Cinema com Rapadura

OPINIÃO   segunda-feira, 19 de março de 2007

Ponte para Terabítia

"Ponte Para Terabítia" é mais um dos típicos filmes dos estúdios Disney. Mesclando drama com um pouco de fantasia, a obra se volta exclusivamente para o público infantil, em uma história fraca, porém agradável.

Há algum tempo não via no cinema um exemplo de filme genuinamente ingênuo. Ultimamente nem mesmo as animações, que são voltadas tradicionalmente para o público infantil, têm escapado das infames piadas adultas e conotações sexuais. Mesmo o público adulto parece estar desacostumado com esse tipo de produção, já que, durante a exibição de "Ponte Para Terabítia", comentários insinuando um envolvimento concupiscente entre o casal de protagonistas pré-adolescentes podiam ser ouvidos durante toda a projeção. Entretanto, esse novo trabalho dos estúdios Disney em nenhum momento demonstra algum tipo de malícia, e é nesse fato que reside o maior mérito do longa. Apesar de restringir essencialmente o seu público, "Ponte Para Terabítia" garante um entretenimento mais do que saudável para os pequenos.

Fundamentalmente clichê, o filme conta a história de como Jesse (Josh Hutcherson), um menino humilde que vivia sob uma rigorosa criação familiar, encontra na sua amiga Leslie (Annasophia Robb), uma "ponte" para experimentar um mundo de fantasia lhe negado durante sua infância. E a amizade crescente dos dois dá vazão as mais criativas idéias provindas de suas férteis mentes, possibilitando-os criar um mundo totalmente novo e particular, repleto de aventuras e criaturas fantásticas, o qual eles chamaram de Terabítia. Achando coragem para enfrentar as criaturas maléficas de Terabítia, Jesse encontra no mundo imaginário um modo de aumentar sua auto-estima e enfrentar os problemas vividos no colégio e em seu lar.

Certamente "Ponte Para Terabítia" funcionaria melhor como um filme para televisão. Sem aproveitar as suas quase 2 horas de duração, o filme desiste de seguir uma trajetória linear para contar acontecimentos esparsos, não ficando exatamente clara uma divisão em começo, meio e fim, o que é típico de produções televisivas, que são constantemente interrompidas por intervalos comerciais. Além disso, o roteiro se utiliza de alguns mecanismos para disfarçar sua fragilidade, como o acontecimento extremamente maniqueísta que acontece no terceiro ato da história (estou aqui forçosamente dividindo-a em atos), com o fim específico de levar seus espectadores às lágrimas. Outra forma de distrair o espectador do frágil roteiro é incluir uma personagem mirim extremamente cativante (a exemplo de "As Crônicas de Nárnia"), no caso a pequena atriz Erin Ennis.

"Ponte Para Terabítia" também se mostra despretensioso em relação a conceitos artísticos. Sem uma preocupação em apresentar uma fotografia elaborada ou uma direção mais coesa, o filme novamente lembra uma produção televisiva e, conseqüentemente, mais descuidada. Porém vale destacar o mérito dos efeitos especiais ao criar as criaturas fantásticas de Terabítia (que, ao contrário do que se possa imaginar, aparecem muito pouco no longa) e também o talento do jovem elenco, especialmente do seu casal de protagonistas (o único nome conhecido do filme é Robert Patrick, que parece contentar-se com papéis coadjuvantes).

Apesar dos defeitos, "Ponte Para Terabítia" é um filme agradável e inofensivo. Se você não tiver filhos pequenos, espere para assisti-lo na televisão em uma tarde chuvosa, porque certamente será muito mais proveitoso.

Diego Coelho
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