Cinema com Rapadura

OPINIÃO   segunda-feira, 26 de março de 2007

Deu a Louca em Hollywood

Adotando fórmulas já desgastadas de tentar fazer humor, "Deu a Louca em Hollywood" traz uma história cheia de bobagens, mas daquelas que pouco (ou nada) fazem rir. Além de um enredo deplorável, as paródias com os filmes em questão foram basicamente mal aproveitadas, o que piora ainda mais com a quase inexistente qualidade da trama.

Seguindo a onda de 'comédias que satirizam outros filmes', "Deu a Louca em Hollywood" escolhe filmes como "As Crônicas de Nárnia", "A Fantástica Fábrica de Chocolate", "O Código Da Vinci", "Super Nacho", "X-Men", "Piratas do Caribe 2: O Baú da Morte", dentre outros, para fazer suas piadinhas caracterizadas e criar uma nova leitura das tramas originais. A história é centrada em quatro órfãos não tão jovens: um foi criado por um curador no museu do Louvre (onde um assassino albino está a espreita), outro é refugiado dos lutadores de luta "libre" do México, o terceiro é uma recente vítima de Serpentes a Bordo em seu avião, e o quarto é um residente "normal" de uma comunidade mutante "X". Durante uma visita a uma fábrica de chocolate, os jovens encontram um guarda-roupas que os transportam para a mundo de Gnárnia, onde conhecem um capitão-pirata exibicionista e cuidadosos aprendizes de feitiçaria, além de unirem forças com, entre vários, um leão sábio-mas-cheio-de-tesão para derrotarem a Vadia Branca de GNárnia.

A qualidade das comédias atuais realmente enfrenta um processo lamentável de desgaste. Além de não trazer mais inovações em suas piadas para arrancar boas risadas do público, sem parecer apelativo ou sem criatividade, grande parte dos filmes do gênero perde um possível favoritismo devido a esta constante fase de desgaste. Sempre cheia de maneirismos irritantes, muitas comédias feitas ao nível de entretenimento básico acabam desagradando justamente por se revelarem muito apelativas e por usarem recursos um tanto quanto imbecilizados rotulados de "humor". Usando do formato já visto antes na franquia de relativo sucesso "Todo Mundo em Pânico", este novo projeto começa errando primeiro na tradução ridícula de seu título, mas pelo menos faz jus ao que a película realmente é. Fazendo mau uso do humor pastelão, o filme decepciona também na falta de criatividade do roteiro escrito e dirigido pela dupla Jason Friedberg e Aaron Seltzer, responsáveis também pela desagradável "Uma Comédia Nada Romântica". Invadindo uma temática na qual pouco tem a se fazer, a tentativa de satirizar filmes de sucesso acaba perdendo pontos em originalidade e a dupla fracassa em quase todas as tentativas de demonstrar alguma abordagem nova. Ora, tudo que podia ser feito em sátiras cinematográficas, foi feito nos quatro filmes da franquia "Todo Mundo em Pânico", que também registrou um razoável declínio na sua abordagem, tornando-se pouco interessante.

Friedberg e Seltzer mostram-se inseguros não só ao compor a trama, mas também ao conduzi-la, o que é inaceitável e aponta a falta de talento da dupla. A partir do momento em que alguém escreve uma história, mesmo de baixa qualidade, e assume também a direção, é mais do que necessidade mostrar-se determinado ao registrar os acontecimentos. Talvez por não existir tanta perspectiva na história, acaba sendo inevitável o longa se transformar em uma sacal mudança dos personagens que pouco convence ou agrada. A estratégia do roteiro em tentar harmonizar os filmes parodiados e suas novas versões ridicularizadas acaba sendo frustrada e um ritmo desagradável vai surgindo. Apesar de que em um ou outro momento algumas piadas fazem rir, ainda não satisfaz a idéia de que foi um humor bem empregado e que a película seja, ao menos, interessante. A escolha em optar por dar um foco maior em "As Crônicas de Nárnia" é outro risco que não foi controlado, já que o filme original também não é lá tão competente quanto à produção cinematográfica, ao contrário do que acontece quanto a obra literária. Como se não bastasse o mal aproveitamento dos filmes, a constante aparição de ritmos como hip hop injustificáveis, além das gags de usar imagens estereotipadas que remetem a estrelas como Britney Spears e Paris Hilton, também não conseguem dar a mínima credibilidade à trama. Para piorar, aquela velha idéia de que fazer rir é submeter o elenco em questão a constantes quedas, tropeços, tapas e lutas nonsensicas também estão presentes e, como era de se esperar, não funcionam.

Quanto ao elenco, o rosto carimbado de Kal Penn não consegue tanta liberdade para mostrar-se, pelo menos, bem na pele de Edmund. A falta de expressão e definição de seu personagem toma conta de seus diálogos e nem sempre parecem satisfatórios. O loiro Adam Campbell, um tanto quanto novo no mundo cinematográfico, até traz alguns momentos bons no quesito atuação, mas não passa de um humor mediano que seu personagem carrega. No elenco feminino, Jayma Mays e Faune A. Chambers não mostram o mínimo de química, além desta última ter uma aparente influência das performances de Anna Faris na franquia "Todo Mundo em Pânico", da forma de falar até suas desagradáveis expressões. Mas nem dá para culpar tanto o elenco de tal fraqueza e nem se deve levantar aquela máxima de que em comédias não têm como ter uma boa atuação. Filmes como "Borat" são um exemplo do humor pastelão e escrachado que foi bem desenvolvido pelo roteiro e pela competência de Sacha Baron Cohen. Vale ainda ressaltar a participação da ótima Jennifer Coolidge na pele da vilã de Gnárnia, que parece ter escondido seu talento em outras caixinhas de DVD como no mediano "A Nova Cinderela". Sempre acertando no timing da comédia, Coolidge pareceu um tanto quanto desacreditada do sucesso da produção e não conseguiu uma boa desenvoltura em seu papel.

Apenas mais uma das besteiras que são lançadas todos os anos, "Deu a Louca em Hollywood" não encontra lugar no mercado de sátiras e mostra-se totalmente despreparado para fazer o público rir. Com as diversas gags empregadas durante toda a projeção, a única coisa que talvez mereça um comentário positivo são algumas caracterizações e cenografias que, apesar de bem construídas, ainda perdiam espaço para os besteiróis falados dos personagens. Quem tiver a disposição de ver muita piada sem graça e dinheiro sobrando no bolso, assista. Quem não tiver tanto estômago ou coragem para assistir, alugue um DVD ou escolha outro filme. A chance de se arrepender são praticamente inexistentes!

Diego Benevides
@DiegoBenevides

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