coisas em que você não pensa. No primeiro filme, nós não sabíamos e nem sonhávamos que iríamos fazer uma sequência, então colocar um personagem com perda progressiva de audição, em um segundo filme, para onde isso nos leva? O que podemos fazer com isso? E quanto a este segundo filme, com o fato de ficar grávida. Tudo que você faz nesse caminho de uma franquia, vai ter consequências no próximo, não é como se você começasse no branco, então é preciso esse pensamento posterior, que você não precisa ter um filme sem sequências”.

Resta aguardar a reação do público ao segundo filme da franquia “Creed”. Sylvester Stallone já afirmou que esta deve ser sua última aparição como Rocky Balboa, pois agora é hora dos novos personagens assumirem o manto. Seja como for, “Creed II” já arrecadou mais de $100 milhões de dólares nos EUA, onde estreou em dezembro e mais $50 milhões de dólares mundialmente.

“Creed II” estreia em 24 de janeiro nos cinemas brasileiros.

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Louise Alves
@louisemtm

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