Cinema com Rapadura

OPINIÃO   domingo, 25 de fevereiro de 2007

Borat – O Segundo Melhor Repórter do Glorioso País Cazaquistão Viaja à América

Com um humor satírico e altamente escrachado, "Borat" agrada por se diferenciar dentro da gama de filmes cômicos lançados atualmente. Quem espera algo extraordinário, no entanto, terá que se contentar com apenas uma boa produção do gênero.

O nada prático título "Borat – O Segundo Melhor Repórter do Glorioso País Cazaquistão Viaja à América" já sugere o que está por vir: um filme com nenhum compromisso com a seriedade, cujo roteiro se utiliza dos mais inesperados artifícios para gerar o humor. O resultado é exatamente isso. Como muitos já esperavam, devido à exaustiva exibição do trailer, "Borat" traz uma trama um tanto quanto nonsense, que na verdade acaba mascarando uma série de críticas ao comportamento e conduta americana quanto à política internacional. Baseado numa idéia do ator Sacha Baron Cohen, que interpreta o protagonista e já tem certa experiência em criar personagens caricaturados, o filme inova ao trazer um tipo de humor original e esse é, definitivamente, seu maior atrativo.

Borat Sagdiyev é um repórter do Cazaquistão que é enviado aos Estados Unidos como objetivo de aprender mais sobre a cultura americana e repassar o aprendizado aos seus conterrâneos depois. Nessa missão, o choque de culturas acaba gerando situações no mínimo pitorescas para o protagonista que, para completar, ainda se apaixona pela atriz Pamela Anderson e parte em uma viagem à Califórnia para poder encontrá-la. A aparente inocência de Borat aliada à falta de conhecimento do repórter sobre a cultura americana são suficientes para ser o ponto de partida para todos os momentos cômicos do filme, que não são poucos.

Podemos dizer que a concepção do filme se deve a um nome em destaque: Sacha Baron Cohen. O ator britânico ganhou fama (embora não seja tão conhecido no Brasil) através de um programa em que interpretava vários tipos estereotipados, dentre eles, Borat. Como já havia feito com outra criação sua, o rapper Ali G, Cohen decidiu que esse seria um personagem com potencial para ser mais explorado e aí nasceu a idéia do filme. A partir daí, uma idéia mais ousada passou a ser base para as filmagens: o ator usaria o personagem de uma forma realista, interagindo com pessoas reais, que não sabia que tudo se tratava de um filme. Ponto para o longa!! Dessa forma, o ar realista da reação das pessoas às atitudes de Borat constituem um dos fatores mais interessantes do longa. Nem os 91 chamados à polícia vindos dos habitantes de Nova York assustados com o personagem foram obstáculo para Cohen, que não largou a performance de Borat nem durante os interrogatórios a que foi submetido por estar rondando a Casa Branca durante as filmagens.

De acordo com o conceito adotado, no entanto, o elenco é praticamente constituído pelo intérprete do protagonista e seu amigo, vivido por Ken Davitian, com quem Cohen atua em uma das mais grotescas cenas do longa. Os demais personagens ficam por conta dos cobaias do ator, o que acaba rendendo boas situações. A liberdade de roteiro, no entanto, só pôde certamente ser sustentada devido a pouca duração do longa, apenas 84 minutos.

A utilização de uma imagem aparentemente proveniente de uma câmera amadora também contribui para criar uma atmosfera de improviso. As tomadas irregulares e as movimentações mal cuidadas deixam a impressão que a produção é precária, adequando-se à idéia do filme. Apesar de tudo, com vários pontos positivos, "Borat" não chega a ser um marco na história da comédia. Talvez devido à publicidade exacerbada destinada ao longa, muita expectativa tenha sido gerada em torno da produção, que acabou não suprindo os anseios dos que esperavam algo extraordinário.

Dentro do que se propõe, no entanto, o filme rende, sim, várias boas risadas, fugindo das comédias tão apagadas e sem qualidade que costumamos ver no cinema. Pelo inusitado e o original, vale a pena conferir.

Amanda Pontes
@

Compartilhe

Saiba mais sobre