Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sexta-feira, 16 de março de 2007

Pele, A

Um excesso de lentidão e cansaço marcam a história de “A Pele”, filme que poderia desenvolver de maneira muito mais satisfatória uma trama romântica, mas acaba caindo em alguns erros maçantes e que, com certeza, seriam facilmente evitados com mais objetividade e simplicidade.

Em “A Pele”, o publico é apresentado a uma narrativa baseada em uma história real protagonizada pela bela Diane Arbus (Nicole Kidman). Ela é casada com um fotógrafo e o ajuda como sua assistente. Além disso, ela ainda tem tempo para ser mãe e precisa lidar com a indiferença de seus pais para com a sua vida. Assim, durante muito tempo, ela procura um sentido para sua vida, que era perfeita apenas aparentemente. É quando ela conhece o seu novo vizinho, o misterioso Lionel. Inicialmente, a moça mostra-se um tanto quanto intimidada e assustada, mas não pode evitar o seu desejo incessante por mergulhar profundamente na vida misteriosa do rapaz. Assim, encorajada por seu marido, ela decide começar a fotografar e sua primeira obra seria sobre o novo vizinho. No entanto, o tempo passa e Diane começa a mostrar-se cada vez mais atraída e envolvida com Lionel. Assim, uma intrigante história começa a dominar a vida dela, que precisa lidar com as conseqüências de sua nova “amizade”, seus desejos reprimidos, a pressão e os compromissos do casamento, seu amor pelo marido e, além de tudo, uma forte paixão que mexe com sua mente e seu coração.

Com um roteiro interessante, mas cansativo, “A Pele” não acrescenta nada de muito inovador. Romântico, com uma trama que chama a atenção do espectador, o longa se assemelha em alguns aspectos a “Pecados Íntimos” pelo desejos mórbidos e estranhos das personagens ou até mesmo a “Infidelidade” pela temática e sensualidade sugestivas. No entanto, demora muito para “mostrar ao que veio”. Não há nada que mantenha o público muito atento pelo final a não ser a temática que, de certa forma, até que foi bem abordada. Faltou inovação e criatividade para os roteiristas. Se vale de “consolo”, para o que se propõe, o longa acaba sendo desenvolvido de maneira simples e comum, não fazendo tão feio assim. Vale dizer que faltou ainda originalidade se analisarmos o fato de o tema ser algo um tanto quanto desgastado, por se tratar novamente de casos extraconjugais, a fuga da realidade entediante e sufocante e ainda a busca pelos sonhos mais profundos e íntimos. Não que seja um assunto fraco, mas que poderia ser retratado de maneira mais agressiva para conseguir talvez uma melhor qualidade.

A direção de Steven Shainberg chega a ser agoniante e entediante em alguns momentos. Com certeza, é admirável a maneira como o diretor trabalha os objetos cênicos e os detalhes minuciosos que compõe a cena (como por exemplo o plano utilizado para focar os sapatos de Diane). No entanto, o diretor não consegue conduzir impecavelmente a trama a ponto de não fazer com que a história torne-se monótona. É satisfatório a maneira como Shainberg traz o teor de melancolia e sentimentos diversos decorrentes da trama para tocar o espectador, mas faltou eficiência para a direção conseguir tornar a história mais atraente e menos maçante. Assim como diversos outros aspectos do longa, faltou ao cineasta a objetividade já que, em determinados momentos, houve um exagero na tentativa de tornar belo os sentimentos decorrentes das respectivas cenas e das personagens em geral.

Para o que foi requisitada, a equipe técnica em geral não deixou a desejar, mas também não foi nada de espetacular. Para entender o que digo, basta reparar basicamente a maquiagem de Robert Downey Jr. Através de uma comparação esdrúxula, podemos ver o ator na pele de Michael J. Fox em “O Garoto do Futuro”, onde o até então novato interpretou um adolescente lobisomem jogador de basquete em sua escola (Ah…Viva a “Sessão da Tarde”!). Para quem não se lembra da tal personagem, resumirei em poucas palavras. Downey Jr. aparenta ser mais um lobisomem de filme infantil do que mais exatamente uma pessoa que sofre da tal doença descrita no filme. No entanto, nada disso afeta ou chega a ser preponderante no decorrer do longa ou até mesmo nas cenas, chegando a ser aceitável e totalmente irrelevante. Vendo de um aspecto geral, pode-se dizer que um pouco mais de “energia” ou “vivacidade” viria bem a calhar para a equipe técnica, fator que traria assim mais harmonia para o desenvolvimento da trama.

Quanto ao elenco de “A Pele”, nada de muito sensacional. Nicole Kidman está beirando o comum e não chega a ser nada de tão emocionante. Não que esteja ruim, de maneira alguma. Apenas digo que esta atuação definitivamente não figura entre melhores de sua carreira. Talvez um pouco mais de agressividade para explorar a personagem em momentos que ela “ultrapassava a barreira da coragem” (por assim dizer) seria muito oportuno, já que cenas como essa era notória a mudança de personalidade de Diane. Robert Downey Jr. não teve muito trabalho para incorporar sua personagem. Pelo menos foi o que o ator aparentou, podendo ser visto no mesmo nível de Nicole. O ator soube como trazer para a trama e para o espectador o teor certo de mistério, indagação, inteligência e sensualidade. No entanto, nas cenas que exigiam uma certa “vivacidade” a mais de sua personagem, o ator mostrava-se muito preso na melancolia e na tristeza característica de Lionel. Assim, a dupla de protagonista pode ser classificada como “boa, mas poderia ser melhor”. Junto a ele está Ty Burrell, que interpreta o marido de Diane. Nada de muito chamativo ou digno de destaque, exceto por alguns momentos que conseguem alcançar uma certa superação, como a irônia e a comicidade de quando a personagem passa a deixar sua barba crescer para chamar a atenção da mulher (dentre outras cenas) e ainda a revolta com a situação desenvolvida entre Diane e Lionel. É perceptível a melhor atuação do ator em momentos de conflito ou agonia. Em geral, o elenco apresentou algumas falhas. Talvez pela falta de controle da direção, talvez pela escassez de mudanças mais significativas de personalidades ou situações que pudessem mostrar o talento dos atores. No entanto, seria hipocrisia dizer que não há talento em atores como Nicole Kidman e Robert Downey Jr. por causa de algumas pequenas falhas em “A Pele”.

Cansativo e maçante, “A Pele” pode ser considerado como um bom romance e nada mais. Poderia ter se saído muito melhor se não fossem por alguns fatores um tanto quanto negativos que chegam a incomodar e fazer com que a qualidade do longa seja um pouco comprometida. Não chega a ser um filme ruim, pois aspectos positivos como a qualidade dos atores e alguns momentos de conflito da trama (dentre outros) fazem com que o romance torne-se interessante, mesmo que cansativo. Assim, seis estrelas são capazes de enaltecer alguns fatores que considerei interessantes e dignos de elogios e retratar meu ponto de vista de um filme que, honestamente, esperava mais.

Ícaro Ripari
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