Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 17 de março de 2007

Dreamgirls – Em Busca de um Sonho

"Dreamgirls – Em Busca de Um Sonho" é basicamente um show de belas vozes e plástica impressionante. No quesito prático, no entanto, ele se mostra um tanto superestimado e acaba deixando a desejar em diversos aspectos.

De uns tempos para cá, em Hollywood, parece ter resurgido a moda de produzir musicais e "Dreamgirls" vem nessa esteira se apoiando num roteiro baseado em acontecimentos reais. O elenco quase impecável no que diz respeito à atuação e desempenho vocal, no entanto, parece ofuscar o conteúdo propriamente dito da produção, que se mostra um tanto fraca diante da repercussão que veio tendo desde seu lançamento nos Estados Unidos. A impressão que o filme deixa é que, no intuito de exibir estrelas e números espetaculares, outros aspectos primordiais foram deixados um pouco de lado, como o roteiro e a própria condução da trama.

Tudo gira em torno da história do grupo de moças cantoras inicialmente intituladas de "The Dreamettes". O que elas desejam é apenas uma chance de mostrar seu talento e poder viver do que sabem e gostam de fazer. Eis que, numa certa noite de apresentações, o trio chama a atenção de Curtis Taylor Jr., empresário musical, que as coloca no privilegiado posto de backing vocals do cantor do momento, James "Thunder" Early. O que acompanhamos a partir daí é a trajetória de sucesso do grupo, permeada por perdas e conflitos internos e externos. Effie, a líder do trio e visivelmente dona da mais poderosa das vozes, é substituída no seu posto por Deena, a mais bela das três, abandonando o conjunto logo depois por não se conformar com a decisão. Os altos e baixos das relações interpessoais dos protagonistas, dessa forma, se mostram o foco principal do longa.

Baseado na história da famosa banda "The Supremes", que chegou ao estrelato sob a liderança da cantora Diana Ross, "Dreamgirls" não falha na intenção de retratar a atmosfera artística musical dos anos 60 nos Estados Unididos. Num momento em que um fervilhão de inovações surgia no mundo da música, tudo parece estar bem sincronizado com o contexto. No entanto, se melhor observado, o filme também se mostra diversas vezes mais atual do que possa parecer, como se faz claro na passagem em que o personagem de Jennifer Hudson é preterido em favor de uma moça mais "bela" e menos talentosa. A ditadura da aparência é abordada como ponto de cisão crucial para o desenrolar do resto da história.

Dentre os nomes que merecem destaque em uma breve análise do elenco, está sem dúvida a já citada Hudson, que a princípio causou estranhamento por ser uma completa novata no ramo da atuação, ocupando um papel de tamanho destaque em uma produção cinematográfica. Não apenas a poderosa voz da cantora conseguiu se sobressair, mas também o mergulho que fez no personagem, encarnando Effie White de uma forma quase visceral. Beyoncé Knowles, que também já foi alvo de muito preconceito em sua primeiras exepriências no cinema, merece ter aqui seu sucesso reconhecido, estando bastante bem em seu papel. Dentre os outros integrantes do elenco, ainda podemos citar Jamie Foxx, se mostrando um talento cada vez mais em ascensão e até mesmo Eddie Murphy, que tenta se livrar do estigma de comediante no papel de James Early, talvez o mais denso de sua carreira até então.

Apesar de reunir talentos competentes e intérpretes completamente à vontade em seus papéis, "Dreamgirls" parece se descuidar num quesito crucial para o sucesso de um longa: a direção. Durante as mais de duas horas de projeção do filme, nos pegamos diversas vezes à procura de um fio condutor para a história. Desde o começo da trama, a impressão que fica é que estamos sendo bombardeados por uma série de acontecimentos que parecem não estar coordenados entre si. Ainda no âmbito desta mesma falha, "Dreamgirls", por vezes, parece estar arrastado demais, cansando o espectador. Apesar de trazer músicas belíssimas com interpretações igualmente admiráveis, a própria história também deixa a impressão que poderia ter dispensado alguns destes atos, sem maiores prejuízos.

Pelo bom argumento da produção, apesar de tudo, deve-se dar uma chance ao filme, que traz, sem dúvidas, um show vocal e visual. Quem espera uma extraordinária obra, baseado na repercussão que o filme teve em festivais e premiações, no entanto, deve saber que nem tudo é exatamente um sonho em "Dreamgirls".

Amanda Pontes
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